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Nações que reagiram cedo à pandemia da Covid-19 se recuperam

Comemorado pelo ministro da Economia Paulo Guedes, o crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, no primeiro trimestre de 2021, não representa nada se comparado a outros países que tiveram uma atuação minimamente coerente no combate e prevenção contra a pandemia do Covid-19, especialmente aqueles que realizaram lockdown para impedir a disseminação do vírus e que adquiriram, com agilidade, as vacinas contra a doença.

O ranking mundial da Austin Rating, divulgado no último dia 1º de junho, que avalia o crescimento do PIB, deixa claro o resultado da política criminosa adotada por Bolsonaro no enfrentamento à doença: o Brasil perdeu sete posições, caindo de 12º para 19º, entre os 50 países pesquisados. O País ficou atrás, inclusive, de “vizinhos” como Chile (3,2%) e Colômbia (2,9%), que ficaram em quarto e sétimo lugar, respectivamente, no ranking de países que mais obtiveram crescimento no Produto Interno Bruto no primeiro trimestre deste ano. Em primeiro lugar ficou a Croácia, com crescimento de 5,8%.

Chama a atenção o fato de a Colômbia ter uma recuperação maior que o Brasil, quase o dobro de crescimento. Isso porque há quase um mês os colombianos realizam protestos contra seu governo, que queria impor uma reforma tributária, cujos principais impactados (negativamente) seriam a classe média e os mais pobres. Mesmo o governo voltando atrás, a população não saiu das ruas pedindo políticas públicas efetivas. 

O pouco crescimento do PIB brasileiro, segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, está relacionado ao atraso da vacinação e a interrupção, por quatro meses, do auxílio emergencial de R$ 600, que voltou a ser pago no mês passado, mais com um valor muito menor e beneficiando menos da metade da população que recebeu a ajuda em 2020. Para o economista, presidente do Instituto Lula, Marcio Pochmann, embora os 1,2% seja considerado uma recuperação da economia, com a população sem poder de compra e sem auxílio emergencial, o consumo pode cair novamente e o País não terá a recuperação necessária para sair da crise econômica aprofundada pela pandemia. 

Pochmann afirma, ainda, que a falta de distribuição de renda e a retirada do auxílio emergencial irão aprofundar ainda mais as desigualdades sociais e de renda, e lembra que apesar de a riqueza do País não ter aumentado, o número de ricos que eram responsáveis por 7% do PIB, em 2019, subiu para 15,2%, em 2020. Ou seja, a comprovação de que os momentos de crise são utilizados pela burguesia para aumentar a concentração da renda, deixando os detentores de capital ainda mais ricos.

Segundo o presidente do Instituto Lula, o setor de serviço é o que poderia puxar a demanda, já que representa 73% do PIB brasileiro. Mas sem adicional na renda das famílias, sem investimento público etc., e levando em consideração as várias restrições no Orçamento da União uma boa recuperação da economia é impossível, principalmente diante de um cenário de fechamento de empresas como que estamos vivendo. A queda do setor de serviços foi de 0,8% só no primeiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período de 2020. Se comparado ao mesmo período de 2019, a queda foi de 0,7%, e no segundo trimestre de 2020, a queda foi de 10,2%.

Causas da recuperação do PIB podem ser temporárias 

Os especialistas apontam, ainda, que uma das causas do pequeno avanço do PIB brasileiro pode estar ligado à reposição de estoque das indústrias e comércios que se mantiveram por um longo período sem fazer compras, já que no ano passado houve uma retração das demandas, e as empresas preferiram esperar que seus estoques fossem consumidos ao longo do ano. Outro fator, segundo o economista Marcio Pochmann, foi o aumento nas exportações, que têm 11% de peso na composição do Produto Interno Bruto. Todo início de ano há um aumento das exportações em função das colheitas de safras, o que acaba tendo um peso maior no índice, que é a soma das riquezas do País.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por sua vez, avalia que o crescimento de 1,2% do PIB, neste primeiro trimestre, se mantém longe do histórico aumento de 3,1%, alcançado durante o governo Dilma Rousseff (PT), em 2014. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que em 2011, no governo Dilma, o PIB per capita era de US$ 13,295 bilhões, caindo para US$ 8,751 bi, em 2016, sob o governo de Michel Temer (MDB-SP) e chegando a, pasme, US$ 6,783 bilhões, em mês de maio deste ano, na gestão de Bolsonaro.

O avanço e o aprofundamento da crise do capitalismo não deixam dúvidas quanto a necessidade do enfrentamento às políticas neoliberais que vêm sendo impostas pelos governos de direita. O governo neoliberal de Jair Bolsonaro trabalha na mesma linha liberal do governo Macri, na Argentina, que afundou o País numa gigantesca crise financeira, antes mesmo do início da pandemia. As privatizações de estatais e as reformas que retiram direitos históricos dos trabalhadores têm como única função colocar nas costas da classe trabalhadora todo o prejuízo que a crise causou aos grandes capitalistas. O que se vê é a concentração ainda maior dos lucros no bolso de poucos, enquanto a grande maioria da população é onerada. 

As políticas públicas de auxílio deveriam ser expandidas em momentos de crise, visando garantir a sobrevivência da maior parte da população. O que ocorre é justamente o contrário. O crescimento do PIB brasileiro em 1,2% nesse primeiro trimestre de 2021 se deu basicamente em função destas poucas políticas públicas. A redução de sua abrangência e do valor pago causará um impacto negativo no próximo período, piorando ainda mais a crise. A única forma de “salvar” a economia brasileira seria empregar as verbas públicas na manutenção do Auxílio Emergencial, Bolsa-família e outros programas de auxílio à população e acabar com as políticas privatistas e neoliberais que buscam dar para os grandes banqueiros e empresários imperialistas uma parcela cada vez maior de lucros. Isto, obviamente, não acontecerá no sistema capitalista, que não pode proporcionar bem-estar social para o povo, porque justamente vive da opressão e da exploração do homem pelo homem. Portanto, só a luta pela completa alteração da ordem econômica e social pode dar respostas e acabar com essas mazelas sociais. 
 

Foto: Kim Hong-Ji/Reuters


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