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Vacinação, racismo e genocídio

No período em que o Brasil passa pelo seu pior momento da pandemia do novo Coronavírus, batendo recordes mundiais em número de mortes – são mais de 341 mil óbitos no País, com uma média móvel diária que supera a marca de três mil vítimas – uma pesquisa publicada pela Agência Pública escancara o desastre social que vivemos em relação à desigualdade social racial. Segundo um dos dados publicados pela Agência, brancos são duas vezes mais vacinados que negros no Brasil, evidenciando como o racismo está presente em uma diversidade assustadora de organismos que compõem nossa sociedade. 

Nesta última pesquisa sobre a vacinação, que levou em consideração um recorte racial,  ainda no início de março, 3,2 milhões de pessoas, a partir de 18 anos, que se declararam brancas receberam a 1ª dose de vacinas contra o coronavírus. Em contrapartida, somente 1,7 milhão de pessoas, a partir de 18 anos, que se declararam negras receberam a 1ª dose de vacinas. Nos dados daquele momento, 3,66% da população branca estava vacinada, enquanto a população negra que recebeu o imunizante foi apenas 1,48%. Vale destacar que, segundo dados do IBGE, 54% da população brasileira é negra. Porém, como se vê, o racismo estrutural impede que ações afirmativas de saúde, como a vacinação, aconteçam de forma proporcional à formação social brasileira. 

Outra consideração importante é que a primeira fase da vacinação priorizou os idosos. Assim, se analisarmos os dados desse ponto de vista, chegaremos à conclusão que a expectativa de vida de pessoas negras é menor que pessoas brancas. A pesquisa mostra, ainda, que entre os grupos com prioridade para vacinação, aquelas que estão em situação de rua continham o maior percentual de negros - 59,29% dos moradores de rua vacinados são negros. Já o grupo prioritário com mais brancos vacinados é o de bombeiros civis, com 80,45%.

O estudo mostra que apesar de o vírus ter alcançado uma parcela significativa da burguesia nacional, isto não o tornou “democrático” – é fato que qualquer pessoa pode ser contaminada, mas se analisados os números de mortos ou afetados de alguma forma pela doença é evidente o recorde racial e de classe. A mesma agência chegou a realizar uma pesquisa, no final do ano passado, que revelou que para cada três brasileiros negros hospitalizados por Covid-19, um vem a óbito, enquanto que entre brancos a proporção é de uma morte a cada 4,4 internações. 

Esses dados mostram como se desenrolam, na prática, as consequências do racismo estrutural em relação à vacinação – o lugar ocupado pelos negros nas estruturas sociais. Estamos diante de um genocídio operado pela necropolítica governamental.  Uma consequência da política racista praticada contra a população negra, que é vista pelo sistema capitalista como mera fornecedora de força de trabalho para exploração. 

Foto: Folha de São Paulo
 


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