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Colonização: começo da exploração mundial capitalista

Em 1492, as caravelas comandadas por Cristóvão Colombo chegaram à América. Esse fato mudou a história da humanidade. Houve um alargamento enorme da percepção do que era o mundo, o contato entre formas de organização social, cultural e política diferentes e, principalmente, o advento do colonialismo. Este pode ser definido como a política de controle de um território por um grupo de indivíduos que não são originários do local em questão. Esse controle se faz a partir da força militar, política e econômica e os habitantes originais desse território perdem parte de seus bens e de eventuais direitos políticos que poderiam ter.

A política econômica desse primeiro momento do colonialismo era o mercantilismo, que se baseava na intervenção estatal na economia, o metalismo e a prática de se extrair lucro das colônias. Por mais que pareça que a intervenção estatal beneficiasse somente as monarquias que existiam à época, a burguesia ganhava inúmeros benefícios, uma vez que era o grupo social que financiava os reis absolutistas. O metalismo era a prática de se procurar uma balança favorável ao País em relação a entrada e saída de pedras e metais preciosos, já que se acreditava que a riqueza de um País era medida a partir da quantidade desse tipo de metal que se conseguisse reter no País. As colônias eram o centro vital desse sistema, que deveriam fornecer produtos valiosos pelas metrópoles, em uma relação de monopólio. Por exemplo, enquanto era colônia, o Brasil não poderia comerciar legalmente com nenhum outro país que não Portugal.

A mão de obra utilizada na colonização americana era a escrava africana, mais um mecanismo de lucro para a Europa. Por muito tempo, os agentes coloniais mais ricos eram os que lidavam com o comércio de escravizados. Isso ocorreu tanto por ser mais um mecanismo de geração de extração de mais valia, em cima do trabalho e do comércio de escravizados, quanto pelo fato que a colonização europeia promoveu um verdadeiro genocídio dos indígenas que originalmente habitavam o continente. Por vezes, por ação direta, com homicídios, e também indiretamente, pelo fato dos indígenas não terem resistência biológica contra as doenças vindas nos navios com os europeus.

O colonialismo, com todas as suas contradições, financiou os reinos absolutistas por séculos. Gerou também a chamada acumulação primitiva de capital, que possibilitou que os países europeus mais adiantados, em primeiro lugar a Inglaterra, passassem pela Revolução Industrial, ocorrida no fim do século XVIII. Esse foi o acontecimento ligado ao viés econômico que possibilitou a consolidação do capitalismo enquanto modelo de produção mundial.


Colonização tardia de África e Ásia
Embora fossem conhecidos antes mesmo da América, os continentes da Ásia e da África, com raras exceções, só foram colonizados no século XIX.  Isso ocorreu porque antes da Revolução Industrial e científica, a Europa não tinha poderio militar, resistência biológica e capacidade técnica para subjugar essas partes do mundo. A norma de contato entre europeus e asiáticos e africanos, até então, era o comércio.

A colonização desses dois continentes são frutos da consolidação do capitalismo e da necessidade de expansão do capital financeiro (junção do capital bancário e do capital industrial). Com a revolução industrial, a Europa passou a produzir mais mercadorias do que conseguia consumir e também passou a ter mais necessidade de matéria prima do que tinha capacidade de produzir localmente. Para suprir essas necessidades, o caminho foi garantir, através da força militar, o domínio político e econômico de áreas inexploradas até então.

É aí que entra a colonização de África e Ásia, diplomaticamente selada entre as metrópoles europeias na conferência de Berlim, de 1885. Ela foi baseada na total exploração das novas colônias, o que levou ao não respeito, por parte dos colonialistas, dos limites territoriais pré-existentes entre os povos autóctones e a criação de nenhuma infraestrutura que não fosse relacionada a aumentar as possibilidades de exploração.

Os povos locais, apesar da escravidão já não existir legalmente, eram explorados ao limite. Exemplo elucidativo disso era o Congo Belga. Se os trabalhadores não conseguissem atingir as metas exigidas pelos colonialistas, tinham que escolher algum de seus membros, mãos ou pés, para ser arrancados. Nesse momento, o sistema de produção já era o capitalismo, em sua fase mais desenvolvida, o imperialismo. Para o capitalismo, não existem direitos humanos, divisão de riquezas, tampouco liberdade. Existe apenas exploração do homem pelo homem e a tentativa capitalista de conseguir cada vez mais lucros.


Independência?
Os países da América se tornaram independentes ainda no início do século XIX. Os da África e da Ásia, que foram colonizados posteriormente a isso, conseguiram sua independência após a 2ª Guerra Mundial. Essas independências, por vezes, foram conquistadas por intermédio da luta armada contra as metrópoles europeias, outras, através de acordos diplomáticos.

Na verdade, falar de descolonização efetiva para o terceiro mundo é uma piada. Conforme escreveu Kwame Nkruhmah, líder da independência de Gana, “descolonização é uma palavra insincera e frequentemente usada pelos porta-vozes imperialistas para descrever a transferência de controle político da soberania colonialista para a africana. A mola mestra do colonialismo, no entanto, continua dominando a soberania. As nações novas são ainda fornecedoras de matérias primas; as velhas, de produtos manufaturados. A alteração das relações econômicas entre novas nações soberanas e seus antigos senhores é apenas de forma”.

Trocando em miúdos: a transferência do poder político para as mãos dos africanos, asiáticos e americanos não mudou absolutamente nada na condição de subalternidade econômica do terceiro mundo em relação as potências capitalistas. A independência é apenas nominal, muito mais para manter as populações dominadas sob controle pelas falsas aparências, fingindo que elas possuem algum tipo de liberdade.

Isso ocorreu porque a maioria das independências não quebraram com o sistema capitalista. Afinal, as bases da opressão e dominação material permaneceram as mesmas.  As que tentaram quebrar com o sistema, o fizeram de maneira isolada, e não tiveram forças para lutar contra um inimigo tão grande e poderoso quanto o capital internacional.

Sim, as guerras de independência foram necessárias e são dignas de admiração e também fonte de inspiração para àqueles que lutam contra a opressão do homem pelo homem. Porém, ensinam uma dura realidade. Não há libertação se não houver libertação econômica. Não há libertação apenas política. O capitalismo já é mais que bicentenário e a experiência acumulada mostra que, para uma real libertação dos oprimidos, é necessário uma outra sociedade, organizada por fora do capitalismo.


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