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Quilombo dos Palmares

A escravidão perdurou todo o período colonial e imperial da história do Brasil. Consistia em uma imposição de trabalho forçado, por parte do homem branco, ao povo negro que vinha da África nos navios negreiros. Em uma proposta ideológica que propagava a superioridade branca, os negros recebiam o mesmo tratamento que os animais. Eram castigados fisicamente quando não trabalhavam conforme o esperado, marcados a ferro e mutilados quando fugiam e eram recapturados. Como toda ação gera reação, os escravizados tentaram várias formas de revidar e fugir da situação de repressão que viviam.

Várias foram as formas de resistência: suicídio, assassinato de senhores, recusa a trabalhar, etc. Porém, o principal mecanismo da busca pela liberdade foi através da criação dos quilombos ou mocambos. Longe dos olhos dos homens brancos, esses locais funcionaram como uma espécie de comunidades secretas. Fugindo dos locais que trabalhavam como escravos, os negros passavam a integrar essas comunidades, que eram numerosas por todo o território brasileiro.

De forma estratégica, os escravos escolhiam os locais de difícil acesso, dificultando assim sua captura e também pontos próximos à estrada, facilitando assim a operação de pequenos assaltos, que garantiriam a sua sobrevivência. Com o passar dos tempos, esses quilombos também passaram a abrigar indígenas e fugitivos da Justiça.


Palmares: o maior e mais duradouro quilombo


O Quilombo dos Palmares, dentre os vários existentes pelos interiores do Brasil, é considerado como o mais importante da história. Surgido no final do século XVI, localizava-se na Serra da Barriga, região de Alagoas, e foi batizado com esse nome devido ao grande número de palmeiras que existia na região.

No princípio, Palmares era povoado por poucos quilombolas, mas acabou se transformando em um tipo de “Confederação”, devido ao crescimento desenfreado entre as décadas de 1630 e 1650, abrigando vários quilombos daquela localidade. Situação causada principalmente pela invasão holandesa, que tornou a vigilância colonial fraca. Com os senhores de engenho de Pernambuco preocupados em defender suas propriedades, a fuga dos negros era facilitada e a maioria acabou indo para Palmares, causando assim um grande crescimento populacional. Essa comunidade passou a chamar a atenção dos escravocratas, à medida que foi ficando mais organizada e prosperando. Embora tenha surgido no final do século XVI, o apogeu do Quilombo dos Palmares foi na segunda metade do século XVII, período em que atingiu uma população aproximada a 20 mil quilombolas.A subsistência era fornecida pela caça, pesca e coleta de frutas (manga, jaca, abacate, dentre outras). Também praticavam a agricultura de feijão, milho, mandioca, banana, laranja e cana-de açúcar, além de possuírem certa estrutura artesanal, que produzia cestas, tecidos e cerâmica. Os excedentes eram comercializados com as populações vizinhas, o que gerava uma economia razoavelmente intensa na região do quilombo.

Havia uma “hierarquia” em relação ao status dos quilombolas, divididos entre os que chegavam aos quilombos pelos próprios meios (mais prestigiados) e aqueles libertados por inclusões de guerrilha (que possuíam menor prestígio e eram indicados para os trabalhos mais pesados). Como podia ser dividido em mocambos, que eram núcleos de povoamento, supõem-se a configuração política de descentralização do poder entre os vários grupos.

Os colonizadores se assustavam com a prosperidade de Palmares e, após a expulsão dos holandeses do nordeste do Brasil, precisavam de um número crescente de escravos para retomar a produção açucareira. Essa situação levou à cobiça sobre os fugitivos que viviam no quilombo. A queda de Palmares aconteceu diante de múltiplas tentativas fracassadas, onde foram necessárias dezoito campanhas para destruir definitivamente o Quilombo dos Palmares.

A corte portuguesa contratou o bandeirante Domingos Jorge Velho, experiente na guerra de extermínio contra os indígenas. No entanto, as tropas tiveram inúmeras dificuldades para derrotar as táticas de guerrilha dos quilombolas. Logo após a morte do seu mais conhecido líder, Zumbi, o quilombo teve seu fim. Após a derrota dos negros, a região do Quilombo dos Palmares cresceu e se transformou na Vila Imperatriz, elevada à categoria de cidade em 20 de agosto de 1889. Todavia, em 1944, recebeu outro nome: União dos Palmares.


Zumbi: não aos acordos com as elites


É importante lembrar que diante das dificuldades para vencer a população quilombola, devido às inúmeras derrotas nas expedições que ocorreram, o então governador de Pernambuco, Aires Souza e Castro, e o importante líder palmarino, Ganga Zumba, assinaram o “acordo de 1678” ou “acordo de Recife”. Por meio desse “contrato”, o governo pernambucano decretou a liberdade de todos os negros que tivessem nascido em Palmares, concedendo-lhes terrenos localizados na região norte de Alagoas.

Boa parte dos membros do quilombo não aceitou o termo estabelecido por Ganga Zumba. Em consequência, o líder negro foi envenenado por seus opositores. Foi nesta situação que surgiu na história desse quilombo um importante nome: Zumbi. Ele não aceitava nenhum tipo de acordo com as autoridades, preferindo manter os conflitos.

Nascido em Palmares, atual estado de Alagoas, em 1655, Zumbi dos Palmares se tornou o chefe guerreiro de maior destaque na história do quilombo. Ainda jovem, foi capturado e oferecido ao Padre Antônio Melo que lhe ensinou português e latim, além de batizá-lo com o nome de Francisco.

Zumbi fugiu da situação imposta de escravidão e liderou os quilombolas contra várias expedições dos mercenários bandeirantes. Porém, acabou sendo encurralado e morto em novembro de 1695. Sua cabeça foi decepada e levada para Recife, onde, para servir de exemplo, foi exibida em praça pública, prática comum no período para garantir o controle social através do medo.

Assim, perdendo o comando militar de Zumbi, o quilombo desintegrou por completo em 1710. Ainda que tenha perdido a vida, o líder quilombola ensinou o que hoje é de necessário entendimento: acordos com as elites econômicas nada farão, a não ser perpetuar a situação de opressão existente. Atualmente, a data de 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, é considerada o Dia Nacional de Consciência Negra, em um tributo ao importante líder negro e a todos os que resistiram e combaterem bravamente a escravidão.


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