• Entrar
logo

Negro no ambiente de trabalho

Num país onde a grande diversidade de raças é algo observado a todo o momento e praticamente em qualquer lugar, o negro se depara com mais um desafio quando a necessidade de trabalhar lhe bate a porta.

Como se não bastasse as adversidades encontradas na infância, juventude e adolescência, onde a discriminação racial se faz presente, no momento de ingressar no mercado de trabalho, a competência e o saber não são suficientes para que o mais elementar direito, o do trabalho, possa ser exercido com naturalidade. A “seleção” esbarra quase sempre no já consolidado padrão da aparência – a imposição de um modelo de pele branca, olhos claros e cabelos lisos – deixando a competência técnica e/ou acadêmica em segundo ou terceiro plano. Isso demonstra com clareza o racismo endêmico da sociedade brasileira. Os negros sofrem discriminação nos testes de seleção das empresas.

Uma vez vencida essa barreira, entra-se em outra etapa na luta pela sobrevivência. Já exercendo a sua atividade laboral, é necessário enfrentar a desconfiança, às vezes generalizada, de que você não dará conta de concluir de forma correta aquilo que lhe foi confiado. Diversos “olhos” pairam sobre o negro, na expectativa de que o erro seja uma certeza, atestando que “esse negrinho não serve para isto”. Na grande maioria das vezes a realidade mostra o contrário. O profissional negro, pressionado a não errar de forma alguma, revela sim uma excelência na condução das atividades colocadas em sua responsabilidade.


Houve mudanças no cenário atual?


Algumas ações governamentais, iniciadas em 2003, proporcionaram mudanças, ainda que incipientes, na vida do negro no Brasil. Apesar de gerar discursões acaloradas na sociedade, a política de cotas veio para compensar a grande desigualdade imposta na vida do cidadão negro. Alçar o ensino superior era praticamente impossível e isso era uma grande barreira ao profissional no ambiente de trabalho, que geralmente ficava com as atividades de menor qualificação dentro das empresas. Com a possibilidade de cursar o ensino superior, o negro deve mostrar que tem condições de disputar as vagas no mercado de trabalho em de pé de igualdade.

Pelo fato de a política de cotas ser apenas paliativa, não tratando a causa real do problema, mas apenas alguns dos seus sintomas, os dados sobre os negros ocupando altos cargos nos postos de trabalho são alarmantes. Em níveis executivos, que envolvem cargos de administradores, a proporção de negros é de apenas 5,3% nas 500 maiores empresas do País. Isso em um país onde 54% da população é negra. Em números absolutos, isso corresponde a apenas 62 negros em um universo de 1.162 diretores.

Esse número continua baixo mesmos em cargos “inferiores” aos executivos. Na supervisão, apenas 25,6% dos trabalhadores são negros. Na gerência, são apenas 13,2%. Quando se trata da mulher negra, esses dados são ainda mais desfavoráveis. Elas são apenas 2,1% dos trabalhadores em geral e apenas 0,5% no quadro executivo. Sendo assim, existem apenas seis mulheres negras entre as 119 mulheres dos mais de mil diretores.

Esses dados foram coletados pelo Instituto Ethos, que também demonstrou que no período da pesquisa, entre 2007 e 2010, a variação foi de 3,5% de negros em cargos executivos, no ano inicial, para 5,3% no ano final. Nessa velocidade, levaria mais de 150 anos para que o real quadro racial da população brasileira se refletisse nos altos cargos de emprego.


Ainda remando contra a maré


Apesar desta evolução, o negro ainda tem muitas dificuldades de ascensão profissional dentro da estrutura das empresas. O fato de estar em atividade, exercendo determinada tarefa, não o exclui das “pegadinhas” do dia-a-dia. Além de trabalhar muito, recebendo menos (e isso fica mais evidente quando se trata da mulher negra), se manter no cargo sem ser ameaçado é quase impossível.

Em meio a crise do capitalismo em escala mundial, na qual o Brasil se encontra no olho do furacão, a média da renda das pessoas que conseguiram manter seus empregos foi de R$ 2.043,00, no quarto trimestre de 2016. Porém, esmiuçando esses dados, se demonstra que os valores dos autodeclarados brancos, correspondiam a R$ 2.660,00; a dos pardos R$ 1.480,00 e a dos trabalhadores negros esteve em R$ 1.461,00. Quanto ao desemprego, os números também demonstram o abismo de desigualdade entre brancos e negros. No mesmo período, o quarto trimestre de 2016, enquanto a taxa de desempregados negros era de 14,4%, e a de desempregados pardos em 14,1%, entre os brancos essa taxa era de 9,5%.

O que fica claro é que os negros se veem pressionados a se rebaixarem aceitando mudanças dentro das atividades que lhe eram designadas, normalmente para os “colegas” de pele clara. O mais revoltante neste cenário é que muitas vezes ele se vê obrigado a corrigir erros daquele que o substituiu sem nenhum reconhecimento de sua competência.

De fato, o negro sempre teve menos direitos dentro do sistema capitalista. Todas as medidas que são tomadas são apenas paliativas, sem excluir, de fato, o problema. Dessa forma, devemos lutar para que o atual regime econômico, que impõe de forma cega a manutenção da desigualdade social, seja extinguido e uma nova sociedade possa garantir outros rumos.


Topo