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Negros e a Pandemia

Com mais de sete milhões de pessoas infectadas no mundo, a crise de saúde global do novo Coronavírus escancara de vez como o sistema capitalista escolhe quem morre e quem vive. No último dia 02 de junho, foi divulgado um comunicado da alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, destacando que dados mostraram um impacto devastador da COVID-19 em pessoas de descendência africana. 

Segundo o comunicado da ONU, no estado de São Paulo, pessoas negras têm 62% mais chances de morrer do que pessoas brancas. O departamento de Seine Saint-Denis, na França, também identificou alta desproporcionalidade entre a mortalidade de minorias étnicas e raciais e pessoas brancas.
No Brasil, um estudo assinado por 14 pesquisadores do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio de Janeiro, revelou que dos pacientes internados, a COVID-19 mata 54,8% dos negros e 37,9% dos brancos. Importante observar, ainda, que a maior diferença ocorre entre as pessoas com idade entre 30 a 39 anos – nestas condições, durante a internação, pessoas negras possuem 2,5 mais chances de morrerem do que as brancas, conforme mostra a pesquisa. 

O impacto desproporcional do vírus na comunidade revela como a desigualdade social está influenciando diretamente nas taxas de letalidade do novo coronavírus. A dificuldade de efetivamente seguir as recomendações de isolamento social nos aglomerados, a falta de políticas públicas específicas para comunidades carentes, moradias precárias, saneamento básico quase inexistente em muitas regiões de periferia, entre muitos outros fatores, acentuam a taxa de mortalidade dos moradores destes locais, que são em sua maioria pessoas negras. Não bastando esta realidade cruel, a população periférica ainda vive em um fogo cruzado entre o tráfico organizado, milícias e a violência policial. 

Este conjunto das atrocidades está causando o início de uma efervescência social. Mesmo correndo o risco de contaminação, milhares de pessoas estão indo às ruas para protestar contra essa política de extermínio, especialmente da população negra. Nos Estados Unidos, a morte de George Floyd foi o estopim deste fenômeno social. A revolta popular que tem ganhado as manchetes nas últimas semanas põe na ordem do dia, novamente, o problema que sempre foi varrido para debaixo do tapete: o racismo estrutural. No Brasil, torcidas organizadas denominadas “antifascistas” também têm ganhado protagonismo pela ação mais dura, de enfrentamento, contra as aspirações fascistas de apoio ao governo Bolsonaro. 

Esses movimentos são o extrato de toda a perseguição que a população negra vem sofrendo ao longo dos anos e que, agora, ganha força diante da crise capitalista mundial, que tenta pressionar ainda mais os trabalhadores para minimizar os prejuízos causados pela crise econômica.  Não é de interesse do capitalismo a destruição da estrutura racista, pilar deste tipo de sistema econômico, que é escravagista. Portanto, a repressão policial, o posicionamento político de altas patentes militares no governo, a crescente atuação de milícias paramilitares em comunidades pobres entre outros fatos são maneiras encontradas pelo sistema capitalista de controlar convulsões sociais, fruto da opressão que se intensifica com a crise mundial do capital.


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