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Ministério Público do Trabalho denuncia Sérgio Camargo

O atual presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, foi denunciado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por assédio moral, perseguição ideológica e discriminação. Relatos de 16 ex-funcionários e servidores, exibidos no programa Fantástico, da TV Globo, no domingo (29/08), mostram que o clima de terror psicológico, humilhação e perseguição contra aqueles que Camargo chamava de “esquerdistas” era uma rotina, e levou alguns concursados a pedirem demissão dos cargos. O MPT pediu o afastamento do presidente da Fundação, além de uma indenização de R$ 200 mil por danos morais, segundo o programa de TV.

O início da gestão do presidente racista Jair Bolsonaro abriu a porta para que aqueles que compactuam com a ideia do racismo pudessem colocar para fora, de forma explícita, o seu preconceito. Sérgio Camargo é mais um destes. Um homem negro, que desde o início de sua gestão à frente da Fundação exibe seu racismo de forma escancarada em publicações nas redes sociais e falas públicas, gerando inúmeras ações de repúdio do Movimento Negro, e até mesmo uma ação na Organização das Nações Unidas (ONU). Bolsonarista declarado, Sérgio Camargo não se intimida em fazer declarações abertamente racistas, desrespeitar o passado histórico da população negra, questionando e alterando a lista de personalidades negras fundamentais para nossa história, numa prática explícita de negação do legado negro, além de defender a escravidão, afirmando que esta foi benéfica para os descendentes dos escravizados. A presença de Camargo na presidência da Fundação é, além de uma tentativa de deslegitimar a organização, uma forma de colocar em evidência o “negro racista”, que compactua com a exploração dos seus e que minimiza toda e qualquer questão ligada à raça. 

O desmonte gerenciado pelo atual governo é indiscutível, principalmente no que tange às pautas de luta das parcelas minorizadas da população. Indígenas, negros e mulheres presenciam diariamente suas conquistas serem revogadas ou negligenciadas. Como resultado de anos de luta e reivindicação do povo negro, foi criada, em 1988, a Fundação Cultural Palmares, uma instituição de caráter público com a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira. Sua tarefa principal seria desenvolver ações que promovesse a igualdade racial e a valorização das manifestações de matriz africana, através de políticas públicas que fomentasse a participação da população negra brasileira de forma positiva nos processos de desenvolvimento do País. Justifica a criação da Fundação a necessidade de tornar público para toda a sociedade o papel imprescindível da população negra na construção e desenvolvimento do Brasil, no passado e no presente, tornando conhecida a economia, engenharia, ciências, artes, cultura e educação; descontruindo assim preconceitos e estereótipos, e a ideia comum, ainda vigente em nossa sociedade, de negras e negros como “mão de obra” incapazes de pensar ou de atuar em funções que requerem conhecimentos mais elaborados.

Contudo, o atual gestor da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, vem, desde a sua posse, em 28 de novembro de 2019, atuando de forma contrária aos princípios para o qual a Fundação Palmares foi criada. Investigado por crimes de racismo e injúria racial, Sérgio Camargo permanece no cargo, fazendo a necropolítica orquestrada pelo governo federal, à revelia das acusações. Trata-se de um representante legítimos dos interesses das elites. 

Sérgio Camargo representa o pensamento do atual governo no que diz respeito à população negra e sua luta. Trata-se de um governo autoritário de ataque à classe trabalhadora, de desmonte de conquistas alcançadas por anos de luta, de valorização da violência. Um governo racista, que trabalha para o grande capital, potencializando discriminações e alargando ainda mais a diferença entre ricos e pobres. Sérgio Camargo é retrato deste governo. Ao atuar contrário ao que deveria ser obrigatório para alguém que ocupa o cargo de presidente de uma Fundação criada para fomentar a valorização da população negra, Sérgio Camargo atua em total alinhamento com o governo e sua política.  Trata-se de uma questão gravíssima que nós, do Coletivo Negritude da LPS (Luta pelo Socialismo), um coletivo que busca por diferentes meios de atuar no enfrentamento ao racismo e todas as formas de violência contra a população negra, não podemos ignorar. Neste sentido, nós, do Coletivo Negritude, nos somamos aqueles que exigem a retirada de Camargo da função, contudo, entendemos que a mudança efetiva da realidade pede mais que isto: pede a derrubada de todo governo Bolsonaro e seu modelo de gestão.

Sabemos que é impossível a constituição de uma sociedade justa e igualitária no interior do capitalismo. A desigualdade de classes é inerente a este sistema, assim como as discriminações. Sendo assim, reafirmamos que o enfrentamento e eliminação do racismo exigem a superação do capitalismo e a construção de uma nova ordem social. 
 


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