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Religião e Forças de Repressão

Nos dias 14 e 15 de março aconteceu uma situação  aparentemente inusitada na Igreja Universal do Reino de Deus: uma massiva quantidade de viaturas, incluindo bases móveis, se encontravam em frente ao templo localizado na zona oeste de São Paulo. A estimativa é que cerca de mil policias estiveram presentes no local para um evento.
Desde 2018, a Igreja Universal presta “assistência espiritual” às forças de segurança do país. Além de ofertar café da manhã, essa assistência espiritual é um acumulado de instruções aos policiais no que chamam de  “momento de reflexão", em um programa chamado Universal nas Forças  Policiais (UFP). A Universal garante que esse programa visa o bem-estar emocional dos profissionais de segurança, além de respeitar a liberdade religiosa individual dos policiais.
Apesar de parecer uma ação isolada, com fundamentação solidária por parte da Igreja evangélica,  eventos similares a esse ocorreram cerca de setenta vezes no último ano,  o que levanta um questionamento sobre a existência de convênio entre Igreja e Secretarias de Segurança  Pública. O portal The Intercept investigou os eventos,  dentro da Lei de acesso a informação. No entanto,  nem todas as Secretarias de Segurança  quiseram falar e aqueles que o fizeram defendem que essas ações são voluntárias.
 Segundo os membros da Igreja,  a participação  não é obrigatória aos trabalhadores da segurança e a igreja aproveita o momento para pregar suas doutrinas porque é ela que cede o espaço.
No Mato Grosso esses eventos foram descritos como “informais” e "muito bem vindos" pela polícia militar. Nesse estado a UFP entregou bíblias aos ouvintes no Dia Internacional da Mulher. Enquanto no Mato Grosso do Sul as visitas visam “ promover o bem-estar da família policial militar “. Há também uma participação ativa nos demais estados do país.
 A Igreja Universal,  criada em 1977, cresceu de forma meteórica no país nas últimas décadas e expõe suas ideologias de forma direta e massiva aos trabalhadores,  já que existem templos em todo território nacional. No último governo ficou evidente a ascensão da bancada evangélica no Congresso Nacional e de líderes políticos que defendem valores cristãos, fenômeno típico da ascensão da extrema direita autoritária.
O  resultado é o aumento da  opressão aos trabalhadores, por isso a aliança com as forças de repressão, que ignora o fato de o estado ser laico, devendo se basear apenas na Constituição. Para a população que sofre a repressão estatal por meio  dos profissionais da Segurança Pública, mais especificamente os marginalizados, o conservadorismo  cristão representa mais possibilidade de discriminações e ações preconceituosas contra as liberdades individuais. 
Além da possível e provável relação econômica que essas duas entidades, Igreja e Secretarias de Segurança Pública, mantém, há a tentativa de  caracterizar heroicamente os militares quando se agregam valores cristãos e patriotas ao seu trabalho.
O Estado laico é uma conquista da burguesia, desde a Revolução Francesa, no século XVIII. No entanto, é essa mesma burguesia que lança mão da religião para apoiar seu projeto de poder.  Os  ideais religiosos são  bem vistos pela população, servindo de alento às dores causadas pelos problemas materiais. Portanto, é preciso compreender as manifestações religiosas populares e escancarar as relações que Igrejas e líderes religiosos mantém com o Estado, em função de seus projetos políticos de  dominação classista. 

 


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