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Ataque na Arábia Saudita intensifica crise no Oriente Médio

No último dia 14 de setembro, duas instalações da petroleira Aramco, na Arábia Saudita, foram atacadas por drones. De acordo com o comunicado do Ministério de Interior saudita, houve ataques na fábrica de processamento de petróleo em Abqaiq, importante cidade saudita, e no campo de petróleo de Khurais. O ataque foi assumido por rebeldes iemenistas houthis, apoiados pelo Irã, que afirmaram ter mobilizado dez drones para executar os ataques.

Imediatamente, o Secretário de Estado estadunidense, Mike Pompeo, em suas redes sociais, acusou o Irã de ter perpetrado o ataque. Segundo Pompeo: “no meio de convocações para reduzir a tensão, o Irã lançou um ataque sem precedentes contra o fornecimento de energia no mundo. Não há evidências que os ataques tenham partido do Iêmen”. Em resposta, Abbas Mousavi, porta-voz do Ministério do Exterior iraniano, afirmou: “Tais acusações e comentários infrutíferos e cegos são incompreensíveis e sem sentido. Tais comentários parecem mais conspirações de organizações secretas e de inteligência para prejudicar a reputação de um país e criar um quadro para ações futuras”.

De fato, a fala de Mousavi é repleta de sentido. Não seria a primeira vez na história que motivações são criadas para promover guerras pelo mundo afora. No caso atual, especialistas afirmam categoricamente que os houthis agem de forma independente em relação ao Irã, tal qual afirmado pelo pesquisador do Centro de Estudos Árabes e Islâmicos da Academia de Ciências da Rússia, Boris Delgov, em entrevista ao sputniknews.
Fato é que está havendo uma escalada de conflitos entre Irã e Estados Unidos. Em maio deste ano, o presidente estadunidense, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do acordo assinado, em 2015, entre EUA, Irã, China, Rússia, França e Alemanha. Este tratado permitia ao Irã prosseguir com pesquisas nucleares para fins comerciais, médicos e industriais sem que o País sofresse sanções internacionais, desde que não violasse os padrões internacionais de não proliferação de armas atômicas.

Em resposta, o presidente iraniano, Hassan Rohani, anunciou, em 17 de junho de 2019, que seu país tem a intenção de enriquecer urânio a um grau acima do limite estipulado pelo acordo, que era de 3,67%. Além disso, os países imperialistas interceptaram um petroleiro iraniano na Inglaterra e impediram que outro petroleiro, partindo do Irã, abastecesse no Brasil. Em represaria, Irã interceptou três navios estrangeiros no Golfo Pérsico sob a alegação destes navios não respeitarem o código marítimo internacional.

 


Crise repercute

 


Irã e Arábia Saudita competem pelo domínio político-econômico regional há décadas, passando pela divergência dentro da própria lógica religiosa muçulmana, em que o Irã é majoritariamente da corrente xiita e a Arábia Saudita sunita, chegando aos eventos conhecidos como Primavera Árabe, em que, com uma série de revoltas no mundo árabe, Irã e Arábia Saudita procuraram expandir sua influência, principalmente na Síria, Bahrein e no Iêmen.
Em plano global, a Arábia Saudita recebe apoio direto dos Estados Unidos, intensificado após Donald Trump assumir o poder, enquanto o Irã recebe apoio da Rússia e China. Trata-se, portanto, de um tabuleiro onde jogam praticamente todas as forças políticas internacionais.

Ainda mais direto do que havia sido Mike Pompeo, o senador republicano estadunidense, Lindsey Graham, defendeu que os EUA agissem militarmente contra o Irã de maneira imediata. Em suas redes sociais, o senador declarou: “agora é hora dos EUA colocarem sobre a mesa um ataque às refinarias de petróleo iranianas, se continuarem as provocações ou aumentarem o enriquecimento nuclear”. Trump, pelo twitter, afirmou que há motivos para se crer que a culpa do ataque é do Irã e que os Estados Unidos estariam prontos para atacar, dependendo da verificação.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia, por sua vez,  afirmou, em comunicado oficial, que acreditava ser “contraproducente usar o que aconteceu para aumentar as tensões em torno do Irã, de acordo com a conhecida política dos Estados Unidos. Propostas de ações retaliatórias difíceis, que parecem ter sido discutidas em Washington, são ainda mais inaceitáveis”.

 


Nova crise do petróleo?

 


A maior parte do petróleo consumido no mundo é proveniente do Oriente Médio. Um terço do que transita por vias marítimas no mundo passam pelo Estreito de Ormuz, território iraniano no Golfo Pérsico. Por isso, é normal se imaginar que um conflito na região iria trazer consequências econômicas imediatas.

No último dia 16 de novembro, na primeira segunda-feira após os ataques, os contratos futuros do petróleo Brent, um valor de referência internacional, fecharam a US$ 69,02 por barril, um aumento de US$ 8,80 ou 14,61%, maior ganho percentual desde 1988. As projeções dos valores de petróleo nos Estados Unidos encerraram com hha sessão em US$ 62,90 o barril, em alta de 14,68%, maior aumento diário desde dezembro de 2008. Para contornar a situação, Trump autorizou o uso dos estoques de emergência dos Estados Unidos para assegurar a estabilidade de suprimento de petróleo.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ainda não tomou nenhuma medida. Segundo o Ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos, Suhail al-Mazrouei, em entrevista à Reuters, ainda há “capacidade de reposição. Existem volumes que podemos liberar como uma reação instantânea. Se a Arábia Saudita convocar uma reunião de emergência da OPEP, vamos lidar com isso”.

As incertezas políticas com relação ao petróleo chegarão ao Brasil. Segundo o ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Helder Queiroz, em entrevista veiculada pelo G1, mantida a política de alinhamento de preços dos combustíveis à flutuação do petróleo e dos derivados lá fora, “a tendência é que haja aqui internamente um aumento do preço da gasolina e do diesel, e isso pode gerar algum tipo de tensão interna como a gente já viu no passado, além de impacto inflacionário”.

Fato é que o capitalismo precisa, neste momento, de uma guerra de largas proporções que destrua grande parte da produção. Uma nova crise do petróleo, tal como as ocorridas nas décadas de 70 e 80, poderia ser mais uma justificativa econômica para deflagração desta guerra. Se não houver recuos, os Estados Unidos, junto a sua aliada Arábia Saudita, entrará em guerra contra o Irã, destruindo o Oriente Médio com participação direta de outras potências. No capitalismo é assim. Não importam as vidas, a destruição do mundo, desde que se mantenha lucros de uma casta de parasitas.


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