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Inteligência Artificial e escravidão real

Neste mês de abril, o governo de São Paulo, sob comando de Tarcísio de Freitas, anunciou que a rede estadual de Educação passará a utilizar, ainda este ano, o ChatGPT – chatbot de inteligência artificial (IA) da empresa OpenAI – para a produção das aulas digitais que os professores estão obrigados a utilizarem como forma de treinar alunos para avaliações externas. A IA substituirá os professores especialistas que produzem as aulas digitais e os colocará, se preciso, para validar o material produzido.

De acordo com Glauber Arbix, em matéria publicada no Jornal da USP, em novembro de 2023, pesquisa recente no universo do trabalho on-line nos Estados Unidos com milhares de pequenas empresas e freelancers, identificou uma queda de 2% na demanda por esses trabalhadores e uma diminuição de mais de 5% na sua remuneração desde o lançamento público do ChatGPT. Uma das conclusões importantes da pesquisa é a de que a IA, além de reduzir a oferta de emprego, também diminui o valor do trabalho mais qualificado. Ainda que iniciais, essas pesquisas, de acordo com Arbix, sugerem, entre outas coisas que sem proteção legal regulatória, mesmo os trabalhadores mais qualificados serão fortemente atingidos pela inteligência artificial.

Assim, é preocupante que a Secretaria de Educação de São Paulo (Seduc), tendo à frente o empresário paranaense, Renato Feder, que aprofunda, em ritmo acelerado, os mecanismos de mercantilização da Educação, esteja adotando a IA, antes mesmo da existência de uma agência pública capaz de regular, segundo Arbix, a mais poderosa tecnologia da história da humanidade, que impacta as nossas vidas em todas as suas dimensões.

Antes mesmo de tomar posse, Tarcísio demonstrou que sua gestão teria compromissos políticos com certos setores privados. A escolha de Feder, tem como pano de fundo colocar em prática o compromisso de desviar verbas públicas para os cofres de grupos privados que apoiam sua eleição, além de garantir lucros pessoais. Feder é sócio da offshore Dragon Gem, dona de quase 30% da Multilaser. Em 2022, ainda na transição de governo, Feder fechou um contrato para fornecer notebooks ao Estado, no valor de 76 milhões. Em 2023, a empresa do Secretário recebeu ao menos 83 milhões para entregar computadores e celulares para a Seduc. 

Recentemente, o governador também anunciou que planeja organizar um leilão para empresas privadas assumirem a construção e gestão de 33 escolas estaduais. Como o governo já encaminhou à Assembleia Legislativa um projeto de Lei que visar cortar mais de R$ 9 bilhões do orçamento da Educação, está evidente sua intenção de tirar a responsabilidade do Estado sobre a oferta e o direito da população à Educação e entregá-la à iniciativa privada, cujo objetivo principal é o lucro.

A contratação de gestores pelo consórcio de grupos privados chamado Líderes Públicos e a terceirização dos serviços de limpeza e segurança, que mantém trabalhadores em situação de extrema precarização, com constantes atrasos salariais, são outros exemplos dos mecanismos para repassar os robustos recursos orçamentários de uma das maiores redes de ensino do país aos setores privados.

Ao mesmo tempo, as escolas paulistas permanecem sucateadas e com ambiente hostil para crianças e jovens com dificuldades socioeconômicas de vários níveis, massacrados pelo uso de plataformas, telas e avaliações externas que em nada contribuem para a melhoria do processo ensino- aprendizagem. A categoria docente tem adoecido com as péssimas condições de trabalho, enquanto Tarcísio transforma a Educação em um balcão de negócios lucrativos para grandes empresas à custa da escravização dos trabalhadores do setor.

A tecnologia é fruto da infinita capacidade humana de criar recursos que facilitam a vida e deve ser aliada da classe trabalhadora, libertando-a das tarefas exaustivas. Portanto, o uso dela não pode servir para aumentar a exploração e desqualificar o trabalho humano. Para defender a Educação Pública é preciso lutar para que as verbas públicas, retiradas do suor dos trabalhadores, sejam investidas nos professores, com redução da jornada, sem redução salarial, com salário digno para todos, e nas escolas, com melhorias na infraestrutura.
 

Foto: Jonathan Kirn


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