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Afeganistão: das Torres aos Partidos

A atual fase do capitalismo expressa, de forma cristalina, a putrefação desse modo de produção que está levando a humanidade a elevados estágios de barbárie. A dominação hegemonizada pelos EUA e potências, principalmente europeias, utilizam forças militares, ocupações territoriais e constituem alianças com burguesias e governos nacionais dos países dominados. Tais processos históricos, ao serem implementados, estabelecem contradições, com avanços, retrocessos e importantes movimentos de resistência, inclusive dissidentes de iniciativas do próprio EUA.

No caso da ocupação do Afeganistão, em 2001, o pretexto foi o atentado às chamadas Torres Gêmeas, ocorrido em setembro do mesmo ano, em Nova York. A ação foi atribuída à Al Qaeda, cujo líder, Osama Bin Laden, estaria no país atacado. Não poderia faltar o discurso já completamente desgastado de que, além de "pegar" Osama, seria "instaurada" uma democracia nos moldes Ocidentais, ensinando às "incautas tribos" islâmicas afegãs o que seria melhor para elas. Para concretização dos planos foram disponibilizados oceanos de dólares e de armamentos, além, obviamente, de um governo aliado fantoche, interno ao Afeganistão, a serviço dos interesses estadunidesnes e europeus. Os Estados Unidos, a potência imperialista que mais participou da implantação de ditaduras sanguinárias e dezenas de golpes pelo mundo no pós-guerra tem, na verdade, como único objetivo saciar e alimentar o capitalismo que ainda hoje tem nela o seu pilar principal.

Passados 20 anos, a um preço altíssimo, sem derrotar o Talibã, mas tendo a ocupação como parte importante da política EUA/OTAN de fiscalizar e vigiar o Irã a partir de vários países, inclusive o Afeganistão, a ocupação ficou insustentável. Governos republicanos e democratas se revezavam nas "promessas" de retiradas das tropas, o que não só não acontecia, como aprofundava os problemas na região. O desgaste foi aumentando e, hoje, cerca de 70% dos estadunidenses, contingente eleitoral significativo, rejeitam a ocupação, o que levou o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, a defender e construir um acordo com o Talibã. Derrotado por Biden, as datas foram adiadas para que o novo governo preparasse a retirada das tropas e do corpo diplomático.

O que os americanos não esperavam era a ofensiva, em poucas semanas, do Talibã, que tomou bases e 14 capitais de província, entrando em Cabul, no último domingo, dia 15/08. A retirada das tropas estadunidenses dias antes, evitou que se criasse um roteiro de derrota, fragilizando a imagem do poderio militar EUA/OTAN. 

Podemos dizer que se trata de um reposicionamento americano no mundo, que a disputa sobre quem será a potência hegemônica no futuro está em aberto, que até mesmo a "questão afegã" não está resolvida. Mas foi um duro revés para o imperialismo dos EUA, ainda que a tomada do governo central pelo Talibã não signifique, de forma alguma, estabilidade política e militar na região. Caracterizado por posições ultra-ortodoxas na aplicação da leitura do Alcorão, o Talibã é detentor de posições fundamentalistas e reacionárias. Porém, o fato é que expulsaram mais um invasor. Objetivamente, são uma força política que será considerada no novo tabuleiro mundial. Estão contribuindo para a desconstrução do discurso hipócrita humanitário imperialista das invasões para "instaurar democracias”. 

Em qualquer lugar do mundo que o imperialismo tiver que sair pela força das armas, abre-se um cenário de possibilidades para os povos oprimidos, uma vez que os EUA visam somente seus interesses, ao preço de milhares de mortos em inúmeros países. O que não significa um “cheque em branco” aos momentaneamente vitoriosos.
 

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