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A farsa do crescimento no Brasil

“Economia reage”; “Mercado prevê menos inflação e mais crescimento econômico para 2017”; “Economia dá sinais de recuperação”. É dessa forma que o Partido da Imprensa Golpista (PIG) tem alardeado a suposta retomada do “crescimento” do Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia cresceu “surpreendentes” 0,2%, no segundo trimestre de 2017.

Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelo setor de serviços e pelo comércio, pelo aumento do consumo das famílias, com direta relação com a disponibilização do saque do FGTS inativo. Ainda assim, na comparação com o mesmo trimestre de 2016, os serviços tiveram uma retração de 0,3%, o que representa a décima retração em sequência no PIB. É, de fato, um “crescimento” manipulado.

Porém, a própria coordenadora de Contas Nacionais, Rebeca de La Rocque Pali, afirmou que “É uma variação positiva. A gente nem chama de crescimento. Apontamos crescimento quando é superior a 0,5%”. Além disso, importantes setores não mostraram qualquer reação. A agropecuária, por exemplo, não teve variação no segundo trimestre. Além disso, esse setor pouco terá a contribuir nos próximos períodos do ano, uma vez que cerca de 70% da safra anual já foi colhida no primeiro semestre.

Outro setor que representaria ganho real na economia, que é a indústria, voltou a recuar. A retração foi de 0,5%, sendo que algumas áreas, como a construção civil, recuaram ainda mais, chegando a 2,0%. Essa foi o 14º período seguido do setor industrial em queda. A baixa da indústria tem impacto direto do consumo do governo, que fez cortes em investimentos infraestruturais, por conta dos ajustes ficais. Assim, a taxa de investimentos no país foi de apenas 15,5%, sendo a menor no segundo semestre desde 1996.


Consumo e Informalidade
Se os setores que realmente puxam o crescimento do Brasil não cresceram, como a indústria e a agropecuária, o que levou a esse crescimento, ainda que pífio? Esse aumento foi alavancado, em primeiro lugar, pelo consumo das famílias, que tem direta relação com a baixa da inflação, acesso ao crédito, mas, principalmente, pelos saques dos inativos do FGTS. Ou seja, agora que esses saques já ocorreram, o “bote salva-vidas” do governo já foi utilizado. O crescimento, a partir desse consumo, teve dia para começar e terá hora para acabar.

Outro dado que está sendo grosseiramente manipulado é o desemprego. Apesar do número oficial de desempregados ser de 13,5 milhões de brasileiros e a taxa de desocupação atingir 13%, o PIG está alardeando um recuo de 0,7% em relação ao primeiro trimestre de 2017. Embora seja a primeira queda importante desde o quarto trimestre de 2014, frente ao segundo trimestre de 2016, a taxa de desocupação ainda é 1,7% maior.

Além disso, essa redução não significa uma real retomada dos postos de trabalho. O que realmente aumentou foi o emprego informal. Conforme apontou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, "É importante notar que esses mais de 1,3 milhão que entraram no mercado de trabalho o fizeram por vias informais, sem carteira assinada".

De fato, o número de empregados com carteira assinada se mantive estável em relação ao primeiro trimestre de 2017 (33,3 milhões de trabalhadores) e recuou 3,2% em relação ao segundo semestre de 2016. Em 2014, o número de trabalhadores com carteira assinada era de 36,880 milhões. O número de trabalhadores formais caiu em mais de três milhões e essa informalidade cobra seu preço. De acordo com o historiador da Fundação Getúlio Vargas, Paulo Fontes, "em geral, a informalidade esteve tradicionalmente associada ao que hoje chamamos de precariedade do trabalho. Quando pensamos em trabalho informal, pensamos numa certa insegurança, em ausência de direitos”.

Ou seja, ao analisar as estatísticas, antes de afirmar que o desemprego diminuiu, temos que ponderar que essa diminuição é condicionada ao acesso a cargos de trabalho precarizados, em que o trabalhador não possuí qualquer segurança ou estabilidade no emprego. Na menor variação da economia, ele retorna à sua posição de desempregado.

Além do emprego informal, pela situação desesperadora da crise, muitos trabalhadores têm apelado ao chamado “empreendedorismo”, ou seja, abrir o próprio negócio. Isso também é contabilizado nas pesquisas que apontam a diminuição do número de desempregados e é tão inseguro quanto o próprio mercado informal: segundo o Sebrae, 23% das empresas falem ainda nos dois primeiros anos. Ao trabalhador, cabe arcar com o prejuízo de não retomar o que investiu e ainda permanecer desempregado.


Transferindo a crise para o povo
Ocorre que a crise econômica não “está passando”. Na verdade, o capitalismo mundial está passando por um colapso generalizado, causado, sobretudo, pela incapacidade burguesa de extrair lucro da produção, dado ao intenso grau de parasitismo da economia. O que se produz hoje é para pagar “dinheiro que não existe”, ou seja, juros e taxas de lucro. A bola de neve da especulação financeira está cada vez maior.

De fato, os dados ora apresentados demonstram como os números econômicos são passíveis de diferentes interpretações. Alardear “bons resultados” econômicos de seu governo é a forma que o presidente golpista, Michel Temer, tenta salvar seu governo, que conta com 3% de aprovação popular, a menor aprovação que um presidente possuiu na história do Brasil.

Manipular os dados também é a forma que os golpistas estão tentando utilizar, para manter os ataques à classe trabalhadora na ordem do dia. A partir do PIG, passam a ideia de “estabilidade”, “retomada do crescimento econômico” e desviam o foco dos ataques, tais como a Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência e o pacote de privatizações que está sendo colocada em prática.

O objetivo é o mesmo de sempre. Através de uma boa aparência, continuar a frenética tentativa de salvar os lucros do imperialismo. Enquanto isso, boa parte dos movimentos sociais e partidos de esquerda continuam apostando em Lula como a “tábua de salvação”, com a vã esperança de que tudo vai se resolver a partir das eleições de 2018 – que nem sabemos como serão e se de fato ocorrerão.  Não nos deixemos enganar por dados falseados e analisados de maneira desonesta. A verdade é que uma efetiva melhora nas condições de vida da classe trabalhadora não é possível dentro do capitalismo. E o aprofundamento da crise, a piora das condições de trabalho e de vida, com certeza, impulsionarão a mobilização da classe trabalhadora. É nesta luta que teremos que apostar e atuarmos vigorosamente junto às massas, contra os ataques do grande capital.


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