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Guerra comercial das vacinas

Com o grande desenvolvimento tecnológico e científico do mundo atual espera-se que produção e distribuição de vacinas em escala global deva ser prioridade. Mas, ao invés de uma corrida pela imunização em massa da população mundial, o que está ocorrendo é uma corrida puramente comercial.

Isso fica ainda mais óbvio quando se comparam valores. Enquanto a vacina da universidade de Oxford tem o valor de mercado de US$3 a US$4 dólares por dose (R$ 16 a R$20 reais), as vacinas desenvolvidas pela farmacêutica norte-americana Moderna e pela parceria entre a também norte-americana Pfizer e o laboratório alemão BioNTech, chegam a valores de US$ 20 a US$ 40, o que em moeda brasileira pode representar um custo de R$ 100 a R$ 200 por dose. Já a vacina russa, Sputinik V, tem valor de mercado abaixo dos US$10 dólares para os mercados internacionais. Saíram à frente os grandes países imperialistas, que possuem não somente fábricas e materiais necessários para a produção de vacinas em seus próprios territórios, como também capital para comprar os imunizantes pelos preços de mercado, imunizando primeiro suas populações e mantendo estoques de vacinas para negociar, sob condições que lhes interessam, com os países pobres.

No contexto em que a pandemia aterroriza populações do Brasil e da Índia, com novas variantes surgindo, a guerra comercial das vacinas segue seu fluxo apoiada pela grande imprensa, porta voz dos interesses do gigante mercadológico que é a Indústria Farmacêutica. Assim, denúncias e indícios de conspirações têm sido constantes e colaboram para aumentar a desconfiança da população em relação à vacinação, bem como para justificar a ausência de planos eficazes de imunização em países como o Brasil, por exemplo. Um exemplo foi a ordem para que a produção de vacinas contra Covid-19 da marca Johnson & Johnson fosse paralisada em uma fábrica, que sofreu intervenção do governo, investigada por supostamente desperdiçar milhões de doses. A decisão foi da FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos), agência que regula os medicamentos dos Estados Unidos.

De acordo com o jornal “The New York Times” pelo menos 15 milhões de doses da vacina foram “destruídas” após uma empresa subcontratada, a Emergent BioSolutions, misturar ingredientes das vacinas da Johnson & Johnson e da Oxford/Astrazeneca. A empresa também é acusada várias práticas inadequadas que a levaram  a destruir cerca de 15 milhões de doses  de vacinas da Oxford/Astrazeneca.

Também têm sido alardeados pela imprensa os casos de reações adversas à algumas vacinas. Como aconteceu com a Astrazeneca, na Europa, a vacina da Janssen (subsidiária farmacêutica da norte-americana Johnson & Johnson) foi colocada sob desconfiança devido ao relato do surgimento de casos de coágulos sanguíneos em 0,0008% das pessoas imunizadas. Essa guerra de informações coopera para aumentar as dúvidas de parte da população sobre a importância da vacinação, enquanto toda a comunidade científica defende imunização como único meio de se conter a pandemia. 

Já no caso da recusa do governo brasileiro em permitir a compra da vacina russa Sputnik V, aprovada em 61 países, a questão geopolítica tem sido determinante. A Anvisa rejeitou a importação de doses da Sputnik V por supostas falhas de segurança e o Fundo Russo de Investimentos (patrocinador do imunizante), acusou a agência brasileira de tomar uma decisão contaminada por orientação dos Estados Unidos. 

Os trabalhadores devem ter consciência de que, no sistema capitalista, as questões são resolvidas para garantir os lucros das empresas que controlam a comercialização das mercadorias. Com a vacina não é diferente. A sede por lucro da indústria farmacêutica está acima da preocupação com quem será ou não vacinado ou com quantos irão morrer. Até porque a pandemia tem sido usada para favorecer a exploração dos trabalhadores e para ampliar a taxa de lucros das grandes corporações monopolistas. A falta de doses para toda a população mundial, as ações negacionistas de vários governos de países populosos e os altos preços das vacinas são parte de uma política aplicada em escala global. Os países mais ricos, onde vivem somente 14% da população mundial, compraram mais da metade (53%) de todas as vacinas consideradas mais eficazes. E, segundo informações da ONG Oxfam, os 70 países mais pobres do mundo só poderão vacinar 1 em cada 10 pessoas durante todo o ano de 2021. 

Os trabalhadores devem exigir em suas lutas a urgente quebra das patentes das vacinas como única forma de se garantir o controle da pandemia com a distribuição justa e igualitária do conhecimento científico criado para salvar vidas. 
 


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