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Bolsonaro: demagogia sustentada pelos ataques aos trabalhadores

A política genocida do governo Bolsonaro fica explícita na recusa a enfrentar com seriedade a pandemia da Covid-19, que já ceifou mais de 133 mil vidas no país. Além disso, o escândalo midiático provocado pela reunião ministerial de abril, em que os ministros  revelaram, sem nenhum pudor, as verdadeiras intenções do governo de destruir a soberania nacional e eliminar todas as conquistas da classe trabalhadora enquanto as atenções se voltavam para a pandemia, acabou se tornando um instrumento de pressão para disciplinar Bolsonaro nos moldes da velha política de acordos e permitir que as metas econômicas da grande burguesia que o sustenta, sejam cumpridas.

Como a crise econômica é da burguesia, as divergências de interesses em seu interior causam disputas e pressões que provocam as crises políticas no governo, que já perdeu quase todos os seus chamados superministros e tem em Paulo Guedes a eterna bola da vez. A agitação econômica mundial, agravada pela pandemia, tem exigido o aumento do poder estatal sobre a economia, o que fere os princípios ultraliberais da equipe de Guedes. A última suposta dissensão entre Bolsonaro e Ministério da Economia refere-se à permanência do Programa “Bolsa Família”. Embora Bolsonaro tenha solicitado a criação de um programa de transferência de renda que desmanchasse a marca dos governos petistas impregnadas no Bolsa Família, a repercussão negativa do anúncio de detalhes do programa Renda Brasil formulado por Guedes, que cogitava, inclusive, suspender o reajuste das aposentadorias e pensões, fez o líder voltar atrás. Demagogo e populista, o fantoche do imperialismo descartou, por meio de um vídeo, criar o “Renda Brasil”, programado para ser um substituto do “Bolsa Família” quando acabar o pagamento do auxílio emergencial aos afetados pela pandemia de covid-19. “Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final”, afirmou Bolsonaro.

Além da crise econômica, o Brasil enfrenta mais uma crise ambiental: o Pantanal, um dos lugares com maior biodiversidade e a maior planície alagada do mundo, está em chamas.  De acordo com perícias feitas pelo Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman-MT), os incêndios, que já duram dois meses, foram causadas pela ação humana. O Parque Estadual Encontro das Águas, maior refúgio de onças pintadas da América, foi 85% queimado. Em pesquisa veiculada no portal de notícias UOL, o Laboratório de Análise e Processamentos de Imagens de Satélite, ligado à Universidade Federal de Alagoas, demonstrou que nas localidades próximas às queimadas, como Mato Grosso, Acre e Rondônia, os índices de CO até 3.360% mais altos que o limite máximo estipulado como tolerável para o ser humano.

O fogo não ameaça apenas o bioma. Povos indígenas estão sendo obrigados a se deslocarem para fugir do fogo, como no caso da Terra Indígena Thereza Cristina, do povo Boe Bororo, localizada em um dos epicentros das queimadas. Isso ainda expõe povos indígenas isolados à pandemia de COVID-19. Enquanto isso, de acordo com dados do próprio Ministério da Defesa do governo Bolsonaro veiculados na Época, apenas 290 militares estão combatendo o fogo devastador no Pantanal. Com a ausência de medidas contra as queimadas, o Governo Federal apoia os interesses do lobby da agroindústria, um de seus principais apoiadores, no sentido da expansão da fronteira agrícola no Brasil.

 

Recessão e Subserviência

 

Entre março e agosto, mais de três milhões de brasileiros perderam o emprego e milhares de negócios fecharam as portas sem ver qualquer auxílio do governo. A matriz econômica, de Michel Temer-Henrique Meirelles e Bolsonaro-Paulo Guedes, que abandonaram os estoques reguladores de arroz para atender as demandas de mercado e de aliados, em detrimento do consumidor, fez o preço do principal produto da cesta básica do trabalhador explodir. São fatores que aumentam a pressão contra a política ultraliberal do ministério da Economia, ainda que o governo tenha acumulado vitórias na aprovação de seus planos de austeridade no Congresso Nacional e esteja avançando nas medidas para as privatizações. 

No início de setembro, o IBGE divulgou os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que registrou queda histórica de 9,7% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano. Em relação a igual período de 2019, o PIB caiu 11,4%. Com a retração, a economia brasileira entra em recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos de encolhimento do PIB. o resultado só não foi pior devido ao pequeno aquecimento do consumo provocado pelo auxílio emergencial durante a pandemia. 

No entanto, mesmo diante do resultado catastrófico da economia nacional, o governo mantém firme seus laços com os interesses imperialistas dos Estados Unidos e, nas últimas semanas aceitou prolongar por 90 dias a isenção do etanol importado daquele país, em um momento em que, no Brasil, a produção nacional sofre com a queda do consumo. A manutenção da medida era uma exigência do lobby do setor nos Estados Unidos, que responde por 90% do biocombustível importado pelo Brasil. No mês passado, Trump mostrou quem manda ao ameaçar o Brasil de retaliações, caso o imposto de 20% fosse restabelecido. 

O governo brasileiro também apoiou a eleição de um candidato estadunidense para presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que sempre foi presidido por um latino-americano, sendo que essa era a vez do Brasil. Ambas medidas visam favorecer a reeleição de Donald Trump, em novembro, e a indicação de Mauricio Claver-Carone para o BID está diretamente relacionada à disputa geopolítica entre EUA e China, uma vez que o indicado é conhecido pela linha dura nas sanções contra a Venezuela e Cuba, simbolizando uma resposta de Trump ao avanço do comércio, dos investimentos e das tecnologias chinesas na região.

Bolsonaro cumpre seu papel na política imperialista ao transformar a principal economia da América Latina em quintal de dominação e exploração econômica das grandes corporações estadunidenses. As contradições no interior da burguesia nacional criam tensões em seu governo, mas a ausência de uma oposição verdadeira, voltada para os interesses nacionais e da classe trabalhadora, tem dado margem de manobra pra esse governo genocida, cujo caráter ditatorial é encoberto por uma fachada democrática que mantém em funcionamento as eleições e as instituições burguesas, ainda que completamente controladas pelos interesses dos inimigos do povo. 

A greve dos trabalhadores dos Correios, com grandes manifestações de rua, contra a retirada de seus direitos conquistados na luta e contra a privatização da empresa, patrimônio do povo brasileiro, deu o exemplo a ser seguido pela classe trabalhadora brasileira. A categoria furou a bolha do isolamento social, impossível para a grande maioria dos trabalhadores, e foi às ruas defender, inclusive, seu direito à proteção sanitária e o fim desse governo genocida. É preciso organizar urgentemente a Greve Geral da classe trabalhadora brasileira, para o fortalecimento de seu poder na tomadas de decisões políticas do país, para a elevação de sua consciência classista.
 


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