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O povo palestino tem direito à resistência e a viver em paz!

O contra-ataque dos palestinos, ocorrido no último dia 07 é, entre tantas outras coisas, mais uma tentativa de encontrar uma saída contra a opressão sionista promovida pelo governo de Israel. Trata-se de um grito de socorro dos excluídos e dos oprimidos contra seus colonizadores. É a resposta de um povo que teve sua voz abafada por décadas, que teve seus direitos usurpados por mais de 60 anos pelas forças repressivas de exércitos armados até os dentes e das guerras impostas por seus algozes israelenses. A população mundial deve se levantar na defesa definitiva da causa humanitária palestina.

A resistência palestina ocorre em meio, e como consequência, do desmantelamento do império ocidental, capitaneado pelos Estados Unidos. A crise profunda do imperialismo de conjunto e seu enfraquecimento têm aberto caminho para o surgimento de revoltas e levantes nos países do chamado Sul Global, países colonizados há séculos pelos que estão reunidos no G7 (EUA, França, Canadá, Alemanha, Reino Unido, Itália e Japão) e seus aliados de primeira ordem, como o Estado de Israel.

Desde a operação militar especial da Rússia, desencadeada em fevereiro de 2022, no território da Ucrânia, contra os países imperialistas organizados militarmente na Organização do Atlântico Norte (OTAN), o mundo já não é o mesmo. Essa data pode ser considerada um marco da quebra da hegemonia estadunidense. Desde então, os países oprimidos e colonizados vivenciam, ao seu modo, rebeliões, revoltas e insurgências. Exemplo disto é o que vimos acontecer, recentemente, na região de Sahel, na África, e agora, com mais veemência, com a insurgência da resistência Palestina contra Israel, no Oriente Médio.

No caso da Palestina, o imperialismo, em aliança com os israelenses sionistas, beneficiados com a criação artificial do Estado de Israel, em 1948, ignora o direito do povo palestino de viver em seu próprio território, de ser um Estado autônomo e independente e de viver pacificamente com outros povos. Pelo contrário, os tratam como “animais humanos”, como disse o próprio primeiro ministro de extrema direita de Israel, Benjamin Netanyahu. São milhares de crianças, mulheres, idosos e homens mortos a cada vez que a resistência palestina, com poderio bélico infinitamente inferior ao de Israel, entra em luta.

 

O falso moralismo dos genocidas colonizadores

A região que compreende a Faixa de Gaza é uma verdadeira “terra sem lei”. Ali todos os acordos internacionais, feitos desde a criação de Israel, são ignorados e os palestinos foram sendo empurrados para territórios inóspitos, como a Faixa de Gaza, onde vivem de forma desumana. A Faixa de Gaza é o lugar de maior densidade demográfica do planeta, também considerada um dos maiores campos de concentração a céu aberto do mundo. O que acontece ali é um genocídio étnico. Mais de dois milhões de palestinos se encontram concentrados, cercados por muros e isolados geograficamente. Dependem da solidariedade internacional para sobreviverem, principalmente da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes. Neste momento, a população civil está sem água, energia, alimentos e medicamentos, por decisão do governo de Israel. Tudo é controlado por eles. Até o direito de ir e vir.

Eis a hipocrisia dos “defensores” da democracia burguesa e dos direitos humanos. Simplesmente ignoram, quando lhes convém, o direito de os povos colonizados resistirem, inclusive de forma armada e com métodos próprios contra os seus colonizadores, ainda que isso seja reconhecido como legítimo pelo direito internacional. A própria Organização das Nações Unidas (ONU) não classifica o Hamas (em Árabe, “Movimento de Resistência Islâmica) como terroristas. A narrativa contra o Hamas, que o acusa de “terrorista”, é promovida pelos aliados de Israel, o grupo do G7. Já no Brasil, essa propaganda fica por conta dos aliados dos sionistas, os políticos da direita e da extrema-direita bolsonarista do Congresso Nacional, além da imprensa corporativa, porta-voz do imperialismo ocidental.Em toda a história de luta dos palestinos, a cada ação de resistência, Israel responde com mais violência e tirania. Não há equivalência entre o poderio militar e econômico do Estado de Israel em comparação aos grupos de libertação da Palestina. Em 2006, nas eleições para escolha dos 132 membros do Conselho Legislativo da Palestina (CLP), órgão legislativo da Autoridade Nacional Palestina (ANP), o Hamas conquistou 74 cadeiras, concorrendo contra a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e o Fatah (Movimento de Libertação Nacional da Palestina). Eleitores palestinos da Faixa de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, territórios então ocupados por Israel, participaram do pleito.

Politicamente e militarmente é desmoralizante o fato da contra ofensiva do Hamas, desencadeada pelo seu braço armado, Brigadas Izz ad-Din al Qassam, não ter sido detectada a tempo pelo “poderoso” esquema de espionagem inteligente e artilharia da defesa israelense. Neste contexto, Netanyahu, com maiores e mais pesados recursos bélicos, ataca duramente os palestinos da Faixa de Gaza, com o pretexto de “autodefesa” e pratica crimes de guerra sob o olhar passivo da comunidade internacional. Com a desculpa de lutar contra “terroristas”, abre guerra contra o Hamas e massacra os civis palestinos. O falso moralismo dos que cometem crimes acobertados pelas instituições do Estado é covarde. Matam e esfolam uma população inteira, com financiamento internacional, mas se acham no direito de acusar os outros pelos mesmos métodos que usam há décadas contra os palestinos.

 

A desagregação do império norte-americano e o levante dos oprimidos

Israel se deu bem até o momento. No entanto, agora, com o enfraquecimento do imperialismo dos EUA, OTAN e União Europeia, a conversa pode ser outra. Aprofunda-se a crise política entre os EUA e os árabes do Oriente Médio, em particular contra Israel. E essa crise não começou com a contra ofensiva do Hamas, no último sábado. É bom lembrar que o Hamas é um grupo fundamentalista religioso e reacionário, porém, estrategicamente, se alia aos antissionistas, se coloca contra a opressão de Israel e luta pela existência do Estado Palestino.

Ser antissionista significa ser contra a limpeza étnica e o sistema de apartheid israelense. O sionismo é um movimento político que se manifestou no final do século XIX, advindo da comunidade judaica europeia, que passou a financiar a imigração de judeus para a região da Palestina, ocupada, à época, pela Inglaterra. Defendiam a criação do Estado Judeu independente. O termo sionismo foi criado por Nathan Birnbaum (1864 – 1937), com referência a Sião, nome bíblico. O colonialismo racista dos sionistas se baseia na crença de que os palestinos são um povo desprezível e estranho àquelas terras. Daí o slogan do movimento sionista ser: “uma terra sem povo para um povo sem terra”. A ideia sempre foi de expulsar os palestinos e tomar seu território, que passaria a ser destino dos judeus espalhados por todo o planeta desde a diáspora da Antiguidade.

Em 1947, a ONU, controlada pelo governo estadunidense, criou o plano de divisão da Palestina em duas terras: um estado judeu (Israel) e um estado árabe (que na época incluía o que é agora Gaza, Cisjordânia e outros). Jerusalém ficaria no centro, como território internacional, uma vez que é uma cidade sagrada para a três maiores religiões monoteístas do mundo: judaísmo, cristianismo e islamismo. Dessa forma, com o apoio do presidente dos EUA, Harry Truman, Israel é fundado em 1948. A partir desse momento, os acordos previstos na ONU não se cumpriram e, por meio de várias guerras e ocupações, hoje, Israel ocupa 90% do território palestino e se configura como o braço armado do imperialismo ocidental na região.

Contudo, com a desagregação em curso do império norte-americano criou-se brechas para os palestinos se insurgirem novamente. O Hamas se distancia do caminho da colaboração, levado adiante por outros líderes da resistência palestina, como Mahmoud Abbas, o Fatah e a Organização para Libertação da Palestina,OLP. E, diante da violenta resposta de Israel, poderá ocorrer a unificação dessas lideranças que vinham em conflito. A verdade é que esses líderes se enfraqueceram perante a opinião pública palestina, que perdeu a confiança na possibilidade de resolver sua situação através da política de conciliação, principalmente com Israel comandada por Netanyahu. Desde 2005, período de construção do muro separatista, uma barreira entre o território árabe da região da Cisjordânia e o território israelense, havia uma paralisia dos enfrentamentos armados e a Palestina, há 18 anos, não conseguia responder aos ataques genocidas do Estado de Israel. Pode-se dizer que a contra ofensiva do Hamas, no início de outubro, se deu pelo acúmulo da opressão e pela falta de confiança nas lideranças existentes em conduzir a luta pela libertação do povo palestino. Uma tentativa arriscada, pois sabem como Israel responde em sua guerra colonial contra os levantes da população palestina. 

Os próximos acontecimentos poderão dizer se haverá uma terceira insurreição, pois há a possibilidade de uma generalização da rebelião em todos os territórios palestinos e do envolvimento do Irã e da Síria. Neste sábado, 14, o Hezbollah, sediado no Líbano, assumiu a autoria dos ataques realizados em  área ocupada por israelenses, localizada entre Líbano e Israel. O vice-chefe do Hezbollah, Naim Qassem, em comunicado, afirmou que o grupo está “totalmente pronto” para contribuir com as lutas na guerra de Israel contra os palestinos.

O conflito também impede a aproximação dos Emirados Árabes e Arábia Saudita, os dois países que mais financiam a população palestina na Faixa de Gaza, com Israel. A União Europeia voltou atrás na retirada da ajuda financeira à Faixa de Gaza e, para fechar o cerco, a ação do Hamas tem provocado uma importante comoção mundial em favor da libertação palestina,mesmo diante da contestação de ocorrência de mortes de civis. A questão é que Israel acumula muito desgaste político com esta guerra colonial, principalmente diante da nova ordem geopolítica que está sendo gestada.

De toda forma devemos nos solidarizar incondicionalmente com resistência palestina e denunciar o genocídio em curso promovido pelo Estado de Israel contra a população palestina. Há várias manifestações ao redor do mundo neste sentido. Fiquemos atentos aos acontecimentos vindouros.

Foto: Idee&Azione


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