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Biden é eleito presidente dos Estados Unidos

No dia 7 de novembro chegou-se ao veredito de um processo eleitoral que se arrastou por quatro dias: Joe Biden, do Partido Democrata, de acordo com o sistema estadunidense, já alcançou o número de delegados necessário para se tornar presidente, derrotando a reeleição de Donald Trump. A demora na contagem de votos está relacionada com as disputas entre os setores da burguesia que tentam controlar os resultados das eleições naquela que se diz a maior democracia do mundo.

Trump é o quarto presidente na história dos Estados Unidos que perdeu uma reeleição. Sinal de crise. A política protofascista do agora ex-presidente, de tratorar os direitos civis, perseguir minorias, construir projetos de castração de imigrantes, para além da divulgação maciça de fake news como plataforma de propaganda e de governo, aliada ao aumento do empobrecimento da classe trabalhadora, possui uma validade restrita, dado o grau de insatisfação social que gera.

A crise do governo Trump se mostrou intensa quando, durante sua fala em rede nacional, no último dia 5, em que acusava as eleições de fraudulentas, as principais redes de televisão estadunidense cortaram a transmissão para desmenti-lo em tempo real. O fato demonstrou a preocupação da grande burguesia nacional, que tem na imprensa corporativa sua porta-voz, em não desmoralizar o sistema democrático do país imperialista.

Aparentemente, a não reeleição de Trump advém de uma gestão que negou o aquecimento global e as mudanças climáticas, promoveu uma fracassada guerra comercial contra a China durante todo o seu mandato, acirrou tensões históricas com o Irã e com outros países ao redor do globo. Além disso, internamente, seu governo sofreu forte oposição das minorias que saíram às ruas em protestos nos últimos meses, sobretudo de homossexuais, mulheres e negros. No caso destes últimos, uma verdadeira convulsão social tomou conta dos Estados Unidos neste ano, após inúmeros casos de violência policial contra a população afrodescendente. Isso seria verdade se o sistema eleitoral estadunidense fosse realmente democrático e expressasse a vontade popular. No entanto, a grande burguesia imperialista apostou alto na eleição do Democrata Joe Biden e o impasse na verificação dos resultados tem a ver com a crise interna da burguesia.

 

E agora? 

 

Joe Biden iniciou sua vida pública em 1969, quando se tornou vereador em um condado em Delaware. Já em 1972, tornou-se senador. Foi reeleito por cinco vezes até chegar a vice-presidência de Barack Obama, em 2008. Nas eleições internas do partido para a escolha dos candidatos ao pleito deste ano, foi escolhido pelos democratas em detrimento a Bernie Sanders, que tem um viés ideológico de centro-esquerda em relação à Biden. Durante a presidência de Obama, Biden foi articulador político junto às forças armadas estadunidenses. Liberal, possuí apoio do mercado financeiro.

Vale lembrar que em nenhum momento do governo Obama, a política belicista e imperialista estadunidense, principalmente em relação ao Oriente Médio, deixou de existir. Além disso, como senador, Biden apoiou o envolvimento americano nas guerras dos Bálcãs, nos bombardeios no Iraque e na invasão do Afeganistão. Em um cenário como o atual, em que a guerra comercial contra a China está cada vez mais longe de ser vencida pelos Estados Unidos e com tantos problemas internos escancarados pela pandemia de Coronavírus, como a falta de saúde pública para controlar a doença, a tendência é que o novo presidente foque nos problemas internos do país e, para manter a aparência de bem estar social, recorra ao mecanismo de aumentar a pressão neocolonial sobre o território que os EUA historicamente consideram seu quintal, a América Latina.

 

Desgaste da extrema direita

 

Donald Trump, ao sentir a reeleição escapar de suas mãos, passou toda a campanha acusando a falta de lisura no processo eleitoral estadunidense. Ao saber do resultado, publicou em seu site pessoal: "Todos nós sabemos por que Joe Biden está se apressando em fingir que é o vencedor e porque seus aliados da mídia estão se esforçando tanto para ajudá-lo: eles não querem que a verdade seja exposta. O simples fato é que esta eleição está longe de terminar". Sobre a possibilidade de fraude eleitoral, o milionário Trump está correto. Para garantir a vitória de George W. Bush em 2000, por exemplo, a contagem de votos durou 30 dias, até que o resultado fosse de acordo com os interesses do poder econômico, que verdadeiramente controla as eleições burguesas.

Porém, dado o acirramento da polarização nos Estados Unidos, em que no Senado foram eleitos 48 democratas e o mesmo número de republicanos, na câmara dos deputados foram eleitos 214 democratas e 195 republicanos e nos governos estaduais, que possuem muito mais autonomia do que no Brasil, por exemplo, foram eleitos 23 democratas e 27 republicanos, a tendência é que as pretensões golpistas de Trump não sejam apoiadas nem pelo seu próprio partido, que deverá escolher a tática de pressão parlamentar.

Se esta tendência se confirmar, será um duro golpe para a extrema direita global. Governos fantoches de Trump, como o turco, o ucraniano e o brasileiro, de Jair Bolsonaro, perdem sua principal referência em termos geopolíticos. Bolsonaro, que declarou abertamente o apoio a Trump, estará cada vez mais isolado, mais ainda após a derrota dos golpistas na Bolívia e a vitória do povo chileno que exigiu uma nova Constituição para substituir a existente, essencialmente neoliberal, promulgada ainda na ditadura de Augusto Pinochet.

Em entrevista veiculada no portal da BBC, o cientista político e pesquisador da Harvard, Hussein Kalout, afirmou: "A perda do Trump impacta a narrativa de Bolsonaro junto a grupos ultraconservadores, à base evangélica. A ideia de criar uma nova frente conservadora mundial, que colocava Trump como salvador do Ocidente e do cristianismo, vai pro ralo". 

A vitória de Biden poderá não significar nenhuma mudança qualitativa em relação à política externa que, no caso dos Democratas, poderá se tornar ainda mais agressiva. Não podemos nutrir ilusões de que o sistema eleitoral garantiu a vitória dos interesses do povo estadunidense, pois ele é forjado para evitar que haja a verdadeira participação democrática. Mas uma coisa é certa: a força dos protestos contra o protofascismo de Trump, aliados a importantes greves de trabalhadores durante este ano de 2020, levaram a grande burguesia a apostar na vitória de Biden como forma de conter a revolta social, uma vez que seu partido tem identificação com pautas progressistas. 

Aos trabalhadores brasileiros  resta aproveitar essa derrota do trumpismo para fortalecer a mobilização contra Bolsonaro e contra todo o retrocesso social promovido por sua política de proximidade com o ex-presidente estadunidense. 
 


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