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EUA dão um “chega pra lá” nos aliados europeus

Em negociações realizadas na Arábia Saudita, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, aceitou as condições impostas pelos Estados Unidos e acenou favorável aos 30 dias de trégua na guerra contra a Rússia

Em negociações realizadas na Arábia Saudita, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, aceitou as condições impostas pelos Estados Unidos e acenou favorável aos 30 dias de trégua na guerra contra a Rússia. O “toma lá, dá cá” girou em torno da retomada da ajuda militar estadunidense e de um acordo econômico que envolve a cessão de parte de seus minérios para os Estados Unidos. A proposta de cessar-fogo, sob tais condições, foi levada à Rússia, que ainda não se manifestou.   

 

As expectativas do chamado “Ocidente coletivo”, grupo de países capitalistas que foram, oficialmente ou não, aliados dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, de 1947-1991, hoje dividido, era lucrar muito com as ricas terras da Ucrânia e com o domínio de seu mercado. Os EUA sempre estiveram e ainda estão no comando do império atlanticista, não seria agora que desistiriam de ficar com a maior parte (ou todos) dos benefícios que a Ucrânia tem a oferecer. É por isso que os minerais raros da Ucrânia estão no centro das negociações. O país possui 21 das 30 substâncias que a União Europeia (UE) define como "materiais brutos essenciais", representando cerca de 5% das reservas mundiais que são cobiçadas pelos EUA. 

Uma guerra sob encomenda 

Entre os anos 2013 e 2014, as “aves de rapina” imperialistas se uniram no movimento que ficou conhecido como “Euromaidan” ou “Revolução Colorida de Maidan” (Praça da independência, em Kiev, capital da Ucrânia) com vistas a derrubar o governo pró-Rússia do País. Para isso, criou-se uma onda de grandes manifestações públicas, agitações civis e ocupações de prédios administrativos. Os opositores ao governo de Viktor Yanukovytch assumiram o controle da Ucrânia com a benção do Ocidente. Yanukovytch teve que fugir para a Rússia, que perdeu seu aliado. Graças a esse movimento, Zelensky, o “novato político” aliado do Ocidente foi “eleito”, em 2019, assumindo a presidência da Ucrânia. Ironicamente seu partido leva o nome de Criado do Povo. 

   

Sob o guarda-chuva da Organização do Atlântico Norte, OTAN, o terreno foi bem-preparado, com tudo que se tinha direito, para iniciarem um conflito com a Rússia e, de quebra, enfraquecerem as negociações do chamado Sul Global, em prol de uma nova ordem multipolar defendida pela China, aliada da Rússia. Uma das provocações foi a tentativa de fazer evoluir as negociações sobre a inserção da Ucrânia na OTAN, existentes desde 2002 e rejeitada pelo governo derrubado de Yanukovytch. A ação gerou resistência da Rússia e fez a guerra “por procuração” da OTAN contra os russos ser desfraldada em solo ucraniano. 

 

Agora, mais do que nunca, os interesses estadunidenses por trás de todo o investimento na Ucrânia são inegáveis. Isolar e desagregar a Rússia na eurásia; afastá-la da comercialização do gás com Alemanha, deixando-a sem forças competitivas, tornando os europeus, mesmo a “contragosto”, “obrigados” a comprarem o gás liquefeito americano e, assim, manter toda a Europa de joelhos diante da força maior do império: esses são alguns dos principais objetivos dos EUA. Isso sem falar que o Ocidente, saindo vitorioso do conflito, garantiria uma sobrevida, não se sabe até quando, à hegemonia imperialista sob o comando estadunidense, além de desacelerar a consolidação e ampliação do BRICS, que reúne os países do Sul Global, que lutam para fugir do sistema de operação da SWIFT (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), que lucra com as taxas cobradas nas transações bancárias. 

Com o passar do tempo, a SWIFT, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) se transformaram em “moedas de troca” de apoio e de aplicação de sansões de toda ordem e natureza aos oponentes do império. Inclusive com o poder de provocar quedas de governos ou de impedir o desenvolvimento econômico e social de países do Sul Global, como vários da América Latina e de toda parte do mundo. Com a vitória sobre a Rússia, seria possível o retardamento do processo da desdolarização e o grupo de países reunidos no G7 teriam mais condições para enfrentar o poderio produtivo e comercial da China e o poderio armamentista da Rússia.  

Como se vê, são muitos interesses em jogo. O império estadunidense, em processo de decadência, luta com todas as suas armas contra o surgimento de uma da ordem multinodal entre os povos. Contudo, eles não contavam com a unidade de acordos comerciais e tecnológicos entre Rússia e China, posteriormente com a Coreia do Norte e o Irã. Não contavam com a capacidade da Rússia em desenvolver sua economia de guerra e de adaptação no campo de batalha, dos avanços tecnológicos de primeira ordem do espaço aéreo e de manutenção da coesão interna de sua população. Enquanto isso, o governo estadunidense teve sua crise alargada com os Democratas no poder, e não puderam impedir o desenvolvimento das relações comerciais da China com vários países de vários continentes. A insatisfação popular com o governo dos Democratas, conhecidos como “senhores da guerra”, colocou mais uma “pedra no caminho” do ocidente coletivo, chamada Donald Trump.  

Eleito pelo partido Republicano, Trump tomou para si a promessa demagógica de fazer os EUA grande e forte novamente. Difícil será conseguir tal feito sem correr o risco de dividir ainda mais sua população, acirrando as contradições internas, podendo levar o País a conflitos civis de ordem maior. Assim, estão na ordem do dia a quebra da economia globalizada como conhecemos, sob a hegemonia dos EUA, a divisão entre os países ocidentais e no interior da própria OTAN. Muito provavelmente, o governo Trump não fará expansionismo territorial, mas não hesitará em transferir sua crise para outros povos, abandonando pelo caminho seus velhos e cordeiros aliados europeus, entregando-os à própria sorte, como se vislumbra no momento.  

Diante da eminente vitória da Rússia, Trump procura acordos vantajosos em negócios de exploração das terras raras ucranianas e minerais diretos com o governo da Rússia.  A Europa “chora” por não ser chamada à mesa para possíveis negociações. Possivelmente, Trump não queira dividir os dividendos da guerra, já que Zelensky poderá cumprir seu papel de líder fictício e entregar parte das riquezas de seu País, assinando acordos diretamente com os EUA, enquanto a Rússia deverá ficar com as regiões mais ricas. Certamente os termos serão impostos pela Rússia. As “lágrimas de crocodilo” da União Europeia, nas pessoas do presidente da França, Emmanuel Macron, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, não defenderão a segurança da população e dos trabalhadores ucranianos, nem do restante da Europa, em crise. Eles acumulam todos os tipos de perdas.  A UE, ao se sentir em crise econômica e social por ter cedido às pressões estadunidense, agora chora pelo abandono de seus senhores.

 

Imagem:  X @ZelenskyyUa


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