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América Latina: quintal do imperialismo

Em um turbulento cenário nacional e internacional, ocorreu no último dia 20 de maio, a eleição presidencial venezuelana. Conforme esperado, o presidente Nicolas Maduro, sucessor de Hugo Chávez, foi reeleito com mais de 68% dos votos – dos 9.132.655 venezuelanos que participaram da eleição, 6.224.040 votaram em Maduro. Uma vitória maiúscula, elástica, em um cenário de total boicote imperialista à Venezuela.
Porém, como vem sendo a tônica, o resultado das urnas não é suficiente para conter o imperialismo quando esse sente que seus interesses estão sendo ameaçados pelas realidades nacionais do terceiro mundo.

Numa política golpista, quando julga necessário, os grandes capitalistas agem por trás dos bastidores, principalmente a partir dos poderes judiciários, normalmente se utilizando da hipócrita alegação de “combate à corrupção”, com o objetivo de ir além da simples vontade popular e colocar no poder governos marionetes, como o caso de Michel Temer, no Brasil.

Esta política, ao menos em termos de propaganda, já é uma realidade que deverá ser enfrentada por Nicolas Maduro. Os principais meios de comunicação da imprensa golpista brasileira, leal aliada ao imperialismo, já noticiam fictícias ilegalidades nas eleições venezuelana. Veiculam, aos quatro ventos, que a eleição foi esvaziada e que os candidatos de oposição estão exigindo novo pleito eleitoral.

Além da política de propaganda golpista, o imperialismo, diplomaticamente, já está tentando minar o governo de Maduro, antes mesmo dele efetivamente começar – algo inclusive muito parecido com o que ocorreu no Brasil com a presidenta legalmente eleita, Dilma Rousseff. Os Estados Unidos anunciaram no próprio dia 20 de maio que não irão reconhecer os resultados das eleições presidenciais venezuelanas. Outros países do continente americano, o chamado Grupo Lima, que incluem Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru, firmemente controlados pelo imperialismo, anunciaram que chamarão à consulta seus embaixadores em Caracas como sinal de "protesto" pelas supostas irregularidades no processo eleitoral.

De maneira hipócrita, a Rede Globo, por meio do seu principal jornal televisivo, afirmou que não haveria legitimidade em uma disputa eleitoral que houvesse candidatos de oposição presos. Ocorre que a mesma Rede Globo foi a principal impulsionadora da política contra Lula, no Brasil, e que levou à prisão política do ex-presidente, o que, provavelmente, irá tirá-lo da disputa eleitoral.

O fato é que, embora o grande capital seja inventivo, ele sabe quando uma política funciona a seu favor e não deixa de usá-la sempre que é necessário. Este processo que está se iniciando contra Maduro já ocorreu com presidentes legalmente eleitos no Brasil, Coreia do Sul e África do Sul, com a particularidade de sempre cuidar de aproveitar a crise política para quebrar também algumas empresas competidoras no mercado internacional. No caso da Venezuela, o interesse imperialista se concentra no petróleo, principal produto regional. A intenção, com a queda de Maduro, é colocar mais um governo dócil à presença imperialista, que entregue as riquezas naturais venezuelanas praticamente de graça.



Eleições na Colômbia



Neste mesmo panorama turbulento, a Colômbia está em processo eleitoral.  No primeiro turno, a polarização do cenário político se tornou evidente. Ivan Duque, político de direita, obteve 39,1% dos votos no primeiro turno. Com uma política entreguista, defende medidas neoliberais no campo econômico e não é favorável a continuar acordos de paz com grupos como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). O seu concorrente, Gustavo Petro, ex-combatente do grupo de esquerda M-19, que teve 25,1% dos votos, defende programas sociais, democratização das políticas públicas e tem projetos de paz para a Colômbia. Foi a primeira vez que um candidato autodeclarado de esquerda chega ao segundo turno na Colômbia.

De fato, a questão das FARCs ocupou um papel central nas eleições colombianas, a primeira em 50 anos que ocorre sem ameaças proferidas por este grupo. Os conflitos, ao longo de meio século, já deixaram mais de 220 mil mortos. Uma situação muito parecida com os conflitos contra o tráfico no Brasil. Não é coincidência que essas eleições estejam ocorrendo sem ameaças, afinal, as últimas ações governamentais colombianas caminharam justamente na tentativa de assegurar alguma “paz” com o agrupamento. A continuidade dos combates continuará gerando vendas para a indústria armamentista, fortalecendo um lobby controlado pelo imperialismo.

O pleito eleitoral depende muito do apoio que será dado pelo terceiro colocado, Sergio Fajardo, representante do centro. Fajardo se apresentava como uma alternativa aos pontos extremos representados por Duque e Petro. Especula-se que será este o fator decisivo para o resultado final. Mesmo se Gustavo Petro conseguir ganhar as eleições, conforme está sendo demonstrado pelo imperialismo, isso em nada garante que ele efetivamente irá governar o país. O filme, que parece estar se repetindo com Maduro, poderá ter também uma versão colombiana. A democracia burguesa está demonstrando claramente todas as suas limitações.



Acirrar a consciência de classe


A tática que aparentemente está sendo adotada por Nicolás Maduro parece ser a conciliação com sua oposição, com justificativas que perpassam pela crise instaurada na Venezuela. Conforme declarou o presidente, “solicito a Henri Falcón, Javier Bertucci [candidatos derrotados no pleito] e todos os líderes da oposição, que nos reunamos, nos encontremos e falemos da Venezuela, convido-os aqui e assumo a responsabilidade deste chamado”. Essa, obviamente, não é a melhor tática a ser levada adiante. O momento é de acirrar a consciência de classe do proletariado latino-americano, demonstrar que a crise que passa o continente ocorre justamente por causa dos ditames imperialistas. É necessário procurar parceiros regionais que auxiliem na sobrevivência nesse primeiro momento de maior dificuldade e barganhe no mercado internacional com o petróleo.

No caso de Gustavo Petro, a imprensa burguesa brasileira, que condena Maduro, já começa também a tentar prejudicar sua imagem. Fala-se que o candidato colombiano é um ex-guerrilheiro e, por isso, irá beneficiar as FARC em detrimento do povo colombiano. Mais que isso, falam que mesmo se for eleito, Petro não conseguirá apoio no Congresso para as suas políticas. Ou seja, como bons lacaios do imperialismo, o Partido da Imprensa Golpista (PIG) boicota o candidato progressista antes mesmo do fim do pleito eleitoral.
Interessante notar que em ambas as eleições, o PIG chama a atenção para uma baixa participação popular no pleito eleitoral. Tanto na Venezuela quanto na Colômbia, a votação é facultativa. Convenientemente, afirma que isso é uma mostra da falta de representatividade dos candidatos que quer boicotar. Porém, não seria a própria representatividade da democracia burguesa que está em cheque?

As lideranças de esquerda latino-americanas e mundiais devem, em geral, disputar os pleitos eleitorais. Afinal, os revolucionários devem estar onde estão as massas. Porém, a população latino-americana, sempre espoliada pelo imperialismo, já tem uma experiência secular com as eleições burguesas e sabe muito bem que ela não resolve os seus problemas. É necessário o passo adiante, revolucionário, que rompa com as regras do jogo ditadas pelo capitalismo e busque a conformação da sociedade socialista.

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