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COMPANHEIRO CLÓVIS MOURA: PRESENTE!

O próximo dia 23 de dezembro marca 7 anos de falecimento de Clóvis Steinger de Assis Moura ou, como ficou conhecido, Clóvis Moura. Seus 78 anos de vida foram marcados por engajamentos políticos sempre à esquerda, uma profícua produção escrita, uma crítica ácida e feroz ao sistema capitalista e pela elaboração de uma nova sociologia de base marxiana, na qual a população negra aparece como protagonista. Intelectual, jornalista, escritor, historiador e sociólogo, Clóvis Moura deixou um legado ainda pouco conhecido e utilizado, mesmo por militantes da esquerda.

Nascido na cidade de Amarante, no Piauí, Clóvis Moura é filho de pai negro e mãe branca. Seu bisavô, que possuía o título de nobreza de “Dom”, foi um senhor de escravos e sua bisavó, uma escravizada. Como se vê, esse intelectual nordestino, materialização da miscigenação, não alinhou suas ideias e práticas ao lado branco e elitista da família. Muito pelo contrário: já em sua primeira obra “Rebeliões da Senzala”, de 1959, (obra fundamental para a formação da militância no movimento negro), desmascara a democracia racial apresentando-a enquanto um mito e uma realidade inexistente no Brasil. Moura mostra que esse “mito” apresentado por Gilberto Freire de “Casa Grande e Senzala”, subserve à perspectiva dominante, e que o oposto da Casa Grande é o quilombo e não a senzala. Demostra como os negros e negras escravizados foram capazes de organizar redes de apoio, colaboração e articulação contra a ordem escravocrata, afirmando assim, através de estudos fundamentados, que as rebeliões negras não eram espontaneístas e que a população negra não estava totalmente alienada em relação à realidade opressora a que estava submetida.

Ao cunhar o termo Quilombagem como práxis negra, Moura mostra que ao longo da história da escravidão moderna - escravidão essa, segundo ele, que formou a sociedade de classes no Brasil - a população negra sempre desenvolveu mecanismos de resistência e enfrentamento, sendo o quilombo, não o “lugar de negros fugidos” como ainda hoje é comumente definido, mas como local de resistência, lugar de negros em liberdade. Sendo assim, Clóvis Moura nos convida a nos aquilombar, ou seja, a nos unirmos contra a exploração e a opressão, a subverter a ordem vigente e construir uma nova ordem social.

Nos anos de 1940, ingressa no Partido Comunista Brasileiro, onde atua de forma efetiva e busca levar para o interior do partido o debate racial aliado às questões de classe. Quando da cisão do partido, segue como membro do PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Nos anos 70, participa ativamente do Movimento Negro Unificado (MNU), apesar de ter pontos de divergência com a perspectiva do MNU da época. Para Moura, não cabia o debate sobre o lugar do negro na democracia racial. Ele também não pactuava com a ideia de se pleitear melhores condições para negro na sociedade capitalista. Comunista convicto, sua defesa radical era pela eliminação de todas as formas de opressão, o que implicava a eliminação do capitalismo.

Apesar de sua pela não retinta, Clóvis Moura irá se afirmar socialmente enquanto negro e fazer da questão racial, juntamente à questão de classe, sua bandeira de militância, denunciando de forma cortante e sistemática o racismo enquanto uma ferramenta de dominação e a escravidão enquanto prática funcional ao nascimento do capitalismo. Mas, para além da denúncia, Moura apresenta os/as negros/as enquanto insurgentes, seres não só de reação, mas também de ação.  

Seu marxismo de análise original, adequado à realidade, até hoje é pouco compreendido. Marginalizado nas academias burguesas, nos partidos e organizações ditas de esquerda e pelo Movimento Negro, Clóvis Moura segue precisando ser lido e ouvido. Nós, do coletivo Negritude, da LPS, rendemos nossa homenagem a esse companheiro e camarada, reconhecendo sua luta e participação ímpar nas causas voltadas à emancipação social. Para conhecer melhor seu pensamento recomendamos ler suas obras e acompanhar as ações e publicações deste coletivo.

Livros de Clóvis Moura, em ordem alfabética:

A encruzilhada dos orixás: problemas e dilemas do negro brasileiro

A imprensa negra

A sociologia posta em questão

As injustiças de Clio: o negro na historiografia brasileira

Brasil, raízes do protesto negro

Dialética racial do Brasil negro

Dicionário da escravidão negra no Brasil

Do bom escravo ao mau cidadão?

História do negro brasileiro

Introdução ao pensamento de Euclides da Cunha

O preconceito de cor na literatura de cordel: tentativa de análise sociológica

Os quilombos e a rebelião negra

Os quilombos na dinâmica social do Brasil

Quilombos: resistência ao escravismo

Rebeliões da senzala

Sociologia do negro brasileiro

Sociologia política da guerra camponesa de Canudos


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