Já passou pela sua cabeça que a Classe Trabalhadora está voltando ao nível de exploração do século XIX? Vejamos o paradoxo:
Na atual fase do capitalismo mundial, onde nunca a tecnologia foi tão importante, poderíamos trabalhar menos para trabalhar todos. Poderíamos trabalhar duas, três horas por dia, três, quatro dias da semana e estaria bom.
Se considerarmos os milhões e bilhões que trabalham 8, 10, 12 horas ou mais por dia e os milhões e bilhões que não têm trabalho nenhum, bastava reduzir a jornada e empregar todos.
No entanto, isto contrasta com o metabolismo social do capital, que é destrutivo. Afinal, o lucro dos capitalistas é obtido da exploração da classe trabalhadora e o número de desempregados forma o exército de reserva, a população excedente que não é absorvida diretamente pelo processo de valorização do capital e ajuda a manter baixos os salários de quem está empregado.
Com tanto avanço tecnológico, ainda debatemos pautas que nos remetem a séculos passados, como melhores condições de trabalho, fim do trabalho infantil etc. A redução da jornada de trabalho, que no século XIX representou uma sangrenta vitória das lutas operárias, se mantém na ordem do dia e diferencia países com mais ou menos bem-estar social. Enquanto no Brasil, a CLT permite jornadas de 44 horas semanais, a França, por exemplo, aprovou a redução da jornada para 35 horas semanais na década de 1990 (a Lei entrou em vigor nos anos 2000).
A Bélgica foi o primeiro e único país da Europa a legislar sobre o tema da jornada 4x3. Em 2022, os trabalhadores belgas ganharam o direito de realizar uma semana de trabalho completa em quatro dias em vez de cinco, sem perda de salário. No entanto, a lei permite apenas que eles condensem a carga horária semanal em menos dias por semana — o que para muitos significa quatro dias com 9,5 horas de trabalho. Ou seja, há muita luta a ser realizada para os trabalhadores conquistarem o direito aos benefícios que a tecnologia traz e o maior deles é trabalhar menos para que todos trabalhem.
Os ataques aumentam
A pejotização, processo de contratação de trabalhadores como pessoas jurídicas (PJs), avança no Brasil e escancara uma política de extermínio dos direitos trabalhistas. Debates como direito a férias, 13º salário, salário mínimo, Previdência Social etc., estão ameaçados.
Este é o cenário dos trabalhadores de aplicativos, por exemplo. Precisamos refletir: será que entramos na era da escravidão digital? E será que somente os trabalhadores “uberizados” estão sendo escravizados tecnologicamente?
Redução da jornada de trabalho sem redução de salário nem benefícios já!
Foto:reprodução