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Mulher negra e trabalhadora à frente da exploração

Na luta contra o racismo e o sexismo, as mulheres negras mostram sua resistência por sofrerem inúmeras discriminações. Esse contexto se torna claramente evidente no mercado de trabalho. Estudos recentes apontam que embora a mulher tenha tido uma maior inserção no mercado de trabalho nos últimos anos, elas continuam na linha de frente da exploração capitalista, que tem como agravante o preconceito.

Dados coletados pelo DIEESE/SEAD, IBGE, IPEA, BID e o Instituto ETHOS demonstram que o salário médio da mulher negra continua sendo a metade do salário da mulher branca. Levando em conta o mesmo nível de escolaridade, essa diferença salarial fica em torno de 40%. As mulheres negras estão em empregos mais precários, sendo 71% contra 54% das mulheres brancas e 48% dos homens brancos.

Além disso, o salário da mulher negra é 53% inferior se comparado aos homens brancos com o mesmo nível de escolaridade. As taxas de participação das mulheres negras no mercado de trabalho são as mais baixas e o índice de desemprego chega a ser 100% maior relacionado ao homem branco. As mulheres negras ocupam o cargo gerencial em 2,1%, que corresponde à 0,5% do quadro executivo, enquanto as mulheres brancas possuem 22,1% e 13,7%, respectivamente.


Novos ataques, velhos problemas


Estudos também revelam que a mulher trabalha 5,4 anos a mais do que o homem, o que corresponde à 30 anos de trabalho. Esse trabalho “extra” se resulta da jornada dupla, inerente, sobretudo, aos afazeres domésticos e a criação dos filhos. O peso dessa jornada dupla se torna evidente a partir do fato em que dentro dos 30 anos trabalhados as mulheres somam em média 22,4 anos de contribuição para a previdência. Das aposentadorias concedidas em 2014, um total de 44,4% das mulheres atingiu cerca de 20 anos de contribuição. Ou seja, essas interrupções nas contribuições são causadas por trabalho informal, afastamento do para cuidar de filhos e familiares, problemas com o desemprego, entre outros.

Com a concretização dos novos ataques planejados pelo governo golpista de Michel Temer, a situação se tornará ainda pior. A reforma da Previdência prevê o aumento da contribuição integral de 30 para 49 anos no caso das mulheres e equipara a idade mínima para aposentadoria em 65 anos. Assim, em uma sociedade em que os afazeres domésticos e a criação dos filhos são imputados para as mulheres, a reforma significa trabalhar em jornada dupla por muito mais tempo.

Somam-se a isso os problemas já existentes. Para a mulher negra, as dificuldades são ainda maiores, uma vez que os salários são cerca de 45% menores, mesmo com a criação de políticas afirmativas nas principais universidades do País – vale destacar que após mais de uma década de implantação das cotas, o número de negras e negros com ensino triplicou. Esses dados rebatem o argumento que a ausência de negras em posições qualificadas nas grandes empresas seria resultado da suposta falta de escolaridade exigida. A velha história da “meritocracia”.

Na verdade, a desigualdade entre mulheres negras e o restante da população é gerada em vários fatores, entre eles está a divisão racial e sexual do trabalho, que resulta em atitudes e conceitos negativos sobre as habilidades, desempenho e a capacidade profissional das mulheres negras. Além disso, há também as restrições imposta as mulheres sobre a responsabilidade reprodutiva e a dupla jornada de trabalho. Embora tenha havido mudanças quanto ao acesso ao mercado de trabalho, esses números são muito baixos em relação à quantidade de negros no Brasil.

Isso se torna claro quando analisado os dados de desemprego no Brasil, no momento atual de crise econômica. Levando em conta que 54% da população brasileira é negra, os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) mostram que no quarto trimestre de 2016, a taxa de desempregados negros foi de 14,4% e a de desempregados pardos estavam em 14,1%. Entre os brancos, essa taxa era de 9,5%. Entre as mulheres negras, esses números atingem 19,4%. Ou seja, para o capitalismo em crise, o lugar do negro e, principalmente, da mulher negra, é o pior e mais subalterno possível.


Contra o racismo, que é um instrumento do capital


A luta das mulheres negras em adquirir e conquistar o seu valor, que já é de longa data, deve ser intensificada pela garantia de direitos iguais. É necessário conscientização, pois um país miscigenado onde a maioria da população é negra e impera a desigualdade racial, é inadmissível que se mantenha esse desequilíbrio no tratamento, nas oportunidades das mulheres negras no mercado de trabalho e na sociedade em si.

É necessário ressaltar que na sociedade capitalista, a igualdade entre brancos e negros nunca foi alcançada. O negro sempre esteve em situação de inferioridade, nos piores postos de trabalho ou mesmo com sua humanidade retirada, como foi no momento da escravidão. Os dados apresentados nesse texto mostram como as medidas tomadas para a inserção do negro na sociedade capitalista tem validade curta e não atacam a real causa do problema. Para o negro, as opções são poucas, embora seja fácil de tomar decisão: ou permanecer em situação de desigualdade ou buscar a revolução social, que acabe com a exploração capitalista.


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