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Aumento das tensões entre Rússia e Estados Unidos

A Rússia e os Estados Unidos se encontram em meio a uma nova Guerra Fria. A parceria estratégica anunciada pelos dirigentes dos dois países nos últimos anos não passa de uma ficção criada por George Bush (pai) e Boris Yeltsin e postergado até as administrações Obama e Putin.

Uma verdadeira parceira necessitaria da criação de um mecanismo apropriado, o que nunca foi realizado. Tudo se pautava entre declarações pessoais dos chefes de Estado da Rússia e dos EUA. Desde o fim da Guerra Fria, nenhuma mudança fundamental aconteceu nas perspectivas de EUA e Rússia no que tange ao domínio nuclear.

As relações bilaterais entre os dois países continua a se deteriorar, tanto diretamente – através de um aumento nas sanções – quanto nos fronts – no que é militarmente conhecido como “combate transversal”, que são a Ucrânia e a Síria. Por outro lado, não há o mínimo fator para que as relações possam ser futuramente estabilizadas sob um prisma positivo: o imperialismo norte-americano não pode tolerar a existência de uma dualidade de poder e, inclusive, se sente extremamente ameaçado pela escalada do poder global pelos Russos.

A evolução das relações entre EUA e Rússia, a radicalização do discurso americano e a calma contida das réplicas russas, tudo isso demonstra uma curva ascendente de tensão que, ao que tudo indica, em um curto prazo, ninguém conseguirá reverter. Os EUA acusaram 13 cidadãos e três empresas russas de ingerência no processo eleitoral americano, influenciando diretamente o resultado do pleito. Não obstante, o procurador Muller, encarregado das investigações, não foi capaz de encontrar nenhuma prova concreta que atestasse a veracidade dessas suposições do governo norte-americano.


Problemas se espalham pelo mundo


O secretário geral da OTAN acusa a Rússia de relançar a corrida armamentista, sustentando que os russos realizam constantes inovações em seu arsenal. A Ucrânia, contando com a ajuda e financiamento direto dos EUA, ataca o centro cultural russo, em Kiev, sem a menor repreensão da comunidade internacional e sem que a polícia intervenha – Morte à Rússia é a mensagem deixada.

Na Síria, o apoio da coalisão americana permite a manutenção da atuação constante dos grupos terroristas, que perpetuam a guerra no país, dificultando o processo de paz. Dessa maneira, embora o Estado Islâmico esteja virtualmente derrotado, com as quedas de Raqqa e Mosul, os dois maiores grupos islamistas, anteriores ao ISIS, afiliados à Al Qaeda, acabaram de anunciar seu reagrupamento. Paralelamente a isso, as tensões entre os atores locais se exacerbaram. Isso porque o imperialismo injeta dinheiro tanto nos turcos, para combater as forças curdas, quanto nos grupos rebeldes fundamentalistas que desestabilizam o governo Sírio. Finalmente, o Departamento de Estado norte-americano almeja estabelecer novas sanções contra os oligarcas e personalidades públicas de origem russa.

A Rússia, diante desse intervencionismo explícito realizado pelos Estados Unidos, continua atrás de suas barricadas, valendo-se da diplomacia e do direito internacional como limites de sua ofensiva militar. Dessa maneira, a porta-voz do Ministério dos Assuntos Estrangeiros russo, de maneira correta, declarou como absurdas as acusações sem fundamento contra os 13 russos. O presidente do Comitê de Conselho da Federação Russa declarou que Porochenko é responsável pela ação dos nacionalistas ucranianos contra a embaixada russa neste país. Além disso, ele faz um apelo para que os Estados Unidos deixem de sustentar o ultranacionalismo, de caráter neonazista, em solo ucraniano.

No que concerne à Síria, o Kremlin demanda à Casa Branca que pare de “brincar com fogo”, lembrando que eles possuem as provas da falta de vontade dos estadunidenses em combater à Al Nusra. Quanto às sanções, o Ministério dos Assuntos Estrangeiros russo declarou, através de nota oficial, que desde 2014, os EUA já estabeleceram mais de 50 lotes de sanções contra a Rússia, o que demonstra a ineficácia dessa medida.  A Rússia já se acostumou a encontrar maneiras de minimizar e administrar os efeitos negativos dessa retaliação. No caso do surgimento de novas sanções, a política levada até o momento não se modificará e, acaso realmente seja preciso, ações mais contundentes poderão passar a vigorar.


Guerra cada dia mais próxima


Trocando em miúdos: esta política legalista e defensiva não tem funcionalidade a curto e meio tempo, visto que as pressões aumentam e que a situação se torna cada dia mais convulsiva sobre as frentes transversais que compõem o palco dessa guerra. No longo prazo, essa política talvez possa se revelar a mais correta, porque os Estados Unidos perdem a sua credibilidade e força internacionais a cada dia. Entretanto, esperar esse momento futuro é uma árdua tarefa, que não deve impor muitas perdas, ou perdas irreversíveis.

As hesitações russas em responder no mesmo nível, deixando de lado – ainda que no nível do discurso – a adoção de uma política ofensiva, não são irrelevantes aos olhares das potências ocidentais, que veem nesse fato uma possibilidade de continuar sua política de estrangulamento da África, América Latina e Oriente Médio sem muitos riscos reais.

Isso passa a ideia de que a Rússia de Putin não deseja assumir, plenamente, as consequências da anexação da Criméia, em 2014, ou ainda, como se o gigante europeu não tivesse condições de imaginar qual seria a reação ocidental. Ora, sem uma plataforma política bem definida e revolucionária, os efeitos positivos da reanexação, bem como da afirmação da Rússia a possuir seus próprios interesses estratégicos legítimos, torna a Ucrânia um dos maiores inimigos internacionais da pátria Russa, no lugar de serem politicamente capitalizados.

Com o discurso de reduzir o combate aos limites da legalidade, a Rússia tem por objetivo evitar o enfrentamento. Esta é uma perigosa aposta, que mais parece – dada à radicalização – um gerador de sentimento de impunidade com relação aos EUA; que, por sua vez, passam a enxergar a Rússia como um ator secundário, enfraquecido, que mais gostaria de fazer parte do sistema do que de suplantá-lo. Contudo, os EUA ainda não se encontram prontos para integrar-se à Rússia. Um centro de poder já existe, no entanto, os EUA não veem razão alguma para compartilhar o poder sem que, para isso, eles tenham combatido por sua manutenção.

Mais que isso, o que ocorre é um não enfrentamento no campo do discurso. A partir do momento que algum dos atores adotar alguma medida mais ofensiva, uma guerra de enfrentamento militar pode ser declarada a qualquer momento. A perda de credibilidade e força dos Estados Unidos em âmbito global pode ser mais uma medida tomada no sentido do enfrentamento real, uma vez que certamente tentarão manter seu privilégio. É importante salientar que quando esse momento chegar, ele nada diz respeito à classe trabalhadora. Não devemos criar ilusões: guerras imperialistas não servem para nada que não seja manter os lucros dos capitalistas.


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