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EUA ataca amamentação materna

Para favorecer a indústria de alimentos para bebês, que movimenta cerca de US$ 70 bilhões por ano, os EUA se posicionaram contra a Resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que incentiva a amamentação materna. Tal debate foi apresentado em uma reunião da Assembleia Mundial de Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS), que aconteceu em maio. Dentre as medidas previstas pela Resolução estava que os países deveriam se esforçar para limitar o marketing impreciso ou enganoso dos substitutos do leite materno, além de “proteger, promover e apoiar” o aleitamento materno.

Além de se colocar contra a Resolução, os EUA, numa clara tentativa de ingerência, ameaçaram os países dependentes de retaliação, inclusive com sansões comerciais. Diversos países relataram as ameaças sofridas e ao menos seis países da África e da América Latina evitaram a medida por medo. No caso do Equador, autor da resolução, houve ainda a chantagem de retirada da ajuda militar por parte dos EUA.

Depois das intimidações, o Equador desistiu de apresentar a resolução, o que acabou por ser feito pela Rússia. Uma matéria divulgada no jornal New York Times cita mais de uma dúzia de participantes que denunciaram as censuras, mas que pediram anonimato por medo de retaliação dos EUA.  A investida contra a Resolução foi tão grande que delegados americanos chegaram a sugerir que o país cortaria seu apoio financeiro à Organização Mundial de Saúde.

A posição dos EUA é sem dúvidas um atentando contra toda a humanidade, não apenas contra as mulheres, inclusive contra o desenvolvimento científico, uma vez que a Resolução sobre o aleitamento se baseia em décadas de pesquisas que comprovam que o leite materno é mais saudável para as crianças. A diretora de políticas da organização Baby Milk Action, Patti Rundall, participante da assembleia da OMS, afirmou em entrevista que o que se viu na reunião foi uma chantagem por parte dos EUA, com o país “fazendo o mundo refém e tentando derrubar quase 40 anos de consenso sobre a melhor forma de proteger a saúde de bebês e crianças pequenas”.



O velho cinismo de sempre



Como sempre, os governos burgueses utilizam-se de uma retórica cínica e mentirosa para atacar os direitos da população. Foi o que fez o porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (DSSH) dos EUA, ao afirmar que o boicote proposto se dava em nome de uma suposta “preocupação” com as mães, já que, segundo ele, a resolução original "colocava obstáculos desnecessários para as mães que buscam fornecer nutrição para seus filhos". Traduzindo: a defesa do aleitamento materno, além de prejudicar os lucros da indústria de alimentos para bebês, dificulta a vida dos empresários que querem reduzir ou acabar de vez com a licença maternidade. Assim, para eles, é preciso assegurar que as mulheres trabalhadoras retornem à empresa logo após “dar à luz” e que “não perca tempo” amamentando seus rebanhos.

O posicionamento agressivo dos EUA e as ameaças contra o aleitamento materno não têm, obviamente, nada a ver com nenhum cuidado genuíno em relação às mães e seus filhos. Ao contrário, esta foi mais uma defesa ferrenha dos interesses dos grandes capitalistas. Para a diretora executiva da organização “1.000 days”, Lucy Sullivan, cujo objetivo é melhorar a nutrição de bebês e crianças no mundo, a intervenção americana na assembleia se resume a “saúde pública versus lucro privado". O jornalista do New York Times, Andrew Jacobs, deu declarações afirmando que apesar de ser difícil falar com certeza o que motivou a delegação americana a se colocar contra a resolução, a indústria do leite artificial e outros alimentos para bebês parece estar por trás da oposição. Na reportagem, Jacobs diz que o conflito foi o exemplo mais recente do alinhamento do governo Trump com os interesses empresariais em uma longa lista de outras questões ambientais e de saúde pública.

Ao final da assembleia, os EUA não conseguiram barrar boa parte do texto da Resolução, mas, ainda assim, conseguiram modificar o trecho que afirmava que a OMS daria suporte técnico aos países que buscassem enfrentar a promoção inapropriada de alimentos para crianças. Como se vê, a grande preocupação do governo norte-americano é com a defesa dos interesses dos grandes empresários da indústria alimentícia.



É preciso resistir



De acordo com a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a alimentação dos bebês com leite materno pelos dois primeiros anos pode salvar a vida de mais de 820 mil crianças. O aleitamento materno na primeira hora de nascimento protege os recém-nascidos de infecções, enquanto que a amamentação exclusiva por seis meses evita doenças gastrointestinais e a desnutrição, males que estão presentes não apenas nos países em desenvolvimento, mas também nos desenvolvidos.

Segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, “o fato de uma criança ser amamentada ou não pode fazer a diferença entre a vida e a morte e em seu desenvolvimento”. Como se vê, defender, proteger e incentivar o direito da mulher de amamentar seu filho é essencial para a sociedade. Se efetivamente houvesse uma preocupação com o “direito a vida”, as mães que desejam amamentar seus filhos deveriam receber todo o apoio por parte do Estado, que teria obrigação de assegurar o sustento dessas mulheres. Mas, no sistema capitalista, maternidade é sinônimo de “prejuízo” e redução de lucros. Não por acaso, as mulheres, em conjunto com os negros, estão no topo da cadeia dos explorados, ficando com os piores postos de trabalhos e recebendo salários inferiores, mesmo quando cumprem a mesma função.

De fato, o próprio sistema capitalista só sobrevive da exploração cada vez mais intensa da classe operária e as mulheres, por representarem mais de 50% da população, sempre são as mais atacadas. Em momentos de agravamento da crise capitalista as investidas contra os direitos da classe trabalhadora e das mulheres se tornam mais intensas, sempre na tentativa desesperada de salvar os lucros dos grandes monopólios.

Fica claro, portanto, que as mulheres em todo o mundo devem travar uma luta, em conjunto com a classe operária, não apenas por suas bandeiras democráticas, mas, também e principalmente, pela derrubada do capitalismo, sistema que sobrevive da exploração. É preciso resistir aos ataques e lutar pela implantação de um novo sistema de governo, onde haja igualdade de direitos sem distinção de raça, cor e sexo: o socialismo. Apenas assim as mulheres poderão viver sua maternidade plenamente e, ao mesmo tempo, se livrar das amarras da escravidão doméstica.

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