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De Trump a Davos

Há pouco mais de um ano, Donald Trump, proferia seu discurso de posse nas escadarias do Capitólio em Washington DC, sob a égide dos slogans: “América primeiro” e “Make America Great Again”.  Assim como na data de sua posse, em 20 de janeiro de 2017, o dia que marcou seu primeiro ano de mandato foi assolapado por uma série de protestos massivos, onde mais de um milhão de pessoas saíram às ruas - como exemplificado pela Segunda Marcha das Mulheres. Esses protestos ganharam o mundo, uma vez que, internacionalmente, indivíduos manifestaram seu descontentamento contra a política de Trump, machista, racista e defensor do imperialismo.

A ameaça de guerra nuclear nunca esteve tão próxima, desde a Guerra Fria. Os EUA necessitaram fomentar a disputa com a Coréia do Norte, importante parceiro comercial Chinês, que está sob a influência desse país e que transforma a Coréia do Sul, potentado americano, em um enclave no “Mar Amarelo” asiático. O capitalismo precisa de guerras para se alimentar, seus lucros são obtidos através da exploração e do massacre.

Como se não bastasse, o mandatário da Casa Branca anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, um importante freio à produção desenfreada e um mecanismo de defesa da Agenda Climática e Ambiental. Pode parecer estranho, mas a despeito da fauna e flora, os seres humanos de baixa renda são os que mais sofrem com os efeitos da mudança climática e do desmatamento.

No que tange ao âmbito interno, Trump tem como proposta “cancelar o DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals)", programa para regularizar temporariamente imigrantes, menores de idade, em situação ilegal; anular o Status de Proteção Temporário; acabar com o “Obamacare”, que aumentava o acesso à saúde; e a lei de reforma tributária, abaixando a tributação sobre as grandes fortunas à custa da espoliação dos direitos e patrimônios da classe operária.

As plataformas de Trump são: terror e calúnia. Os demitidos e as renúncias e escândalos de sua equipe são acobertados pela mídia. Em grande medida, ao redor do globo, muitos diagnosticam o "líder do mundo livre" como um narcisista patológico, sem se dar conta de que não abordam o cerne da questão: Trump (e seu comportamento esquizofrênico) é a grande distração para que o capital internacional atue sorrateiramente, destruindo uma série de vitórias da classe trabalhadora nas últimas décadas.

Trump não parou por aí. Em um ataque brutal ao povo Palestino, reconheceu Jerusalém como cidade Israelense. Isso significa um claro apoio ao massacre e ao apartheid imposto por Israel, um Estado fictício, criado para ser uma zona de influencia americana em pleno Oriente Médio.


Capitalismo prestes a ruir


A verdade é que todo o fanatismo e preconceito não podem trazer de volta os nossos empregos. A crise internacional não é culpa dos refugiados e sim do sistema que já não se aguenta. Cada vez mais, para manterem seus lucros estratosféricos, o imperialismo internacional é obrigado a se valer de demissões e da exploração do proletariado e campesinato em um nível nunca antes visto. Os salários pareceram estáveis no primeiro ano de Trump, assim como a taxa de participação da força de trabalho. Entretanto, a desigualdade e o desemprego aumentaram exponencialmente em solo americano.

A deportação de imigrantes também não beneficia os trabalhadores nativos. Não é mais que uma manobra política que visa inculcar a xenofobia e o racismo no seio da sociedade, transpondo a culpa pelas mazelas sociais aos imigrantes. Tal política visa esconder uma grande dicotomia existente no centro do capitalismo mundial: no país mais rico da terra, quase metade dos trabalhadores ativos e legais ganham salários de pobreza (menos de US$ 15 por hora) e mais de meio milhão de pessoas são sem-teto.

O fato das disparidades sociais estarem aumentando constantemente em âmbito internacional indica que Trump é apenas parte do problema. Contrariamente à sua apresentação como um “apolítico” e de que não é um “político de carreira”, ele não passa de um instrumento da classe dominante diante da perda de representatividade e controle sobre as massas por parte dos democratas. É na realidade uma distração, um bufão que desvia os olhares e recebe as críticas. Trump é um habilidoso artista, que tem por propósito criar indignação e direcioná-la a sua própria figura. Essas manifestações, sejam de raiva, injustiça e descontentamento, deveriam ser voltadas àqueles que realmente detêm os meios de produção e conduzem a política econômica mundial, aos grandes barões do capitalismo.

Tal fenômeno não é novo. Foi Karl Marx quem o analisou e qualificou: "o executivo do Estado Moderno não é, senão, um comitê para administrar os assuntos comuns de toda a burguesia". Não importa quão mais ou menos atraente, carismático ou não convencional sejam os chefes deste comitê, eles nunca passarão de marionetes do grande capital, necessariamente operando politicamente para atingir aos interesses do imperialismo internacional – como pode ser evidenciado em Davos.


Davos: ritual de hipocrisias


Em uma nota publicada recentemente, "O ritual obrigatório de Davos" (Dutiful Dirges of Davos), Branko Milanovic, um economista sérvio-estadunidense, busca expor a hipocrisia a qual em Davos se discute sobre inequidade, como um tema obrigatório, enquanto o patrimônio dos participantes deste foro alcança cifras exorbitantes.

Os chefes de Estado e representantes que li se encontram aos pares com os empresários mais poderosos do mundo estão reunidos no Fórum Econômico Mundial, que ocorre em uma pequena e superluxuosa estação de esqui na Suíça. A riqueza combinada destas pessoas alcança os bilhões de dólares. Nunca na história da humanidade a riqueza por quilômetro quadrado foi tão alta.

Cinicamente, as jornadas de debate do fórum tiveram por tema: "como o capitalismo agrava a desigualdade"; "do crescimento à prosperidade" que girou sobre o eixo de que "o comércio global e as inversões impulsionaram o crescimento, mas também a concentração da riqueza". Ademais, na quarta-feira (24 de janeiro) houve um debate sobre o acordo social do século XXI: "como podemos frear o aumento da desigualdade e renovar nosso compromisso com as gerações futuras".

Desta maneira, os mesmos responsáveis pela crescente desigualdade e marginalidade social internacionalmente, os empresários e seus governos e governantes, falavam sobre pobreza e políticas públicas. Entretanto, são estes mesmos que ali se encontravam reunidos, que evadem divisas, não pagam impostos, não permitem que em suas indústrias os trabalhadores se organizem em sindicatos e não fornecem as mínimas condições de trabalho a seus empregados. Tudo isso pela ganância, para se “ganhar” alguns milhões de dólares a mais e montar empresas offshore em paraísos fiscais.

O desafio para a esquerda continua sendo unir as lutas contra todas as formas de opressão e exploração capitalista. O que o último ano demonstrou, acima de tudo, é que a luta contra a injustiça precisa ser lançada como um amplo ataque ao sistema capitalista, pressionando os esforços liberais e organizando a classe trabalhadora, para que esta lute e defenda seus interesses de classe frente à ofensiva imperialista.


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