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Por que há racismo entre os próprios negros?

Há tempos se questiona sobre a existência de racismo dentre os próprios negros. É comum os casos de racismo partindo de pessoas negras, seja numa roda de amigos, no trabalho, na sociedade como tudo. Muitas vezes isso gera brigas, uma vez que muitos negros, que não se assumem enquanto tal, fazem comentários racistas em relação a outro negro.

Essas várias situações podem gerar uma confusão. Como entender, pois conforme mostram os dados do IBGE, em 2014, a população negra no Brasil é de 53,6%? Aliás, ao andarmos no centro das grandes cidades podemos observar que a grande maioria é de negros. Não somente metade da população, mas muito mais.

De fato, o que ocorre é um problema muito maior. O grande questionamento é: seriam alguns negros racistas contra outros negros ou o problema seria que esse racismo é uma forma de perpetuação e reprodução do discurso das classes dominantes? Para entender esse problema é necessário entender o caráter de classe do racismo.


A origem do racismo


O racismo no Brasil veio desde a era colonial e escravocrata, imposto pelos  colonizadores portugueses. A burguesia na “Era” do colonialismo era a dona de engenho e alguns meios de produção rudimentares, que encontrou na escravidão africana uma forma lucrativa de se desenvolver. O cristianismo contribuiu para o desenvolvimento dessa exploração, pois com isso garantiriam os seus lucros. Assim, começou a surgir a ideia de que os negros "não tem alma" e também "não eram seres humanos”. Com a intenção de inferiorizar os negros, passaram a tratá-los como instrumentos de carga e trabalho. Ou seja, o racismo começou a se desenvolver no sistema pré-capitalista.

Com o avanço do capitalismo, a burguesia começou a desenvolver o seu próprio sistema econômico, que era o acúmulo de capital. O comércio de escravos produzia fortunas, pois a escravização dos negros servia como forma de produção mais hábil e sem gastos, já que não existiam salários. Mantinha-se a ideia do negro como um objeto, de forma a criar uma justificativa moral para a opressão que sofriam.

Assim, os negros sofriam vários tipos de violências, abusos, açoites etc. Para os senhores de engenhos e capitães do mato, essa era a forma de se garantir que os escravizados fizessem todo o trabalho de forma dura. Como toda ação gera uma reação, os negros começaram a se rebelar. Essas revoltas geraram organizações contra a exploração e a luta pela liberdade. Os senhores de escravos para controlar os escravizados os submetiam a um regime de terror. Mesmo assim os negros escravos  organizavam frequentes fugas e rebeliões. Da mesma forma que o sangue e o suor dos negros escravizados contribuíram com o desenvolvimento do capitalismo, sua resistência, junto com a substituição do ciclo da cana de açúcar pelo ciclo do café, levou ao fim da escravidão.


O capitalismo e o racismo caminham lado a lado


O racismo foi muito utilizado para a consolidação do capitalismo, para manter os trabalhadores endividados e submissos. Muito tempo se passou desde o fim da escravidão, e o discurso racista ainda permanece dominante. Embora o governo Lula tenha implantado o sistema de cotas que fez com que o negro tenha conseguido um acesso restrito à educação, pouca coisa efetivamente mudou. O racismo continua e as dificuldades no mercado de trabalho não modificaram. O negro, mesmo com o mesmo grau de instrução de um branco, ainda continua ganhando muito menos.

Depois de explicar a história negra no Brasil e a perpetuação do racismo em toda nossa história, o questionamento inicial se restringe às seguintes perguntas: Existe racismo dentre os próprios negros? É autodefesa?  Ou é uma forma de manutenção e reprodução das ideias racistas das classes dominantes?

Conforme se percebeu através da explicação histórica, sempre houve uma imposição ideológica, por parte das elites, em colocar o negro como subalterno. Isso se dá justamente através do ideário racista.

Conforme explica Marx, as ideias dominantes na sociedade são justamente as ideias das classes dominantes. Dessa forma, a "culpa" não seria do negro racista, ou, por exemplo, de uma mulher com atitudes "machistas". Nesses casos, o que ocorre é apenas a reprodução das ideias dominantes. Embora não seja a forma correta, esse tipo de reação por parte de oprimidos é   comum em uma sociedade capitalista. Além disso, o racismo “cultural” tem como base o verdadeiro racismo, que é o racismo material, que passa pela superexploracão econômica dos negros, que no Brasil, conforma a esmagadora maioria dos setores mais oprimidos.

Com a série de ataques que vem sendo colocado em pauta pela burguesia, dada a impossibilidade de extrair lucro da produção, a tendência é que os setores mais reacionários dentro dos setores oprimidos se reduzam drasticamente.  Em cima dos ataques do capital, a classe operária se colocará em movimento contra a exploração do capital.

A única forma de combater o racismo e a desigualdade é com o fim do capitalismo, o que implica na tarefa central do movimento negro de vincular a luta específica à luta pela emancipação geral dos trabalhadores. A reprodução do discurso das classes dominantes, que são intrinsecamente racistas. Com o fim da exploração do homem pelo homem, o fim do racismo será um caminho natural.


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