
O pesquisador Everton Rodrigues, do Movimento Software Livre, Economia Solidária e Rede Brasileira pela Soberania Digital, lança um alerta em artigo que está circulando pelas redes: o Brasil pode estar cometendo “um erro estratégico gravíssimo e talvez irreversível”. Segundo ele, o Serpro - Serviço Federal de Processamento de Dados, a maior empresa pública de prestação de serviços em tecnologia da informação do Mundo, que deveria proteger a soberania digital do Estado, está entregando as chaves do País às Big Techs dos Estados Unidos ao construir sua chamada “nuvem soberana” em parceria com Amazon, Microsoft, Google e Oracle. Trata-se de uma armadilha, um “cavalo de Troia” digital com o qual “os EUA terá controle sobre o processamento e armazenagem de dados, informações e conhecimentos de todos nós brasileiros e brasileiras”, analisa.
Baseando-se na tese “Soberania Fatiada”, de João Francisco Cassino (2025), orientada por Sérgio Amadeu da Silveira, Rodrigues sustenta que o projeto entrega “as chaves do cofre digital do Estado brasileiro” a quem já possui “mandado judicial para abri-lo quando quiser”. Ele lembra que leis como a Cloud Act, a FISA e a CALEA autorizam o governo dos EUA a acessar qualquer dado armazenado por empresas americanas, mesmo em território estrangeiro, e exigem que hardwares e softwares tenham “portas dos fundos” para facilitar a espionagem. “Mesmo que o servidor esteja em Brasília, o controle está em Washington”, denuncia.
Rodrigues recorda, ainda, o economista Paul Singer, que já em 2004 advertia sobre o risco de submeter o conhecimento ao domínio privado. “O novo conhecimento não deveria ser propriedade privada, protegido por patentes, mas deveria ser livremente disponível para todos”, dizia Singer.
Para Rodrigues, o Brasil vive hoje sob o domínio de monarquias digitais que concentram poder, exploram trabalho, manipulam informação e controlam algoritmos capazes de definir quem é incluído ou excluído socialmente. “Enquanto continuarmos comprando soberania de quem nos vigia, seremos reféns, não de um golpe militar, mas de um contrato”, adverte.
A alternativa, segundo ele, é reconstruir uma política pública baseada em software livre, infraestrutura nacional e controle popular. Caso contrário, a promessa de soberania digital será apenas uma fachada e o Brasil, mais uma vez, estará sob tutela estrangeira, vigiado em seus próprios servidores e algemado digitalmente à lógica do lucro e da submissão.
Leia o artigo original e o conteúdo citado em:
Everton Rodrigues, A “nuvem soberana” do Serpro é um cavalo de Troia dos EUA no Território Brasileiro (2025)
João Francisco Cassino, Soberania Fatiada: Controle das Infraestruturas e Subordinação da Autoridade Pública no Mundo Digital (2025)
Paul Singer, Desenvolvimento capitalista e desenvolvimento solidário (2004)
Foto: banco de imagens Serpro