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UNE: Combate ou Carguinhos a Qualquer Custo?

Foi realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, entre os dias 14 e 18 de junho de 2017, o 55º Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE). Essa foi a terceira vez que a cidade recebeu o Congresso, que é o fórum máximo dessa que é a maior organização estudantil do Brasil. Seguindo a tônica dos últimos anos, a maior força política em termos numéricos no CONUNE foi a União da Juventude Socialista (UJS), com 2022 delegados, movimento com ligações umbilicais com PCdoB. Esse número é quatro vezes maior que a segunda força política, o Levante Popular da Juventude, que levou 548 delegados e mais que o dobro das cinco frentes do PT, que somaram 851 delegados.

As cinco chapas que concorreram no congresso da UNE foram a Chapa “Frente Brasil Popular: A unidade é a bandeira da esperança” (Campo Majoritário: PCdoB-UJS / PT - Democracia Socialista / PT - Articulação / PT - O Trabalho / Levante Popular da Juventude); a chapa "Fora Temer, rumo à greve geral contra as reformas" (Campo da Oposição de Esquerda: MES-Psol / CST-Psol / 1° de maio-Psol / Esquerda Marxista - Psol/ Insurgência-Psol / MAIS / PCB / PCR e demais satélites menores do Psol); a chapa "Vem que a UNE é nossa” (Campo de Oposição da Direita: PMDB / PSDB); a chapa “Fora Temer, eleições gerais já. Mutirão na UNE” (Campo Mutirão: PPL / PSB) e a chapa “Reconquistar a UNE: por nenhum direto a menos, fora Temer, diretas já!” (O que restou do Campo Popular: Articulação de Esquerda e grupos minoritários). Obviamente, por possuir a ampla maioria dos delegados, a Frente Brasil Popular venceu a disputa política e saiu vitoriosa também nas teses de Conjuntura, movimento estudantil e educação. A tese de conjuntura aprovada, intitulada “A unidade é a bandeira da esperança – venceremos nas ruas”, indica que a UNE deve ter como pontos fundamentais as campanhas de "Fora Temer” e pelas “Diretas Já!", bem como pela construção das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, sendo que essa última é hegemonizada pelo PSOL, indicando certa aproximação entre a Majoritária e o Campo da Oposição de Esquerda.


Direção da UNE mantém o peleguismo na veia

A UNE foi criada no dia 11 de agosto de 1937, no Rio de Janeiro, com o objetivo de construir uma entidade máxima dos estudantes. A partir daí, teve importantes atuações na política brasileira, como o combate aos fascistas no Brasil, durante o governo de Getúlio Vargas, e a resistência extensiva durante o período da Ditadura Militar, onde operou na clandestinidade e teve inúmeros membros presos, torturados e mortos. Também atuou diretamente no movimento pelas “Diretas Já”, ao fim da Ditadura Militar, no amplo movimento que levou ao impeachment de Fernando Collor, em 1992, e em movimentos contrários ao projeto neoliberal do governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Durante a aplicação do chamado “neoliberalismo” no Brasil, as sucessivas direções da UNE aderiram à política da “frente popular” (conciliação de classes com alas mais fracas de burguesia), encabeçada pelo PT. 

De 2003 em diante, após a ascensão do Partido dos Trabalhadores ao governo, assim como a CUT, o MST e a maior parte das organizações sociais, a UNE se tornou um dos organismos que passaram a atuar como uma espécie de “colchão de contenção” da insatisfação popular, de desvio de foco da luta e paralisando o movimento estudantil. A título de exemplo, a direção da UNE traiu o movimento da ocupação da Reitoria da USP, em 2007, que lutava contra os ataques promovidos pelo governo estadual do PSDB. Durante esse embate, a burocracia estudantil tentou espalhar uma campanha de pânico, terror e aflição em que, com um tom de chantagem, defenderam a proposta de desocupação da Reitoria como única medida que poderia “evitar a invasão da PM e assegurar conquistas mínimas como a não punição dos estudantes”, pondo fim a uma ocupação de 51 dias. 

O próprio site da UNE demonstra claramente que não há nenhuma intenção de se fazer críticas ao PT. A parte da página que descreve a história da Instituição faz quase uma ode à Lula: “Em 2002, uma grande coalizão das forças populares e democráticas do Brasil conduziu o metalúrgico e sindicalista Luís Inácio Lula da Silva à presidência do País [...] os estudantes reabriram o canal histórico de interlocução com o governo federal”. O trágico? Esse “canal de interlocução” com o governo se configurou como troca de favores: em troca de cargos políticos e concessões à burocracia estudantil, a UNE atua sempre a favor governo. A política de frente popular permanece até hoje. Não há uma oposição de verdade dentro da UNE, tanto é assim que a “oposição a esquerda”, hegemonizada pelo PSOL, se aproximará da corrente majoritária para angariar apoio para a Frente Povo sem Medo.


“Diretas Já” mantém a capitulação à burguesia

Em um momento de retirada brutal dos direitos dos trabalhadores e dos estudantes, a preocupação maior da recém-eleita direção da UNE é burocrática e eleitoreira. Como coloca a nota do Coletivo Quilombo, que exerceu papel central na chapa vitoriosa: “as falas na plenária final do coletivo fazem a defesa de um modelo educacional emancipatório, da democracia e da nossa candidatura: Lula”. Ora, a educação está sendo privatizada a toque de caixa pelo governo golpista, aqui e agora, e a UNE irá se preocupar com uma eleição – que é possível que não aconteça – no próximo ano? 

A campanha da UNE é eleitoreira, em troca de “carguinhos”. Além disso, caem no jogo político da direita. Não é à toa que o PCdoB, articulador de uma Frente Ampla exigindo “Diretas Já” e “Fora Temer”, saudou o fato de a Juventude Tucana também estar com essas palavras de ordem, na esperança de angariar mais força para a Frente. 

Mas há luz no fim do túnel. No último trimestre de 2016, o movimento de ocupação das escolas secundaristas e das universidades passou por cima da burocracia estudantil, se preocupando com a luta real contra as reformas impostas pelo governo golpista. Esse movimento tem que servir de exemplo e inspiração para os estudantes, que deve passar por cima da burocracia estudantil, extremamente contaminada pela política oportunista.


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