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Abram alas para o Sul Global

Após 22 anos, desde sua idealização e formalização, o BRICS, um mecanismo de cooperação para sustentação do desenvolvimento dos países membros e colaboradores, forjado por países conhecidos como pertencentes ao Sul Global, espalhados por vários continentes, ganha maioridade e abre caminhos para novos integrantes.

Em meio à crise do bloco imperialista ocidental, composto pelos países mais ricos do mundo, juntam-se ao Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul, membros originários do BRICS, novos emergentes, países em desenvolvimento e pobres, explorados e estrangulados pelas grandes potências imperialistas que, por sua vez, estão reunidas no Grupo dos sete, G7, (Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Japão e Itália). A liderança do sistema imperialista é dos EUA, que controlam o Fundo Monetário Internacional, FMI, e o Banco Mundial de Desenvolvimento, BID. A emissão do dólar predomina em todas as transações financeiras global, sua poderosa indústria armamentista é sustentada pela aliança militar do Norte que reúne 28 países integrantes da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o país conta com mais de 200 bases militares espalhadas pelo globo terrestre.

São cerca 300 anos de hegemonia do Norte Global, desde a britânica à estadunidense, mas a atual mudança do eixo econômico mundial em curso está pondo medo nos caçadores diante de sua caça, os países explorados do Sul Global.

O imperialismo que, segundo Lênin, é a etapa superior do capitalismo, o momento de superação da fase concorrencial para a fase monopolista globalizada, teve seus tempos de glória. Após a Segunda Guerra Mundial, que terminou em 1945, o mundo experimentou o período da Guerra Fria, em que União Soviética e EUA disputavam e dividiam o controle do mundo. Com a dissolução do bloco soviético, em 1989, o domínio dos EUA tornou-se unilateral. Mas, agora, ao que tudo indica, esse domínio encontra-se em processo contínuo de ruínas, acelerado pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia (leia-se, OTAN) e, mais recentemente, pelas lutas anticolonialistas por parte de países da África ocidental. Paira no ar também a própria desagregação da União Europeia. Um efeito dominó.

Por outro lado, o Banco de Desenvolvimento e Cooperação dos países do Sul Global e emergentes, chamado de banco do BRICS, desponta como alternativa aos fluxos financeiros e comerciais do G7, FMI e Banco Mundial de Desenvolvimento. A 10º reunião da cúpula do BRICS, ocorrida entre os dias 22 e 24 de agosto, em Joanesburgo, África do Sul, torna-se um marco na inversão da ordem hegemônica estadunidense. Está aberta a possibilidade concreta da materialização da existência de polos econômicos distintos no mundo. Levantou-se, com a expansão do BRICS, agora chamado BRICS Plus, uma grande discussão internacional sobre a crise do sistema financista imperialista, por um lado e, por outro, a luta por soberania dos países oprimidos pela ordem perversa do império, baseada na violência e no medo.

Além dos seis novos integrantes, Arábia Saudita, Irã, Argentina, Egito, Emirados Árabes e Etiópia, há uma fila de espera para novas adesões, como membros e como países colaboradores. Ao todo, os países integrantes do BRICS Plus são detentores de 33% do PIB mundial, referente ao ano 2022, contra 30% do G7, além de reunir os maiores produtores de petróleo e o maior contingente populacional do planeta.

A população mundial assiste a uma transformação sem precedentes nas relações entre os países imperialistas e os países empobrecidos e explorados pela ordem econômica atual. Uma outra ordem só será possível com o enfraquecimento e a queda do neoliberalismo econômico do capital, concentrados no mundo unipolar.

Com o BRICS Plus tornando-se realidade, abre-se a possibilidade concreta da substituição do dólar por outra ou outras moedas, nas transações comerciais entre os países. Quiçá, num futuro próximo, a economia mundial estará independente do papel verde estadunidense e do seu sistema SWIFT, plataforma que permite trocas de informações entre bancos e empresas, muito importante para o comércio internacional. Isso poderá significar o aceleramento da desdolarização, já em curso.

O banco do BRICS plus, com 11 países membros, é comandado hoje pela ex- presidenta brasileira, que sofreu um golpe de Estado em 2016, Dilma Roussef. O Brasil, por meio da liderança do presidente Lula, desempenha um fundamental papel na articulação do BRICS plus com a América Latina.

Toda essa tendência de mudança de eixo no campo da economia geopolítica, do mundo unipolar para o multipolar, liderada pelo franco crescimento econômico da China, coloca o bloco de países do Sul Global em contraposição aos interesses dos países mais ricos do bloco imperialista. No entanto, ainda não há o envolvimento direto da classe trabalhadora como elemento impulsionador dessas transformações. Neste sentido, é preciso debater, propor e impulsionar que, a partir da luta anti-imperialista, ocorra uma reorganização da esquerda mundial, em unidade pela luta em defesa do socialismo.

Foto:  Anadolu Agency

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