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O Teatro do Oprimido de Augusto Boal

O imperialismo tem como “modus operandis”, a imposição de condições econômicas e financeiras que mais lhe convêm para subjugar ao máximo seus colonizados, conseguindo assim garantir lucro à custa da exploração dos trabalhadores.

Porém, não para por aí.

Para o imperialismo, torna-se cada vez mais imprescindível que valores sociais, padrões estéticos e manifestações artísticas e culturais criados por ele sejam implantados em escala mundial, visando favorecer assim, seu predatório avanço.

Vemos essa nefasta intervenção, na esmagadora maioria dos países atrasados, influenciando diretamente a cultura popular, as artes plásticas, o cinema, a TV, o teatro, sempre buscando a exploração máxima dos trabalhadores.

Mas tem existido também, ao longo da história, manifestações culturais e artísticas que buscam denunciar e combater as investidas dos aparatos imperialistas, analisar e conhecer a situação social e política corrente, despertar a consciência sobre a luta de classes e a organizar os trabalhadores na direção da revolução socialista.

Um bom exemplo disso foi o Teatro do Oprimido criado pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal nos anos de 1960, na pretensão de usar o teatro como ferramenta de trabalho político, social, ético e estético, contribuindo para a transformação social.

Essa metodologia que reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais, desenvolvida ao longo das diferentes experiências de Boal, quer na América Latina (onde viveu a ditadura brasileira e a derrota das esquerdas latino-americanas que o levaram ao exílio) quer na Europa, assenta-se em três grandes princípios, que são as suas propostas mais fortes:

• a reapropriação dos meios de produção teatral pelos oprimidos,

• a quebra da quarta parede que separa o público dos atores e

• a insuficiência do teatro para a transformação social, isto é, a necessidade de ele se integrar num trabalho social e político mais amplo.


A solidariedade entre semelhantes é outra parte medular do Teatro do Oprimido e busca não apenas conhecer a realidade, mas transformá-la, no sentido de uma transformação da sociedade no sentido da libertação dos oprimidos.

“Oprimidos e opressores não podem ser candidamente confundidos com anjos e demônios. Quase não existem em estado puro, nem uns nem outros. Desde o início do meu trabalho com o Teatro do Oprimido fui levado, em muitas ocasiões, a trabalhar com opressores no meio dos oprimidos, e também com alguns oprimidos que oprimiam”.

No começo dos anos sessenta, Boal era diretor do Teatro de Arena de São Paulo. Um dia, durante uma viagem pelo nordeste, estavam apresentando para uma liga camponesa um musical sobre a questão agrária que terminava exortando os sem terras a lutarem e darem o sangue pela terra. Ao final do espetáculo um sem terra convidou o grupo para ir enfrentar os jagunços que tinham desalojado um companheiro deles. O grupo simplesmente recusou. Neste momento, Boal percebeu que o teatro que realizava dava conselhos e não tinha uma ação efetiva, que o teatro deveria ser um diálogo e não um monólogo. Até este momento tudo não passava de uma ideia a ser desenvolvida.

No Brasil, somente em 1971 nasceu a primeira técnica do Teatro do Oprimido (TO): o Teatro Jornal. Continuando a crescer, o TO desenvolveu o Teatro Invisível na Argentina, como atividade política, e o Teatro Imagem, para estabelecer um diálogo entre as Nações Indígenas e os descendentes de espanhóis na Colômbia, na Venezuela, no México. Hoje, essas formas são usadas em todos os tipos de diálogos.

Expandiu-se na Europa, com o Arco-Íris do Desejo — inicialmente para entender problemas psicológicos e depois mais tarde para criar personagens em quaisquer peças.

De volta ao Brasil, nasceu o Teatro Legislativo, que ajudou a transformar o Desejo da população em Lei — o que chegou a acontecer 13 vezes.

Atualmente, o Teatro Subjuntivo está, pouco a pouco, vindo à luz.

Primeiro, o TO era usado por camponeses e operários em lugares pequenos e quase clandestinos; depois, por professores e estudantes; agora, também por artistas, trabalhadores sociais, psicoterapeutas, ONGs, nas ruas, escolas, igrejas, sindicatos, teatros regulares, prisões...

Além da arte cênica propriamente dita, existe também a finalidade política da conscientização, onde o teatro torna-se veículo para a organização, debate dos problemas, além de possibilitar, com suas técnicas, a formação de sujeitos sociais e multiplicadores da defesa por direitos e cidadania para a comunidade onde o Teatro do Oprimido vai ser aplicado.

Aplicado no Brasil, em parceria com diversas ONGs, como a Pastoral Carcerária e as Comunidades Eclesiais de Base, ou movimentos sociais, como o MST, as técnicas de Boal ganharam mundo se espalhando por mais de 70 países, sendo suas obras traduzidas em mais de 20 idiomas, e ganhando aplicação por parte de populações oprimidas nas mais diversas comunidades, como recentemente entre os palestinos.

O Teatro do Oprimido parte do princípio de que a linguagem teatral é a linguagem humana usada por todas as pessoas no cotidiano. Sendo assim, todos podem desenvolvê-la e fazer teatro. Desta forma, cria condições práticas para que o oprimido se aproprie dos meios de produzir teatro e assim amplie suas possibilidades de expressão. Além disso, fomenta o senso crítico, político e social e estabelece uma comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores.

Através dessa iniciativa revolucionária, Augusto Boal deu uma grande contribuição para que a arte e a cultura influenciem e incentivem não somente o discurso, mas as ações efetivas em busca da Cidadania Plena.

Aprendendo com seu legado, precisamos analisar e compreender as atuais condições sociais, culturais, políticas e sermos mais Brecht, mais Boal, mais revolucionários.


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