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Censura contra a produção artística

Nos últimos três meses, o Ministério da Cidadania ou as direções de empresas públicas cancelaram pelo menos seis produções culturais. O alto índice de cancelamento tem levantado o debate, principalmente entre a classe artística, sobre a censura. Chama a atenção, por exemplo, a suspensão de três eventos, que já tinham sido programados pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil, abordando o tema LGBT ou que faziam críticas ao período militar. Além disso, no dia 19 de novembro, o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), vandalizou e arrancou um quadro do cartunista Latuff que estava em exposição na Câmara dos Deputados sobre a semana da consciência negra.

Mesmo já havendo sido aprovado em edital, um ciclo de palestras sobre democracia, história, ciência e ambiente, que seria realizado no dia 28 de setembro, foi suspenso pela Caixa Econômica, no Rio de Janeiro, ocasionando uma série de questionamentos. A Caixa se justificou dizendo que a suspensão foi gerada apenas por “questões técnicas”. A Conferência, com seu ciclo de palestras, era voltada aos estudantes de 10 a 15 anos e chegaria à sua terceira edição, sendo aberta pelo professor de filosofia e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Marcos Nobre, discursando sobre democracia.

A organização do evento rebateu a versão oficial, afirmando que o maior motivo para o cancelamento está nas críticas feitas à agenda do presidente. Em entrevista ao portal de notícias O Tempo, o presidente do Cebrap, Marcos Nobre, demonstrou preocupação com as medidas. "Um ato dessa natureza é grave porque não está isolado, faz parte de um contexto de graves indícios da restrição à liberdade de pensamento no Brasil".

Também chama a atenção o fato de todos esses projetos, que seriam financiados pelos bancos públicos, terem sido submetidos a avaliações, antes de serem liberados, da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), responsável direta pela censura que está sendo promovida.

O que vem acontecendo no País é, sem dúvidas, uma completa e intensa perseguição ideológica contra àqueles que se opõem aos ataques da burguesia. O objetivo das censuras é a imposição de um pensamento único, que endosse todas as arbitrárias medidas e ideias da direita.

A Caixa Econômica também retirou o patrocínio à mostra da cineasta Dorothy Arzner, que havia sido aprovado em edital. A mostra discutiria temas feministas e relativos à homossexualidade. Marcella Jacques, organizadora da mostra, em entrevista ao jornal “O Tempo”, afirmou que o cancelamento se soma à campanha contra "temas que têm sido combatidos pelo governo atual [...]. A gente acredita que é um ato de censura pelo tema".

Temos, ainda, o caso da peça “Caranguejo Overdrive”, que teve seu patrocínio cancelado pelo Banco do Brasil sem nenhuma justificativa.

Como se vê, os casos de censura não são isolados. Trata-se de uma política de ataques que nos remete aos tempos de Ato Institucional nº 5 da Ditadura, tão querido pelo clã Bolsonaro.

Não podemos ter dúvidas quanto ao caráter inquisitório de tais medidas. O objetivo do governo é calar qualquer um que se oponha aos ataques. É preciso fazer a defesa da liberdade de expressão, entendo que esses direitos democráticos são parte de uma luta maior, que diz respeito à tomada do poder pela classe operária.


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