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Violência contra a mulher e pandemia

A pandemia da COVID 19 tem sido utilizada pelos governos burgueses, no Brasil e no mundo, para potencializar diversas mazelas como a fome, o desemprego, a corrupção, retirada de direitos, privatizações etc. Isso sem falar na irresponsabilidade dos órgãos públicos no gerenciamento da saúde e tantas outras situações. Entretanto, em meio às manchetes desastrosas, a temática de violência contra a mulher tem tomado proporções gigantescas e tristes.

Ainda que nos últimos anos o debate de gênero tenha crescido e as cobranças de medidas para a proteção de mulheres estejam mais contundentes, com a chegada da COVID-19, militantes e entidades têm pedido uma maior atenção ao problema. Em abril de 2020, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, já alertava aos países sobre a latente problemática que o isolamento domiciliar poderia trazer às mulheres: “Pedimos que os países considerem os serviços de combate à violência doméstica como um serviço essencial, que deve continuar funcionando durante a resposta à Covid-19”.

A equação é simples: 68% dos casos de violência física são provocados por pessoas próximas à vítima, especialmente maridos, companheiros e parceiros. Em isolamento, essas mulheres estão 24h por dia com seus agressores, o que, inclusive, resulta em uma maior dificuldade para efetuar a denúncia, aumentando a subnotificação.

No Brasil, somente em 2020, os números de denúncias de violência contra a mulher chegaram a 105.821 nas plataformas Disk 100 e 180, representando 30% das denúncias oficialmente registradas nessas plataformas. Porém, é importante ressaltar que o governo genocida de Jair Bolsonaro tornou inviável a comparação com os anos anteriores, uma vez que alterou a forma de registro, a fim de mascarar os reais danos que sua política excludente, racista, sexista e elitista causa na população. Segundo os dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, a maioria das vítimas de violência doméstica, registradas em 2020, foram mulheres “pardas”, entre 35 e 39 anos, com ensino fundamental completo e renda mensal de até um salário mínimo, evidenciando que é na classe trabalhadora, principalmente em profissões subjugadas, onde a violência acontece em maior número. Herança de uma sociedade patriarcal  e escravocrata.


Mundo

 

Diversos países também têm registrado um aumento massivo no número de denúncias de violência contra a mulher em períodos pandêmicos.  De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU/Mulheres)  mulheres refugiadas e deslocadas correm maior risco de violência de gênero, mesmo antes da COVID-19. É o caso das venezuelanas refugiadas na Colômbia. Segundo o Ministério da Saúde deste último país, a violência contra mulheres venezuelanas teve um crescimento de 40% entre janeiro e setembro de 2020, enquanto a fundação sem fins lucrativos Cúcuta, da Venezuela, afirmou que com a chegada da COVID-19, o número de denúncias diárias de violência contra a mulher pulou de 15 para 100. O Global Protection Cluster registrou, ainda, que em países como Afeganistão, Síria e Iraque houve um aumento de 90% das denúncias. No caso das  mulheres refugiadas,  conforme alerta de ONGs,  sequer podem recorrer aos instrumentos legais para receber as medidas necessárias de proteção.

Outro dado importante é que a situação caótica para a sobrevivência das mulheres não se resume apenas aos países em subdesenvolvimento. Relatos do aumento de violência em tempos de COVID-19 também podem ser encontrados em locais como a Suécia, mundialmente conhecida pela segurança, igualdade de gênero e a autopromoção como um “Governo Feminista”. Em 2020, o Conselho Nacional Sueco para a Prevenção do Crime apontou um aumento de 15,4% no número de denúncias de violência doméstica, estatísticas materializadas nas últimas seis semanas, quando seis mulheres de idades distintas foram assassinadas por pessoas próximas, reacendendo a discussão sobre a temática no País.

Esse aumento, no entanto, numa evidente demonstração xenófoba e racista, foi apontado pela população sueca como uma onda de violência provocada por imigrantes e refugiados.

A violência contra as mulheres tem relação direta com o patriarcalismo de sociedades conservadoras como a brasileira, cuja subordinação da mulher ao homem é cultural. Mas ela também aumenta nos países com grandes avanços democráticos em período de crise econômica, uma vez que é um dos pilares de sustentação do capitalismo. Em tempo de crise, como o que vivemos agora, o aumento da exploração é a regra. As mulheres trabalhadoras, especialmente as mulheres negras, estão na base da pirâmide de opressão, portanto, são alvos centrais dessa política de ataques. Sempre que a crise aperta, são elas as que mais sofrem – as primeiras a perderem os empregos, a saírem da cadeia de produção e, consequentemente, voltarem à situação de completo embrutecimento doméstico e todas as mazelas decorrentes da sociedade dividida em classes e pautada na opressão do homem pelo homem (aumento de violência doméstica, estupro, feminicídio etc.).

A luta contra a opressão da mulher é, necessariamente, a luta pela transformação da sociedade. É preciso combater os casos diários de machismo e violência contra as mulheres sem perder de vista a luta pela tomada do poder pelas trabalhadoras e trabalhadores.

Foto: Arquivo EBC


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