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A especulação com os alimentos

Conforme a crise capitalista mundial se aprofunda e a especulação financeira se esgota em setores como o imobiliário, grandes volumes de capitais fictícios têm sido direcionados para a especulação nos mercados de alimentos. O principal motivo é por não conseguirem alocação nos setores produtivos ou não conseguirem extrair lucros da produção.

Os especuladores financeiros têm direcionado a comercialização de volumes de alimentos de cada vez maiores para os mercados futuros de commodities. Lá, esses produtos são comercializados dezenas de vezes antes de chegarem aos consumidores finais, principalmente por meio dos nefastos derivativos financeiros. 

Os derivativos têm se transformado no principal instrumento da especulação financeira, onde por meio de cestas de títulos financeiros são misturados títulos podres em larga escala, os especuladores transacionam papéis em operações de apostas e contra-apostas, que lhes garantem altas taxas de lucros em cima de recursos públicos. Os grandes especuladores financeiros acabam sendo resgatados por meio de recursos públicos, em cima da política do TBTF (Muito Grande Para Falir). Mediante esses mecanismos, o punhado de especuladores que domina o mundo tem transformado a economia capitalista mundial num verdadeiro casino. Todo tipo de mazelas da humanidade, até aquelas que tinham sido erradicadas (doenças e escravidão em larga escala, entre outras), estão voltando com muita intensidade devido à busca por garantir as taxas de lucro a qualquer custo.


O controle das matérias primas alimentícias pelos especuladores financeiros

As principais bolsas mercantis de futuro do mundo, tais como a de Nova Iorque, Chicago, Londres, Frankfurt e Paris, têm visto os índices dispararem nos últimos anos. O índice do FMI (Fundo Monetário Internacional) específico para medir o preço dos alimentos subiu em 2002, a partir dos 75 pontos básicos, três vezes. Nos dois últimos anos, no entanto, esse indicador começou a cair por causa do aprofundamento da crise capitalista mundial. O índice das Nações Unidas, o FAOFOODI, aumentou mais de 160%, a partir do ano 2000.

A alta volatilidade nos preços das principais matérias primas alimentícias, apesar da tendência à queda, também tem como eixo o relaxamento da regulamentação do setor e o aumento das atividades especulativas que têm na sua base o direcionamento de ainda maiores recursos para esses mercados devido à queda acentuada da atividade industrial. No caso dos cereais, as quedas chegam a 10%, e no caso de outros produtos, até 20%.

Durante o colapso capitalista de 2008, a migração de enormes volumes de capitais do mercado imobiliário especulativo para o mercado de commodities provocou a disparada dos preços dos alimentos. Ou seja, uma crise alimentar em vários países e a disparada da inflação a nível mundial, mas, ao mesmo tempo, esteve na origem das revoluções nos países árabes.

A partir de meados da década passada, o banco norte-americano, Goldman Sachs, promoveu a abertura da especulação com alimentos quando criou uma série de ETFs (Exchange Traded Fund), ETPs (Exchange Traded Product), ETCs (Exchange Traded Commodities), CDFs (Contract For Difference, ou contratos para a diferença), ETNs (Exchange Traded Notes, ou notas de negociações de câmbio), etc., que representam diversos papéis especulativos e formam a base dos derivativos financeiros, que têm sido vendidos em larga escala para asseguradoras, outros bancos e fundos de pensão e de investimentos.

O controle direto do mercado de alimentos na UE (União Europeia) pelas chamadas empresas financeiras, isto é, pelos especuladores financeiros, atinge 40%, sendo que no início da década de 90 era de 10%, o que tem provocado a disparada da volatilidade. Enormes volumes de recursos são aplicados, em curtíssimos espaços de tempo, com o objetivo exclusivo de obter altas taxas de lucro. O efeito colateral é o crescente aumento das bolhas financeiras. O índice FAOFOODI aumentou em mais de 50%, desde o mês de maio de 2007.


Transgênicos na linha de frente da especulação financeira com os alimentos

Os altos preços dos alimentos são potencializados ainda mais pela especulação com as commodities (matérias primas) energéticas, principalmente o preço do petróleo, nos mercados futuros, e dos insumos agrícolas. Alguns alimentos são usados para a produção de outros – como acontece, por exemplo, com os cereais que são usados para alimentar o gado, os fertilizantes, os agrotóxicos e os combustíveis usados para o transporte.

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), a produção de alimentos precisará aumentar em 70% até o ano de 2050 devido ao crescimento demográfico. Um dos principais componentes da resposta dos governos burgueses para “enfrentar a crise alimentar” tem sido o aumento da produção de transgênicos, que têm se transformado num dos pilares do aumento da especulação financeira.

Os transgênicos agravam a crise alimentar, da saúde pública e ambiental, mas representam uma fonte de enormes lucros para os monopólios.

Eles foram liberados a partir dos Estados Unidos sem praticamente nenhum teste e em cima de relatórios elaborados pelos próprios monopólios. Na década de 1990, a FDA (Agência Federal de Alimentos e Medicamentos) norte-americana passou a ser controlada diretamente pela Monsanto e os transgênicos foram, na prática, desregulamentados.

Os efeitos para a saúde humana são muito graves, pois as modificações no DNA, além de terem efeitos imprevisíveis nos seres humanos, injetam genes nas plantas, inclusive de animais, que fazem com que as células continuem produzindo venenos após a sua ingestão. O consumo de agrotóxicos aumenta, no médio prazo, a dependência dos agrotóxicos produzidos pelos fabricantes das sementes transgênicas, o que intensifica a contaminação do solo e dos recursos hídricos, conforme tem sido revelado por vários estudos científicos.

Os transgênicos são um produto das políticas imperialistas de “propriedade intelectual” e de patentes, impostas a partir do Consenso de Washington, na década de 1990. Eles visam manter o controle de um punhado de especuladores sobre as sementes, os agrotóxicos, os fertilizantes e toda a cadeia produtiva alimentar. Os monopólios direcionam a produção para os mercados especulativos futuros com o objetivo de manter as altas taxas de lucro dos especuladores financeiros, depredando os recursos ambientais e generalizando a exploração dos trabalhadores nos piores níveis da história da humanidade.


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