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Caso George Floyd continua a expor a ferida do racismo nos EUA

O julgamento do policial Derek Chauvin, 45, acusado de assassinar George Floyd, 46, durante uma abordagem policial, teve início no dia 29 de março. As acusações derivam da ação policial, ocorrida no dia 25 de maio de 2020, em que o policial branco permaneceu ajoelhado sobre o pescoço de George Floyd, negro, durante nove minutos e 29 segundos em uma calçada próxima a um mercado onde George fora acusado de tentar pagar com uma nota de dólar falsa.  Apesar dos apelos dos presentes e do próprio Floyd, que gritava que não conseguia respirar e implorava por sua vida, o policial se manteve na posição até que a vítima fosse a óbito. Chauvin responde por homicídio doloso, quando há a intenção de matar, homicídio culposo e por lesão corporal seguida de morte. 

O Julgamento de Chauvin era bastante esperado pelo movimento “Black Lives Matter” (BLM - Vidas Negras Importam, em português) e está sendo acompanhado em todo o mundo por ser um marco contra o racismo policial e o genocídio negro que ocorre nos EUA. O vídeo gravado durante a abordagem ganhou repercussão mundial e os protestos ganharam as ruas das maiores cidades ao redor do mundo. A expectativa em torno do julgamento está no fato de que policiais raramente são condenados nos Estados Unidos e a sentença por qualquer uma das acusações contra Chauvin exigirá que o júri emita um veredito unânime, um fator que gera desconfiança na população negra estadunidense sobre o resultado da ação.

O crime, que provocou a eclosão de protestos que se iniciaram no estado de Minnesota e ganharam todo os Estados Unidos e o mundo, tornou-se o símbolo da brutalidade policial contra negros em países de passado colonial. O caso de George Floyd é apenas um de vários outros causados por excessos policiais contra pessoas negras nos Estados Unidos.

Walter Scott, negro, foi morto com três tiros nas costas pelo policial branco Michael Slagger, em 2015. Em 2016, Bothan Jean, de 26 anos, foi morto em seu próprio apartamento pela policial Amber Guyger, que afirma ter confundido seu apartamento com o de Bothan, e atirou no homem desarmado ao confundi-lo com um ladrão.

Em 2019, Atatiana Jefferson, de 28 anos, estudante de medicina, foi morta a tiros em seu próprio quarto em Forth Worth, Dallas, pelo policial Aaron Dean, após o alerta de um vizinho, de que a porta da frente de Jefferson estava aberta. Dean atirou nela pela janela do quarto.

Também em 2020, Breonna Taylor, uma médica de 26 anos, foi baleada oito vezes quando policiais entraram em seu apartamento em Louisville, Kentucky, Eles estavam executando um mandado de busca como parte de uma investigação sobre drogas, mas nenhuma droga foi encontrada na propriedade.

Os casos são tão constantes que o Movimento BLM orienta, há anos, a filmagem das abordagens policiais para que sirvam de denúncia e exposição da situação de opressão vivida pelos negros nos EUA. No Brasil a violência policial também tem cor e alvo: pessoas negras e pobres. Em 2019, um estudo realizado pela Rede de Observatórios de Segurança Pública mostrou que, no estado do Rio de Janeiro 86% das mortes por ações policiais eram de pessoas negras, no Ceará, o índice chegou a 87% e em Pernambuco, 93% das vítimas eram pessoas negras. Em São Paulo, dados da Secretaria da Segurança Pública mostram que, no primeiro trimestre de 2010, a PM paulista matou uma pessoa negra a cada 16 horas. Das 514 pessoas mortas no primeiro semestre – a maior letalidade da série histórica –, 63,5% eram negras. Há pesquisas que apontam percentuais de até 73%.

A importância dada ao julgamento de Derek Chauvin mostra que a população negra, em todas as partes do mundo, está cansada de ter um alvo em suas costas. Os negros, submetidos às piores condições de vida desde o período da escravidão moderna, nunca aceitaram calados que suas vidas sejam ceifadas pelo racismo estrutural que compõe as forças de repressão do estado capitalista. Esta é uma luta que vai além das conquistas de direitos civis nas sociedades com passado escravista, pois reprimir com violência negros pobres é a forma com que a burguesia consegue manter uma parte fundamental da classe trabalhadora sob controle. As forças policiais nada mais são do que o braço armado da burguesia contra o poder popular e o combate ao racismo está intrinsecamente ligado à destruição da sociedade de classes.
 

Fonte: AFP


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