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Por novos Maios de 68

Há 50 anos ocorreram vigorosas manifestações populares na França que ficaram conhecidas como Maio de 1968. A imagem popular é que foi um conjunto de eventos majoritariamente estudantil. A história mostrou, contudo, que foram eventos muito mais amplos, classistas, em que os operários franceses, às vezes juntos com estudantes universitários, por outras vezes separados, fizeram inúmeras manifestações de rua em Paris, greves, piquetes e ocupação de fábrica. Tratou-se da maior greve da história da França, com mais de 10 milhões de trabalhadores compondo o movimento paredista.
O movimento vitorioso foi liderado pela CGT (Confederação Geral do Trabalho), criada em 1895 e que hoje congrega 30 diferentes categorias profissionais. O salário geral elevou-se em 10% e foi conquistada a quarta semana de férias. As manifestações não ficaram restritas à França. Todo o mundo foi influenciado pelo movimento, que também referenciou uma série de manifestações culturais, inclusive o movimento hippie (contracultural), que ambicionava revisar os costumes da época. Palavras de ordem como “Sejam realistas, exijam o impossível”, “Parem o mundo, eu quero descer” e “É proibido proibir” ficaram muito famosas e se propagam até hoje. A força do movimento foi tamanha que o presidente francês, De Gaulle, desgastado, renunciou no ano seguinte.

No Brasil, 1968 não foi apenas o mês de maio, mas o ano inteiro – com mais perdas do que ganho. O inimigo aqui era a Ditadura Militar. Dezenas de manifestações ocorreram, culminando com o Ato Institucional nº 5, lançado em 13 de dezembro de 1968, que inaugurou o período de maior repressão da Ditadura. Antes disso, houve o assassinado do estudante secundarista Édson Luís, durante uma manifestação; a  “batalha de 21 de junho”, entre policiais e civis, que durou doze horas na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, e a passeata dos 100 mil, também no Rio, no dia 26. Os confrontos e manifestações se espalharam por todo o País. Em abril de 1968, na cidade de Contagem-MG, por exemplo, os metalúrgicos organizaram o primeiro e grande movimento paredista no período da ditadura, contando com mais de 20 mil grevistas.

Como se percebe, 1968 foi um ano de intensa agitação popular e sindical, com uma série de consequências positivas e negativas para a classe trabalhadora em geral. O ano ainda vive no imaginário dos movimentos de esquerda em geral, e deve sempre ser discutido. A importância de pensarmos e entendemos os movimentos do passado advém da análise material, concreta, dos movimentos de esquerda no mundo. É preciso procurar e compreender seus acertos e erros para implantarmos o que é funcional em nossa prática política e nossas táticas de ação, tal como Marx, Engels, e Lenin orientavam em relação aos eventos da Comuna de Paris.

O cenário atual de crise da especulação financeira, de reformas trabalhistas e previdenciárias por todo o mundo, com o imperialismo tornando ainda mais forte a neocolonização do terceiro mundo, como podemos ver nos desdobramentos do golpe jurídico-parlamentar no Brasil e as possibilidades de ocorrer o mesmo na Colômbia e na Venezuela, é ainda pior que o cenário de 1968.
Diferentemente de 1968, porém, as atuais mobilizações contra os ataques da Reforma Trabalhista são infinitamente menores. No próprio epicentro do movimento de 50 anos atrás, na França, esses recentes movimentos, apesar de expressivos, foram infinitamente menores. Isso é fruto da crise de direção que vive a esquerda, uma crise em muito influenciada pela política de conciliação de classes aplicada pelas esquerdas em âmbito global. Assim como os eventos de 1968, o momento é de buscar unidade na luta à esquerda, tal como os estudantes e operários franceses daquela época.  Mas essa unidade deve caminhar no sentido da radicalização da mobilização real, da ocupação das fábricas, do piquete e da Greve Geral. Só assim será possível revogar os ataques que estão sendo feitos pelo capitalismo contra a classe trabalhadora. Só assim será possível a superação do capitalismo.

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