• Entrar
logo

1979 foi um Marco na história do movimento operário no Brasil

O Jornal Gazeta Operária entrevistou Marcelo D’Agostini, um dos organizadores da greve histórica dos Bancários de 1979, para falar sobre os 40 anos desta importante atividade.

Jornal Gazeta Operária (JGO): Marcelo D’Agostini você foi um dos organizadores da greve histórica dos Bancários de 1979. Como se deu a greve? O que a motivou e qual a importância histórica deste movimento?

Marcelo D’Agostini: A greve de 1979 foi fruto de um processo de organização da categoria muito grande. A nossa data-base era primeiro de setembro (permanece assim até hoje), mas iniciamos uma vigorosa campanha de antecipação salarial, com organização por local de trabalho, reuniões, assembleias dentro do Sindicato, mesmo a contragosto da diretoria da época, etc. Conseguimos, a partir daí, criar uma mobilização que culminou, no segundo semestre de 1979, com a deflagração da greve, em 14 de agosto do mesmo ano.

JGO: Como foi organizar uma greve durante o período da Ditadura Militar?

Marcelo D’Agostini: Sim, tínhamos uma grande preocupação de não expor os companheiros, principalmente de bancos privados. A organização teve uma conotação inclusive clandestina, na medida em que as comissões internas dos bancos eram organizadas sem o conhecimento da diretoria do Sindicato, sem as pessoas de bancos privados e sem irem às assembleias. O que iam, quem participava das assembleias, era fundamentalmente bancários dos bancos estatais: Banco do Brasil, Caixa, o Banco de Crédito Real e o BEMGE, Banco do Estado de Minas Gerais, e até mesmo do Minas Caixa, que na época não eram considerados bancários. economiários, não eram sindicalizados, mas que também participavam ativamente do nosso processo de organização.

JGO: Qual a relação que a greve fez com as outras categorias naquele momento? Havia um intercâmbio? Como estava a efervescência do momento?

Marcelo D’Agostini: Então, em 1979 foi um Marco na história do movimento operário, do Movimento dos trabalhadores trabalhadoras no Brasil, na medida em que foram deflagradas inúmeras, dezenas de greves em todo o País. Em Minas Gerais, e particularmente, em Belo Horizonte, não foi diferente. Então havia um intercâmbio muito grande porque as professoras, trabalhadores da construção civil, comerciários, vigilantes, trabalhadores dos Correios, trabalhadoras também dos correios, foram várias, inúmeras categorias que entraram em greve, o que propiciavam solidariedade de classe, uma união de classe. Os representantes das categorias se revezavam, apoiando as outras greves, os outros processos da organização. Então o contexto a greve dos bancários se dá no contexto nacional, e também local, em BH, que chegou a ser chamado por um editorial da Folha de São Paulo da época como “a capital das greves no Brasil”.

JGO: Você poderia fazer um paralelo entre o momento político da greve dos bancários de 79 com a atual situação política que vive o País?

Marcelo D’Agostini: Sim, existe uma relação. Claro que são momentos históricos diferentes, mas a mobilização dos trabalhadores no período da ditadura, de uma ditadura militar, sempre foi muito difícil, muito de confronto. Sempre as manifestações, greves, foram violentamente reprimidas, né?  Tratava-se de uma ditadura militar onde não existiam liberdades democráticas, direito de greve, então tudo era no sentido do confronto. Os trabalhadores, para obter os seus objetivos, tinham que lutar, e lutar inclusive contra o aparato repressivo do Estado. O paralelo com hoje é que nos dias atuais não estamos diante de uma ditadura militar. Estamos diante de um governo federal profundamente conservador e militarizado, num processo gradativo de ocupação de cargos das principais funções desse governo serem preenchidos por contingentes das Forças Armadas, o que estabelece também uma dificuldade. Neste sentido, é muito importante ressaltar a greve recente dos trabalhadores e trabalhadoras dos Correios, que foi a primeira greve que enfrentou o atual governo federal na perspectiva de que os trabalhadores evitem a perda de direitos, e, principalmente, que essas empresas estatais que expressam a soberania nacional não sejam entregues, como estão sendo preparadas, para o capital internacional, e em particular, para os Estados Unidos.

JGO: Vocês estão convocando para os próximos dias, um ato para relembrar a greve de 79. Qual que é a perspectiva desse ato porque que ele tá sendo convocado? Quais são os objetivos?

Marcelo D’Agostini: O ato convocado por uma comissão de bancários que viveu essa época, ou por pessoas que tenha nessa greve uma referência, mesmo não tendo participado. O Objetivo é fazer um registro histórico do ato, exatamente para trazer essa discussão que foi colocada na pergunta anterior. Como é que os trabalhadores, a partir de um enfretamento com governo de extrema-direita, vai ter que se organizar para poder lutar o que nos já lutamos, que todos os trabalhadores sempre lutaram, que é a preservação do nosso patrimônio, que a não perda de direitos que já vinha ocorrendo de uma forma muito intensa. Então o ato visa, é uma confraternização, é uma comemoração, mas é mais do que isso: É um registro histórico de um momento em que a classe operária, a classe trabalhadora, se reergueu no nosso País, abrindo um ciclo muito vigoroso de lutas em 1979. É trazer esse lugar de 1979 e as mobilizações para que eles possam dialogar com os novos dirigentes sindicais, para as novas gerações. Trocar essa experiência, reconhecendo que o momento é outro, mas buscando formas de luta, porque nós sabemos que a emancipação dos trabalhadores será obra simplesmente dos próprios trabalhadores.


Topo