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“A culpa é desse Estado doente que está matando as nossas crianças com roupa de escola”

“Mãe, eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim. Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola?”. Essas foram as últimas palavras de Marcos Vinícius, um adolescente de 14 anos, que foi executado com um tiro “pelas costas”, que o atingiu na barriga, durante uma operação das Forças de Segurança, realizada no último dia 20 de junho, no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. Assim como a vereadora Marielle Franco, Marcos Vinícius é mais uma vítima da Intervenção Militar e do Estado burguês.

A mãe da vítima, a trabalhadora doméstica Bruna Silva, foi categórica em sua análise a respeito do assassinato do filho: "A culpa é desse Estado doente que está matando as nossas crianças com roupa de escola. Estão segurando mochila e caderno, não é arma, não é faca. Não estão roubando e nem se prostituindo, estão estudando!". Esse mesmo Estado, desde 2007, segundo um estudo realizado pela ONG Rio de Paz, foi responsável pela morte de pelo menos 50 crianças de até 14 anos de idade, a grande maioria moradores de favelas. Só neste ano já foram oito execuções.

De acordo com os relatos, Marcos Vinícius estava indo para a escola com um amigo quando ouviu os disparos e resolveu voltar, mas foi baleado no meio do caminho. A criança foi levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) por moradores, ainda com vida, mas a polícia impediu a entrada da ambulância. Conforme afirmou a mãe da vítima: “A ambulância demorou uma hora para chegar porque os policiais mandaram ela voltar da avenida Brasil. Aí veio uma ordem superior mandando ela entrar. Nesse momento, meu filho já estava roxo, pálido, gelado. O beicinho dele já estava inchado. Ele estava falecendo ali na minha frente". Ou seja, não contentes em atirar, também impediram o socorro médico. Além do adolescente, só nessa operação feita pelas Polícias Civil e Militar e pelo Exército, outras seis pessoas foram assassinadas, cinco deles tinham entre 20 e 30 anos.

A truculência da operação chamou a atenção. Além dos blindados, a ação policial contou com um helicóptero, chamado pelos moradores de "caveirão voador", que sobrevoou a comunidade efetuando disparos aleatórios. A ordem, definitivamente, era de exterminar preto, pobre e favelado. Segundo o diretor da ONG Redes da Maré, Edson Diniz, a entidade verificou mais de cem marcas de disparos no chão do conjunto de favelas da zona norte. "Contamos mais de cem marcas de disparos no chão, nas casas, na rua. Certamente foram tiros do helicóptero, já que o caveirão não atira para baixo”.

O assassinado do jovem estudante revoltou a comunidade, que realizou vários protestos. Num deles, organizado por alunos da escola de Marcos Vinícius, cerca de 100 crianças e adolescentes, com o auxílio dos professores, fizeram uma caminhada pela Maré até a Linha Amarela, todos com uniforme da escola. Também essa manifestação foi reprimida pela polícia, que chegou a agredir uma menina de 13 anos com um pedaço de madeira. “A gente estava na calçada, na passarela, quando a polícia chegou com fuzil atravessado para intimidar. Do nada chegaram duas viaturas enormes e muitos policiais começaram a nos cercar. Estavam mascarados", contou uma das professoras. Já uma aluna narrou que os policiais “Ficaram xingando a gente, mandando a gente calar 'a porra da boca'. Nos agrediram verbalmente e depois um deles deu uma paulada em uma das meninas". Essa agressão foi gravada. A professora complementou falando que "Depois disso, ele pegou o fuzil e apontou, como se fosse atirar”.

Como se vê, o assassinato da população trabalhadora, em especial dos mais pobres e oprimidos, é o modus operandi do Estado capitalista. Quanto maior for a crise, mais cenas de atrocidade como essa serão vistas. Não há democracia, tampouco liberdades individuais nessa sociedade. Vivemos numa ditadura sangrenta para garantir o lucro de meia dúzia de famílias parasitas.

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