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O podre sistema capitalista

Um dos principais livros do revolucionário russo Vladimir Ilitch Lênin é “O Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo”. Este livro impressiona, sobretudo pela sua atualidade. As definições da concentração da produção em monopólios, o papel destacado do capital financeiro, da partilha do mundo entre os grandes capitalistas e as grandes potências, são completamente aplicadas à nossa realidade atual, em que países e capitalistas rentistas exploram econômica e politicamente o Terceiro mundo. Além disso, no século XXI, a concentração econômica em grandes monopólios atingiu o patamar em que pouco mais de uma centena de famílias detêm a maior parte da produção mundial.

Foi neste livro, em seu capítulo VIII “O Parasitismo e a Decomposição do Capitalismo”, em que Lênin teorizou mais abertamente a putrefação do sistema capitalista: “a base econômica mais profunda do imperialismo é o monopólio. Trata-se do monopólio capitalista, isto é, que nasceu do capitalismo e que se encontra no ambiente geral do capitalismo, da produção mercantil, da concorrência, numa contradição constante e insolúvel com esse ambiente geral. Mas, não obstante, como todo monopólio, o monopólio capitalista gera inevitavelmente uma tendência para a estagnação e para a decomposição. Na medida em que se fixam, ainda que temporariamente, preços monopolistas, desaparecem até certo ponto as causas estimulantes do progresso técnico e, por conseguinte, de todo o progresso, de todo o avanço, surgindo assim, além disso, a possibilidade econômica de conter artificialmente o progresso técnico”.

Continuando o argumento, Lênin afirma: “o imperialismo é uma imensa acumulação num pequeno número de países de capital-dinheiro [...] A exportação de capitais, uma das bases econômicas mais essenciais do imperialismo, acentua ainda mais este divórcio completo entre o setor dos rentistas e a produção, imprime urna marca de parasitismo a todo o país, que vive da exploração do trabalho de uns quantos países e colônias do ultramar”.

Isso significa nada menos que, com a exportação de capitais, um país desenvolvido explora um subdesenvolvido. É o clássico caso dos Estados Unidos com o Brasil e com a América Latina como um todo. Nas palavras de Lênin, “a noção de “Estado-rentista” (Rentnerstaat), ou Estado usurário, está a tornar-se de uso geral nas publicações econômicas sobre o imperialismo. O mundo ficou dividido num punhado de Estados usurários e numa maioria gigantesca de Estados devedores”.

 

Efeitos do imperialismo na classe trabalhadora

 

Continuando sua argumentação, Lênin afirma: “o Estado-rentista é o Estado do capitalismo parasitário e em decomposição, e esta circunstância não pode deixar de se refletir, tanto em todas as condições políticas e sociais dos países respectivos em geral, como nas duas tendências fundamentais do movimento operário em particular”. Isso porque “os oportunistas, de momento vencedores na maioria dos países “trabalham” de uma maneira sistemática e firme na direção de concordar com o Estado imperialista. O imperialismo, que significa a partilha do mundo e a exploração não apenas da China, e implica lucros monopolistas elevados para um punhado de países muito ricos, gera a possibilidade econômica de subornar as camadas superiores do proletariado, e alimenta assim o oportunismo, dá-lhe corpo e reforça-o”.
“O investigador burguês do “imperialismo britânico dos princípios do século XX” ao falar da classe operária inglesa, vê-se obrigado a estabelecer sistematicamente uma diferença entre as “camadas superiores” dos operários e a “camada inferior, proletária propriamente dita”. A camada superior constitui a massa dos membros das cooperativas e dos sindicatos, das sociedades desportivas e das numerosas seitas religiosas. O direito eleitoral encontra-se adaptado ao nível dessa categoria, “continua a ser na Inglaterra suficientemente limitado para excluir a camada inferior proletária propriamente dita”! Para dar uma ideia favorável da situação da classe operária inglesa, fala-se em geral só dessa camada superior, a qual constitui a minoria do proletariado”.

Lênin chama a atenção para as particularidades da Inglaterra neste processo, advinda das suas particularidades históricas: “a tendência do imperialismo para dividir os operários e para acentuar o oportunismo entre eles, para provocar uma decomposição temporária do movimento operário, se manifestou muito antes dos fins do século XIX e princípios do século XX. Isto explica-se porque desde meados do século passado existiam em Inglaterra dois importantes; traços distintivos do imperialismo: imensas possessões coloniais e situação de monopólio no mercado mundial”.

De maneira didática, Lênin assim resumiu o processo que ocorreu na Inglaterra: “1) a exploração do mundo inteiro pela Inglaterra; 2) o seu monopólio sobre o mercado mundial; 3) o seu monopólio colonial. As consequências: 1) aburguesamento de uma parte do proletariado inglês; 2) uma parte dele permite que a dirijam pessoas compradas pela burguesia ou, pelo menos, pagas por ela”.

 

Conclusões

 

Para Lênin, “o imperialismo de princípios do século XX completou a partilha do mundo entre um punhado de Estados, cada um dos quais explora atualmente (no sentido da obtenção de superlucros) uma parte do mundo inteiro, um pouco menor do que aquela que a Inglaterra explorava em 1858; cada um deles ocupa uma posição de monopólio no mercado mundial graças aos trustes, aos cartéis, ao capital financeiro, às relações de credor e devedor; cada um deles dispõe, até certo ponto, de um monopólio colonial”. É de fato, o que ocorre hoje, após as independências de África e Ásia. O imperialismo não precisa dominar politicamente o terceiro mundo. A partir da dominação econômica, com os monopólios, trustes e carteis, conseguem manter todo o mundo sobre sua égide.

Além disso, o imperialismo criou todo o embasamento para a cooptação de grande parte das lideranças operárias: “o traço distintivo da situação atual é a existência de condições econômicas e políticas que não podiam deixar de tornar o oportunismo ainda mais incompatível com os interesses gerais e vitais do movimento operário: o imperialismo embrionário transformou-se no sistema dominante; os monopólios capitalistas passaram para o primeiro plano na economia nacional e na política; a partilha do mundo foi levada ao seu termo; mas, por outro lado, em vez do monopólio indiviso da Inglaterra, vemos a luta que um pequeno número de potências imperialistas trava para participar nesse monopólio, luta que caracteriza todo o começo do século XX. O oportunismo não pode ser agora completamente vitorioso no movimento operário de um país, durante dezenas de anos, como aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XIX, mas em alguns países atingiu a sua plena maturidade, passou essa fase e decompôs-se, fundindo-se completamente, sob a forma do social chauvinismo, com a política burguesa”.

É o que Leon Trotsky, anos mais tarde, chamou de crise da direção da classe operária. Para lutar contra o imperialismo, etapa superior e podre do capitalismo, é necessário superar esta cooptação das direções, pelo trabalho de base, desmascarando o sistema capitalista e mostrando que ele é o principal causador dos problemas que o trabalhador enfrenta.


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