
O Rio de Janeiro viveu, no último dia 28 de outubro, o seu dia mais sangrento. A chamada "Operação Contenção", uma investida das polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, resultou na morte de mais de 120 pessoas, segundo a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ). Moradores denunciaram à DPRJ graves irregularidades e a provável violação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, conhecida como a “ADPF das Favelas”, que tem como principal objetivo reduzir a letalidade policial. Foram relatadas remoção irregular de corpos, ausência de socorro médico, tortura e execuções sumárias.
A própria justificativa para a “operação” se perde quando dados da própria Polícia Civil revelaram que nenhum dos mortos identificados pelo Instituto Médico Legal (IML), até o momento, constava na denúncia do Ministério Público que serviu de base para a ação. Mais grave ainda: 30 das vítimas sequer possuíam antecedentes criminais, indicando que a operação agiu com um critério de letalidade amplo e indiscriminado.
A narrativa oficial do governo Cláudio Castro (PL) – a de um "confronto" com criminosos que usaram até drones para lançar bombas – começa a ruir frente à realidade dos fatos. O que se viu não foi um confronto, mas uma caçada. A operação, que contou com aviso prévio dado pelo governo do Rio aos Estados Unidos, conforme apurado, assume contornos de uma política de extermínio consentida e planejada, subordinando até a soberania nacional para massacrar sua própria população.
A advogada da organização Redes da Maré, Marcela Cardoso, denunciou à imprensa que nenhuma perícia foi realizada e não houve preservação de local de crime. Ela também comparou o episódio a outras ações policiais no País como a maior apreensão de fuzis da história do Rio, feita num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, e a desarticulação do esquema financeiro do PCC, ambas realizadas sem que ocorresse uma única morte.
A "Operação Contenção" é a materialização de um projeto genocida, que usa a guerra às drogas como cortina de fumaça para uma guerra contra a pobreza, contra a população negra e periférica. É o exemplo mais cabal da necropolítica imposta pelos governos de extrema-direita.
Especialistas em segurança pública e entidades de direitos humanos já alertavam para a escalada. O modelo de guerra implementado no Rio há décadas serve como um laboratório para a repressão. A função desta operação de magnitude inédita é evidente: testar os limites da opinião pública e da institucionalidade para a generalização da violência estatal contra qualquer resistência ao projeto neoliberal. Além de um fundo eleitoreiro que coloca o PL do centro das discussões políticas.
Um Projeto Político de Banhado a Sangue
O massacre não é um fato isolado na crise de segurança do Rio. Ele é um episódio político dentro de um cenário nacional cuja campanha eleitoral está a pleno vapor. Setores da burguesia e do imperialismo, insatisfeitos com a polarização Bolsonaro-Lula, buscam construir uma alternativa que seja capaz de aplicar um projeto de austeridade econômica e controle social com mão de ferro. Cláudio Castro (RJ) e Tarcísio de Freitas (SP) aparecem como os candidatos ideais para esse papel: gestores "moderados" na forma, mas profundamente radicais na aplicação da repressão.
O Alerta Soou: Só a Mobilização Popular Pode Barrar o Terror de Estado
A "Operação Contenção" é um sinal de alerta que deve ecoar por todo o País. O massacre do Rio de Janeiro é o indício de uma ofensiva autoritária que não poupará esforços para silenciar a resistência. Cabe aos movimentos populares, sindicais, às organizações de esquerda e a todos os setores democráticos da sociedade compreender a gravidade deste ataque.
A chave para deter essa política de morte não está nos gabinetes ou na complacência da mídia tradicional. Está na ação direta e unificada das ruas, na organização independente da classe trabalhadora, na defesa intransigente da vida e das liberdades democráticas. O que aconteceu no Alemão e na Penha é uma ameaça a todo o povo brasileiro. Ignorar isso é aceitar passivamente a escalada do terrorismo de Estado.
Foto: Charles Sholl / Brazil Photo Press / AFP