A morte da professora Silvaneide Monteiro Andrade, durante o expediente no Colégio Estadual Cívico-Militar Jayme Canet, em Curitiba, em 30 de maio de 2025, acendeu um alerta urgente sobre as condições de trabalho na rede estadual de ensino do Paraná. Silvaneide, que lecionava Língua Portuguesa, faleceu após sofrer um infarto fulminante durante uma reunião convocada pela equipe pedagógica da escola.
Relatos indicam que a professora estava sob forte pressão em uma reunião com a gestão escolar, quando teve o mal súbito, sendo cobrada pelo seu índice de acesso às plataformas digitais da Secretaria Estadual de Educação (SEED). Este trágico episódio, longe de ser isolado, é o estopim de um modelo educacional que há anos adoece seus profissionais com cobranças desumanas e metas excessivas. A APP-Sindicato alerta que denúncias de assédio, constrangimento e cobranças a educadores por não atingirem metas de uso das plataformas, implementadas pelo governo Ratinho Junior (PSD), são recorrentes no trabalho diário desses profissionais da educação.
A resposta política a esse triste episódio foi rápida na Assembleia Legislativa. O deputado Arilson Chiorato (PT) protocolou um pedido de informações à SEED solicitando detalhamento das metas atribuídas à professora, o teor da reunião e registros das cobranças realizadas no dia do óbito. Ele também anunciou que acionará o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Estadual para investigar o caso.
Paralelamente, a APP-Sindicato convocou toda a categoria para a Semana de Luto e Luta em Defesa da Vida- que propõe a realização de atos em memória da professora Silvaneide em todas as escolas do estado. Foi lançada, também, a "Semana de Plataforma Zero", de 02 a 06 de junho – um chamamento à greve no uso das plataformas digitais, como forma de protesto contra as metas excessivas impostas pela SEED e pelo fim do assédio que a categoria tem sofrido. No dia 07 de julho, em Curitiba, ocorrerá uma Assembleia Estadual presencial para avaliação das estratégias de luta e realização de um dia de paralisação.
Este modelo pedagógico mercadológico, adotado pela administração do governo Ratinho Junior ( PSD), que prioriza o uso intensivo de plataformas e dispositivos tecnológicos com cobrança exacerbada por resultados quantitativos em detrimento do diálogo ou reflexão crítica, tem impactado e desumanizado o processo de ensino-aprendizagem, assim como precarizado as condições de trabalho da categoria.
Um recente relatório da UNESCO, "Tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?"(2023), aponta que "há poucas evidências robustas do valor agregado da tecnologia digital na educação" e que seu uso excessivo pode ter uma correlação negativa com o desempenho dos estudantes. O documento enfatiza que a tecnologia deve ser utilizada como complemento de uma educação baseada na interação humana, não como substituta dessa interação.
A APP-Sindicato ecoa esta posição em seu manifesto "Educação humanizadora em tempos de tecnologias digitais"(2023), e denuncia a perda de autonomia docente, a violação de privacidade, a exclusão de estudantes e a mercantilização da educação no estado do Paraná pelo atual governo. Vanda Santana, secretária Educacional da APP, ressalta: "O relatório [da UNESCO] dá concretude ao que já vivenciamos nas escolas do Paraná pela plataformização intensa do processo de ensino-aprendizagem e corrobora o posicionamento do sindicato, já expresso no manifesto". Conforme o manifesto, o uso das tecnologias digitais deve ser encarado enquanto recursos pedagógicos que atendam a autonomia docente e a gestão democrática para a consolidação de um processo educativo humanizador e emancipador.
É urgente a necessidade de mudança estrutural no sistema de educação orientado pela ideologia neoliberal. O caso de Silvaneide ilustra tragicamente como a pressão por resultados numéricos, desacoplada de condições dignas de trabalho e do foco na aprendizagem real e humanitária, tem consequências devastadoras em um sistema já fragilizado. No Paraná, a educação pública chora sua perda. Mas seu legado pode ser o ponto de partida para salvar quem ainda resiste de pé.
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