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Partido Operário – Insurreição de Fevereiro de 1917 – Rússia

O estado de ânimo das massas foi preponderante para impulsionar a revolução de Fevereiro de 1917, na Rússia, contra a monarquia dos Romanov, relata-nos Leon Trotsky em “A História da Revolução Russa”. A seguir, passagens dessa Revolução:

trotsky“No terceiro dia da luta, os soldados perderam definitivamente toda a possibilidade de manter uma posição de benévola neutralidade em relação à insurreição. (...) Sabemos como, na véspera, os operários queixaram-se com veemência aos “pavlovsky” pela conduta dos alunos suboficiais. Cenas, entendimentos, queixas, convites análogos, repetiram-se em diversos pontos da cidade. Os soldados não tinham tempo para hesitações. Forçaram-nos, na véspera, a atirar: hoje obrigá-los-iam novamente. Os operários não cedem, não recuam, e mesmo sob uma chuva de balas querem chegar ao fim. Ao lado deles estão as operárias, mães e irmãs, esposas e companheiras. E chegara a hora sobre a qual tanto se falava em voz baixa, nos recantos: “Se nos uníssemos todos!...” E no momento das supremas angústias, do intolerável horror, diante do dia que se avizinhava, cheios de ódio contra aqueles que lhes impunham o papel de verdugos, ressoaram nos quartéis os primeiros gritos da revolta aberta e, nessas vozes anônimas, toda a caserna aliviada, entusiasmada se reconhece. Assim raiou sobre a Terra o dia de derrubar a monarquia dos Romanov. (...)

Foram os soldados do Regimento Volynsky que primeiro se insurgiram. Desde as sete horas da manhã, um comandante de batalhão chamava Khabalov, por telefone, para comunicar-lhe a terrível notícia: os alunos suboficiais, isto é, um contingente especialmente destinado à repressão, recusavam sair e o chefe fora morto( ...). Tendo queimado as pontes, os “volynskianos” esforçaram-se em alargar a base da insurreição: era a única oportunidade de salvação. Precipitaram-se pois para os quartéis do Regimento Lituano e do Preobrazhensky, situados nas imediações, para “desencaminhar” os soldados, assim como os grevistas iam de fábrica em fábrica, “desencaminhando” os operários. Pouco depois, Khabalov teve conhecimento de que os “volynskianos” não somente recusavam-se a devolver os fuzis, conforme ordenara o general, como também os “preobrazhenskianos” e os “lituanos” – e, o que era mais terrível, “fazendo causa comum com os operários” – haviam saqueado as casernas da divisão da polícia. (...)

O surto revolucionário dos operários em direção aos quartéis coincidiu com o movimento revolucionário dos soldados que saíam já para as ruas. Durante o dia essas duas correntes impetuosas confundir-se-ão para arrastar primeiro o telhado do velho edifício, em seguida as paredes e, mais tarde, os alicerces.

Chugurin foi um dos primeiros a aparecer no QG dos bolcheviques, de fuzil na mão, com uma cartucheira a tiracolo, “todo sujo porém radiante e triunfal.” Como não ficar radiante? Os soldados se passavam para nós com as armas na mão! Aqui e ali os operários conseguiram unir-se à tropa, penetrar nas casernas, obter fuzis e cartuchos. O grupo de Vyborg, de colaboração com os soldados mais resolutos, traçou um plano de ação; apoderar-se dos comissariados de polícia onde se entrincheiraram os guarda-civis e desarmar todos os agentes; por em liberdade os operários encarcerados nas delegacias, bem como os prisioneiros políticos nas prisões, esmagar as tropas do Governo na cidade, conquistar as tropas ainda não insurgidas e os operários dos outros bairros. (...)

As alegres notícias da vitória vinham umas atrás das outras: conseguiram-se carros blindados. Enfeitados com as bandeiras vermelhas desfraldadas, espalham o terror nos bairros ainda não submetidos. Não era mais necessário passar por baixo dos cavalos cossacos. A revolução põe-se de pé em toda a sua magnitude.

Ao meio dia, Petrogrado transformara-se num campo de batalha: os tiros de fuzil e o matracar das metralhadoras repercutiam de todos os lados. Nem sempre é fácil saber quem atira e de onde se atira. Uma coisa estava clara: o tiroteio era entre o passado e o futuro. (...) Do palácio da Justiça e dos comissariados de polícia, incendiados, a fumaça erguia para o céu, em colunas. Em alguns lugares, as escaramuças e os tiroteios se agravavam a ponto de se transformarem em verdadeiros combates. (...) “As barracas em fogo, em torno delas a paliçada derrubada, os tiros de metralhadoras e de fuzis, a animação visível dos sitiantes, a chegada, a toda velocidade, de um caminhão transportando revolucionários armados, e, enfim, de um carro blindado, cujas peças de artilharia faiscavam, formavam um quadro esplêndido, inesquecível.” A velha Rússia dos tzares, da servidão, dos popes e da polícia consumia-se no incêndio das barracas e das paliçadas, escarrando fogo e fumaça, estourando nas convulsões dos tiros de metralhadoras. (...) O carro blindado que chegara fez alguns disparos contra as barracas nas quais se haviam refugiados os oficiais e os soldados motorizados. O comandante da defesa foi morto. Os oficiais, desfazendo-se dos galões e das condecorações, fugiram através dos pomares das vizinhanças. Os demais renderam-se. Foi talvez a mais importante refrega da jornada.”


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