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Copa do Mundo Feminina: a luta das mulheres por mais espaço, investimento e contra preconceitos

Na última segunda-feira, 24 de julho, com uma goleada de quatro a zero, a seleção brasileira venceu o Panamá no primeiro jogo entre os times na Copa do Mundo Feminina, que acontece na Austrália e Nova Zelândia. O jogo foi repleto de emoções desde a entrada das jogadoras de ambos os times em campo, afinal o Brasil ainda não conquistou nenhuma estrela na Copa Feminina e também é primeira vez que o Panamá participa desse campeonato mundial.

As mulheres ainda estão conquistando seu espaço nesse meio liderado pelos homens. São anos de luta pelo reconhecimento e valorização do futebol feminino, mas ainda há uma grande distância em relação ao masculino.   

É  a primeira vez que a seleção feminina brasileira tem camiseta própria pensada para a Copa. Também é a primeira vez que foi instituído ponto facultativo para servidores públicos assistirem aos jogos, que, pela segunda vez, são transmitidos em TV aberta. Porém, diferente da Copa masculina, somente os  jogos do Brasil serão transmitidos, sob a alegação de que não há audiência suficiente para apresentar todas as partidas da Copa do Mundo Feminina. 

Para acompanhar todo o campeonato, o público depende de canais de divulgação do YouTube ou por assinatura e quem se arrisca a fazê-lo pode perceber, pelos comentários dos narradores, que o esporte está longe de ser valorizado. São várias manifestações de misoginia e  machismo, tanto contra quem joga, como contra quem assiste. As jogadoras são constantemente sexualizadas e, em cada lance, seus preparo e força comparados aos dos homens.

O futebol feminino foi legalizado no Brasil em 1979, mas somente em 1983 foi devidamente regulamentado. A ex-jogadora Formiga,  atleta que mais disputou copas e olimpíadas do mundo (tanto entre homens e mulheres) nasceu um ano antes da legalização e conta que arrancava a cabeça das bonecas que ganhava para poder jogar e muitas vezes tinha que ser escondida, para não sofrer violência das pessoas da rua e até da própria família. 

No Brasil, o futebol foi proibido para as mulheres por meio de uma lei instituída pelo Estado Novo e regulamentada na ditadura militar, que vigorou por  40 anos. O texto da Lei, que criava "as bases da organização dos desportos em todo o país", instituindo o Conselho Nacional de Desportos (CND, extinto em 1993), determinava que "às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza". Outro argumento era de que o esporte  "prejudicava a maternidade".   Também na Europa, no século XX, o conservadorismo patriarcal impôs restrições às mulheres esportistas e o futebol foi restrito a homens na Inglaterra, Alemanha, França e Bélgica, entre outros. Apesar da mudança nas leis, esse pensamento se repete em grande parte da população ainda hoje, como o caso recente de uma escola em Belo Horizonte que proibiu uma aluna de participar no campeonato de futsal por ser mulher. A mãe recorreu à Justiça e a escola deverá pagar indenização à estudante. 

O futebol feminino vem conquistando mais espaço no rentável mundo dos esportes, mas é graças à resistência das jogadoras contra as  proibições e preconceitos que ele faz história. Considera-se que a  seleção brasileira está em seu melhor momento na modalidade, mas  ainda há muita desigualdade em relação ao masculino; faltam investimentos, patrocínios e sobram  preconceitos. A jogadora Marta é um grande exemplo disso, pois precisou ser, por seis vezes, a melhor jogadora do mundo para ter o merecido reconhecimento e investimento no país. Ela, atualmente, é considerada a “Rainha do Futebol” e a melhor jogadora do mundo entre os homens e mulheres, mas, mesmo assim, ganha menos de 1% do que Neymar, por exemplo.  

 A evolução do esporte feminino no mundo é nítida aos olhos do público que hoje lota arquibancadas e garante audiência nos meios de comunicação. Uma evolução que acompanha as próprias conquistas das mulheres em outros espaços como no mercado de trabalho e na política.    Ao conceder aos trabalhadores o direito de se ausentar do serviço para acompanhar os jogos da seleção, como acontece na Copa do Mundo masculina, o governo federal deu um passo importante para a valorização do esporte. Isso permite aumentar a sintonia do público com a força das jogadoras, que lutam diariamente pela importância de seu trabalho. Mas, como em todos os outros espaços, ainda há uma grande luta pela igualdade de gênero, equiparação salarial, oportunidades inclusive nos contratos de patrocínio e contra toda violência e preconceito que as mulheres sofrem nesse meio. É um avanço histórico a conquista do futebol feminino atualmente, mas ainda faz parte de um começo.  


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