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Romeu Zema e a xenofobia escancarada do neoliberalismo

No início do mês de agosto, Romeu Zema, governador de Minas Gerais, concedeu entrevista ao jornal Estadão, em que fez uma série de afirmações preconceituosas e xenófobas contra os estados do Norte e Nordeste do país. O governador afirmou que os estados do Sul e do Sudeste seriam prejudicados pela Reforma Tributária, argumentando que “já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político”. Como o Sudeste não tem protagonismo político sendo que no início da história republicana do Brasil, São Paulo e Minas Gerais governaram, sozinhos, o país, na política coronelista chamada de Café com Leite? 

Zema ainda piorou a situação. Na entrevista, afirmou que “está sendo criado um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte", sugerindo que o governo Lula estaria priorizando essas regiões em detrimento do Sul e Sudeste que, segundo ele, também têm pobreza. " "Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta?", questionou o governador que está em seu segundo mandato e nunca demonstrou preocupação com a situação dos mineiros mais pobres. Zema conclui seu pensamento comparando a suposta situação com a de um produtor rural que dá tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Assim, além de ignorar que o Nordeste e o Norte são, de fato, as regiões mais prejudicadas em sentido socioeconômico do Brasil, Zema simplesmente comparou o Nordeste e o Norte com “vacas que produzem pouco”, o que não é real.

A região do Nordeste brasileiro foi uma macrorregião assim definida por volta da década de 40, quando divisões regionais foram feitas para fins administrativos. O Nordeste tem em seu bioma a região costeira, regada por resquícios de mata atlântica, e o interior formado por caatinga e cerrado. Foi a primeira região colonizada pelos europeus e o principal polo econômico da época para a acumulação primitiva de capital europeia, com comércio de especiarias, matérias primas e pessoas escravizadas. Era importante para os colonizadores portugueses e almejada por outros europeus, como os holandeses, que invadiram a região e tentaram tomá-la para si, buscado local de forte produção de cana-de-açúcar. Esses aspectos e principalmente a presença da população negra vinda do continente africano e seus descendentes, fez também da região uma das mais ricas em cultura e em lutas sociais no Brasil. Foi no Nordeste que ocorreram diversas revoltas de pessoas escravizadas, de insatisfação antimonárquica, onde surgem ideias republicanas e, posteriormente, combate ao elitismo republicano do Sudeste. Elitismo que Zema, apoiador de Bolsonaro, faz ecoar nesse momento em que a extrema direita busca ganhar saldo com o eleitorado conservador. Também no Nordeste houve importantes ações de resistência contra a ditadura militar. Atualmente, a região tem sido um freio para a crescente ascensão do neoliberalismo e do fascismo no Brasil, mesmo com suas contradições e suas próprias figuras desse polo político.

Todos esses aspectos demonstram os motivos políticos de que levam figuras como o Governador Romeu Zema a expressarem xenofobia em relação a população nordestina. Em quase todas as eleições pós-redemocratização a região é conhecida por apoiar a eleição de partidos de centro-esquerda, em especial a de Lula, e renegar neoliberais protofascistas, como Zema e Bolsonaro 

Discursos como o de Zema evidenciam a perspectiva fascista, que utiliza o racismo (a região é proporcionalmente a mais preta do país) e a xenofobia para propor segregação e morte das pessoas que são obstáculos a sua política. A xenofobia no Brasil aumentou significativamente após a eleição do fascista Jair Bolsonaro e de aliados como Romeu Zema. Esses políticos perpetuam esse discurso, preterindo uma região por outra e alimentando o discurso anticonstitucional de divisão do território, além do racismo e xenofobia. 

Com Zema em Minas Gerais, Tarcísio de Freitas em São Paulo e Cláudio Castro no Rio de Janeiro, a região mais populosa do país se encontra nas mãos de políticos que alimentam o fascismo em território brasileiro, mesmo que eles busquem se distanciar da imbecilidade violenta de Bolsonaro e sejam apresentados como “moderados” pela grande mídia. Fora Zema! Seu bolsonarismo de sapatênis não enganam ninguém.
 


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