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Violência de gênero: manchetes de obituários ou misoginia gratuita?

Nos últimos séculos, o crescente movimento de luta das mulheres na busca por igualdade de gênero tem impulsionado transformações positivas na sociedade. Ainda assim, o machismo e a misoginia são presentes em toda a sociedade, sendo reproduzidos pela imprensa tradicional, uma vez que a opressão contra as mulheres é parte estruturante do sistema capitalista, um problema que não pode ser resolvido “no varejo”. 

As constantes chamadas de matérias e textos de obituário vinculadas na imprensa burguesa, a exemplo da Folha de S. Paulo, têm minimizado a importância de mulheres notáveis, numa evidente perpetuação do machismo escancarado. O último ataque misógino gratuito veio com a morte de Aracy Balabanian, cuja chamada foi: “Aracy Balabanian fez aborto e não quis se casar para cuidar da carreira”. Ou seja, toda a grandiosidade artística de Aracy foi reduzida às informações de cunho pessoal, sem qualquer relevância social, numa tentativa de depreciar a atriz com base em moralismo barato.     

Esse não foi um caso isolado. Em 2021, com a morte trágica da cantora Marilia Mendonça, o jornal priorizou falar sobre o corpo da cantora: “Marília era gordinha e brigava com a balança. Mais recentemente, durante a quarentena, vinha fazendo um regime radical que tinha surpreendido a muitos. Tornava-se também bela para o mercado. Mas definitivamente não foi isso que o Brasil viu nela”. Como se não bastasse focar especificamente no corpo de Marília Mendonça, o jornal ainda desrespeitou a memória da cantora e ignorou suas conquistas artísticas. Marilia ao longo de sua carreira recebeu 10 prêmios (inclusive um Grammy Latino em 2019), bateu recorde em uma live na pandemia com 3,3 milhões de visualizações, mas recebeu em seu obituário a frase: “Nunca foi uma excelente cantora”.

A praxe dos jornais burgueses como a Folha de São Paulo é a de frequentemente perpetua estereótipos, privilegiando machismo em detrimento do respeito com as mulheres. A lógica desse machismo estrutural é relativamente simples: manter essa importante parcela da sociedade embrutecida, oprimida e menosprezada. A morte da jornalista Glória Maria foi outro exemplo dessa pratica. A Folha fez uma nota com a chamada: “Glória Maria tinha quantos anos? Jornalista fazia de tudo para esconder a idade”. Rita Lee, também teve sua trajetória reduzida a detalhes sensacionalistas: “Rita Lee, rebelde desde a infância, se deixou guiar por drogas e discos voadores’”. Essa abordagem não apenas desrespeita a memória destas mulheres notáveis, mas também perpetua a noção equivocada de que suas realizações são menos relevantes do que outros aspectos de suas vidas. A cobertura de obituários deveria celebrar as conquistas e o legado deixado por essas mulheres, mas se transformou em mais um espaço para perpetuar a opressão de gênero. 

Esta é a mesma imprensa neoliberal, defensora da ordem capitalista, sistema que transforma tudo em mercadoria, inclusive as mulheres, e que enquanto pôde, alijo-as do poder político. Todo repúdio a misoginia escancarada da imprensa burguesa!


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