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Brasil: campeão mundial em mortes de grávidas ou mulheres no pós-parto por Covid-19

Um estudo realizado por um grupo de enfermeiras e obstetras brasileiras ligadas à Unesp (Universidade Estadual Paulista), UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), IMIP (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira) e UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) revelou que o Brasil tem 77% das mortes de gestantes e puérperas por Covid-19 registradas no mundo. A pesquisa, que foi publicada no periódico médico International Journal of Gynecology and Obstetrics, no último dia 9 de julho, afirma que a maior parte das mortes aconteceram durante o puerpério, ou seja, até 42 dias depois do nascimento do bebê.

Mesmo considerando as subnotificações, características da realidade do enfrentamento à pandemia no Brasil, ao analisar os dados de um sistema de monitoramento do Ministério da Saúde, o SIVEP-Gripe (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe), as pesquisadoras concluíram que a taxa de mortalidade na população obstétrica brasileira é de 12,7%, número superior às taxas mundiais.

Trata-se de mais um drama vivido pela população brasileira, uma demonstração de que a diferenciação dos efeitos da pandemia está diretamente relacionada às desigualdades sociais e à opressão de gênero. De acordo com as pesquisadoras, o risco aumentado pode estar relacionado à imunodeficiência relativa, associada a adaptações fisiológicas maternas. Porém, elas citam que fatores como o atendimento pré-natal de baixa qualidade, falta de recursos para cuidados críticos e de emergência, disparidades raciais no acesso aos serviços de maternidade, violência obstétrica e as barreiras adicionais, colocadas pela pandemia para o acesso aos cuidados de saúde, também são relevantes para a alta taxa de mortalidade no Brasil.

Durante a realização do estudo, 978 mulheres grávidas e no pós-parto foram diagnosticadas com Covid-19 no Brasil e 124 morreram. A ausência de uma política de testagem para esse grupo de pessoas indica que os números podem ser bem maiores.

O estudo ressalta, ainda, que 22,6% das mulheres que morreram não foram admitidas na UTI e apenas 64% possuíam ventilação invasiva. Além disso, não foi oferecido nenhum suporte ventilatório a 14,6% de todos os casos fatais, o que sugere que as pacientes obstétricas podem enfrentar barreiras para acessar ventiladores e terapia intensiva, além de enfrentar a escassez de profissionais de saúde e a falta de recursos nos serviços de maternidade brasileiros.

A pandemia colocou em evidência o desmonte do sistema público de saúde no Brasil. A insuficiência de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI); o baixo número de profissionais e a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras, luvas, aventais, óculos de proteção etc., essenciais para evitar o contágio dentro das unidades de saúde, são fatores que agravam a situação das pessoas que utilizarão os serviços hospitalares por diversos motivos.

No Brasil, a realidade de opressão às mulheres se agravou quando a burguesia colocou a extrema-direita no poder. A eleição de Bolsonaro, declaradamente machista e misógino, deu início a uma jornada moralista contra as mulheres, com uma ameaça violenta contra todos os direitos democráticos que as mulheres alcançaram até hoje, frutos das suas lutas organizadas. Em relação à pandemia, o que vemos no Brasil é uma política genocida, com as mulheres pobres e negras na linha de frente da tragédia social.

O Ministério de Direitos Humanos, por exemplo, passou a se chamar Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e foi entregue ao comando de uma pastora evangélica, Damares Alves, que já afirmou que “gravidez é problema que dura só nove meses". A Ministra foi a público apoiar um jejum espiritual proposto pelo presidente Bolsonaro como forma de combater a Covid-10, mas demorou quase um mês para se pronunciar sobre a gestão do seu ministério na pandemia.

Lideranças de movimentos sociais reclamam que a pasta ministerial sob comando de Damares não executou, até agora, o orçamento que tem para o apoio aos grupos sociais mais vulneráveis à pandemia de Covid-19. De acordo com o portal Observatório do Terceiro Setor, o Ministério recebeu R$ 45 milhões para auxiliar mulheres, população de rua e povos tradicionais durante a pandemia, mas até agora só gastou R$ 2 mil. 

A mulher, já marcada pela opressão, torna-se a vítima potencial da política genocida do governo de Jair Bolsonaro, considerado pela imprensa internacional, o pior líder do mundo em relação ao enfrentamento à pandemia. A crise sanitária tem servido de pretexto para que o governo acelere o desmonte dos serviços públicos e das políticas de proteção aos trabalhadores. É preciso organizar a luta em defesa do SUS e exigir que a economia seja administrada para atender às necessidades de enfrentar a pandemia, com construção de hospitais, requisição de leitos da rede privada para o SUS, segurança financeira aos trabalhadores e todo tipo de proteção sanitária.


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