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Racismo nos Correios - parte I

Não seria nenhuma novidade dizer que os negros sofrem racismo no âmbito privado do mercado de trabalho. Eles representam 54% da população brasileira mas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), em 2016, apenas 17% da população mais rica era negra. Em contrapartida, em 2014, os negros representavam 76% da população mais pobre do País. Ainda de acordo com dados do IBGE, apesar de nos últimos dez anos, o número de negros no ensino superior ter triplicado, em 2014, 2,4 milhões de mulheres negras estavam desempregadas, o que corresponde ao dobro em comparação aos 1,2 milhões de homens brancos sem emprego. Dos negros empregados, apenas 31,3% tinham carteira assinada. E apenas 10,8% ocupam cargos diretivos. Na verdade, os negros ocupam, predominantemente, os setores agrícolas, da construção civil ou atividades domésticas. Ainda hoje, homens brancos ganham 60% a mais que as mulheres negras. Ou seja, para o capitalismo, posições subalternas são o lugar social dos negros.

No entanto, muitos pensam que nas empresas públicas esse problema não existe, até por acreditarem que pelo fato de todos serem submetidos a concurso público, o problema estaria solucionado. Mesmo partindo desse pressuposto, não há como pensar que o concurso público acabaria com o problema do racismo e na inclusão do negro no mercado de trabalho, uma vez que o racismo não é uma questão “cultural”, mas social. A crença na meritocracia é uma falácia capitalista. Se não há igualdade de condições, algo que é intrínseco ao capitalismo, não há possibilidades de se pensar em “puro mérito”. Como dito, os negros são a parcela mais pobre da população e com piores condições de estudo, o que os coloca em péssimas condições para se prepararem para concursos públicos. Sendo assim, nunca prestariam concursos em pé de igualdade e de condições com os brancos.


Racismo no mercado de trabalho


Nos Correios, várias situações mostram o racismo. Observa-se que nas agências, o número de trabalhadores negros no atendimento ao público é coreiosminimusínfimo, a maioria esmagadora dos atendentes são brancos. Nos Centros de Distribuição Domiciliaria (CDDs), muitos trabalhadores denunciam que os piores setores sempre são entregues para trabalhadores negros. Já os setores de trabalho braçal e pesado caem, “coincidentemente”, nas mãos dos negros. Assim como no período da escravidão legalizada, os negros fazem os serviços que os brancos não querem fazer.

Essa situação se agrava ainda mais no caso das mulheres negras que, geralmente, além de serem direcionadas para os piores setores, ainda são assediadas sexualmente por seus gestores, numa espécie de “oferta” ou “moeda” de troca para serem colocadas em setores menos pesados. Os cargos de gestão  não deixam dúvidas em relação ao racismo nos Correios, onde os negros nesses cargos são minoria absoluta.

Conforme demonstram os dados de pesquisa feita em 2010, pelo Instituto Ethos, os negros eram apenas 5,3% das pessoas que ocupavam cargos executivos, 25,6% nos cargos de supervisão e 13,2 % nos cargos de gerência. Isso em um país que, como dito, possui um população majoritariamente negra (54%). Quanto as mulheres negras, elas são apenas 2,1% dos trabalhadores em geral na gerência e apenas 0,5% no quadro executivo.

Vale lembrar que esse quadro pode piorar ainda mais.  Em momentos de crise do sistema capitalista, como o atual, os negros e as mulheres sempre são os mais atacados. Há, nesse momento, uma investida feroz contra todos os trabalhadores e contra as empresas públicas. Os Correios estão na mira da privatização. O presidente da Empresa, Guilherme Campos, e o ministro das comunicações falam abertamente em demissão. Não há dúvidas, pelos próprios dados colocados, que negros e mulheres sofrerão mais com esse ataque.


O Estado burguês é racista


Diante de tudo isso, podemos afirmar que o problema do racismo vai além das fronteiras do mercado privado e está longe de ser uma questão meramente pessoal. Muito além disso, o racismo é intrínseco ao Estado burguês e no Brasil não poderia ser diferente. A própria história demonstra isso, primeiro com a colônia Brasil e o império brasileiro tendo sido o maior receptor de escravizados do mundo. Depois com a abolição em que o governo não adotou nenhuma medida para inserir o negro na sociedade, bem como com as políticas perversas como o “branqueamento”, em que o próprio Estado incentivava a vinda de imigrantes europeus, para “branquear” a população brasileira. Hoje, o racismo é flagrante dentro das empresas públicas, como nos Correios, bem como pelo genocídio ao povo negro promovido pelo braço armado do Estado, a polícia.

Como se sabe, o problema do racismo ultrapassa as fronteiras do Brasil ou de qualquer outro país, sendo um problema de escala mundial. Isso porque ele é uma questão do próprio sistema capitalista, que só sobrevive da exploração dos proletários para garantir os lucros de uma minoria. As medidas que são tomadas dentro do próprio sistema para diminuir as desigualdades, como o sistema de cotas, embora importantes, tratam os sintomas e não a real causa do problema. Essa questão só poderá ser finalmente resolvida com a mudança do sistema, que só pode ser feita com os trabalhadores unificados e organizados, rumo à revolução social.


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