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Crise sanitária faz surgir novas favelas no Brasil

Com a crise econômica agravada pela pandemia do novo coronavírus, a favelização está voltando à tona. O fenômeno é antigo da realidade brasileira, comum desde o fim da escravidão, quando os ex-escravizados do campo se mudaram para as cidades e, dada a falta de oportunidades de emprego e moradia, foram se aglomerando no entorno das cidades. Com o atual desemprego em massa, que atinge mais de 12,2 % da população, ou seja, mais de 27 milhões de trabalhadores e a falta de políticas assistenciais dos governos federal e estaduais, a realidade de segregação urbana está se agravando. 

No bairro Jardim Julieta, em São Paulo, formou-se uma comunidade onde já vivem cerca de 700 famílias. A comunidade surgiu em um estacionamento informal para caminhões e há quatro meses, a chegada de um grupo de novos sem-teto começou a transformá-la em favela em expansão. O fenômeno é consequência da devastação da crise econômica, agravada pela Covid-19 no Brasil, o segundo país mais castigado pela pandemia, somente atrás dos Estados Unidos.  De forma improvisada, famílias chegam e vão construindo ali, com o material que encontram, suas moradias precárias, características das favelas brasileiras onde a aglomeração é regra e as condições básicas de higiene inexistem.

Como epicentro da doença, São Paulo tem quase 25% das 115 mil mortes registradas no Brasil, os efeitos econômicos da pandemia sobre os pobres são sentidos com muita força. Além de se exporem mais ao vírus, milhares de trabalhadores informais, como ajudantes de pedreiro e empregados domésticos, que são cerca de 40% da força de trabalho na maior economia da América Latina, perderam praticamente toda a sua renda depois que as medidas de quarentena os impediram de trabalhar. 

Alguns países implantaram leis que suspenderam o despejo de inquilinos no momento da pandemia, mas no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro vetou uma lei similar em junho, deixando expostos às consequências da crise os economicamente mais vulneráveis. Despejos e surgimento de favelas caminham juntos desde que a pandemia começou. O arquiteto Lino Teixeira, coordenador de políticas urbanas do Observatório das favelas, diz que ao longo do tempo, epidemias e pestes têm empurrado os pobres no Brasil a residir em favelas e assentamentos informais. Segundo ele, historicamente as pandemias estão ligadas a formação de favelas e às políticas de higienização, que removem os mais pobres de áreas centrais das cidades. No Rio de Janeiro, por exemplo, a formação de muitas favelas está ligada a um conjunto de epidemias urbanas, desde a febre amarela até a gripe espanhola, a varíola depois o sarampo.

A pandemia da Covid-19 escancarou a face mais violenta do capitalismo que, ao mesmo tempo em que triplica os lucros de uma casta de bilionários, permite que pessoas sejam submetidas a situações degradantes de vida, sem ter sequer um teto para se abrigar. Mais do que nunca, a questão do direito à moradia por parte dos trabalhadores está na ordem do dia. É função do governo garantir que todos tenham onde morar e, enquanto este momento não chega, que os movimentos de ocupação urbana sejam fortalecidos. 
 


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