• Entrar
logo

Bolsonaro na ONU: mais uma vergonha internacional

No último dia 24 de setembro, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), proferiu um discurso na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). E, mais uma vez, a fala pública do presidente virou piada na imprensa nacional e internacional, tamanho os absurdos ditos, os exageros na fala, a falta de bom senso e, finalmente, as mentiras faladas.

Fingindo não existir um grave problema da saúde pública no Brasil, onde faltam profissionais para atender a população, Bolsonaro, agora em âmbito internacional, atacou mentirosamente o programa Mais Médicos, em especial os médicos cubanos. De acordo com o presidente: “Em 2013, um acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional. Foram impedidos de trazer cônjuges e filhos, tiveram 75% de seus salários confiscados pelo regime e foram impedidos de usufruir de direitos fundamentais, como o de ir e vir. Antes mesmo de eu assumir o governo, quase 90% deles deixaram o Brasil, por ação unilateral do regime cubano”.

As mentiras são várias. A primeira delas diz respeito a lei 12.873/2013, que estabelecia que os profissionais deveriam possuir “diploma expedido por instituição de educação superior estrangeira” e “habilitação para o exercício da Medicina no país de sua formação”. Não havia impedimentos para que a famílias destes profissionais viessem para o Brasil, muito pelo contrário, o Ministério de Relações Exteriores concedia visto temporário para reagrupamento familiar. O motivo dos profissionais terem ido embora do Brasil não foi uma “decisão unilateral do governo cubano”. Na realidade, os médicos retornaram a Cuba pelas declarações ameaçadoras e depreciativas de Bolsonaro contra os profissionais, conforme denunciado pelo Ministério de Saúde Pública cubano, ainda em 2018.

 

Encobrindo a violência do Estado

 

Outra mentira proferida foi sobre as demarcações de terras indígenas. Bolsonaro afirmou que “hoje, 14% do território brasileiro está demarcado como terra indígena, mas é preciso entender que nossos nativos são seres humanos, exatamente como qualquer um de nós”. Os povos indígenas conquistaram a demarcação de 440 terras, o que corresponde a 12,6% do território brasileiro. Muito pouco, considerando-se a espoliação de mais de 500 anos contra os habitantes naturais do Brasil.

Mais que isso, apesar de vociferar contra os direitos dos povos indígenas, Bolsonaro não disse um parágrafo sobre os recentes assassinatos de índios brasileiros, realizados por fazendeiros no afã da expansão da fronteira agrícola em direção às terras demarcadas. A título de exemplo, no último dia 26 de julho, um grupo de 50 garimpeiros atacou uma das aldeias da etnia Waiãpi, no Amapá. De acordo com depoimento do coordenador das aldeias, Viceni Waiãpi, pelo menos uma liderança foi morta: o cacique Emyra Waiãpi, de 68 anos. Viceni ainda afirmou que os garimpeiros continuaram na aldeia após o ataque, com espingardas, armas pesadas e cachorros. Segundo ele, os garimpeiros estão ocupando pequenas aldeias durante a noite, agredindo crianças, mulheres etc. Sobre o assassinato do cacique, o que reina é a impunidade. O governo Bolsonaro não só não se importa com o assassinato de lideranças indígenas, como seu discurso é de incentivo a tais atos.

Bolsonaro também “ostentou” números que mostram uma suposta redução no número de assassinatos a policiais e de homicídios em geral, nos seis primeiros meses de seu governo, em torno de 20%. Essa porcentagem é exatamente a mesma de pessoas mortas por intervenções policiais, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no início de setembro. Das 6.220 mortes, 99,3% eram homens, 77,9% tinham entre 15 e 29 anos e 75,4% eram pessoas negras. Ou seja, ainda morre muita gente no Brasil, só que cada vez mais concentrada entre a população negra e pobre. Isso não incomoda o governo Bolsonaro.

Conforme salientado por grande parte da imprensa, Bolsonaro, em seu discurso, não fez nenhuma proposição para o combate à fome, miséria, desigualdade social e pobreza. Ou seja, o representante da extrema-direita, como não poderia ser diferente, não tem nenhuma alternativa para os marginalizados e pobres que não seja o velório.

 

Mais subserviência

 

Se não bastassem todos estes fatos, Bolsonaro também desmentiu seu próprio discurso em tempo real. A todo o tempo, as palavras “soberania” e “nação” eram proferidas pelo presidente. A principal acusação foi direcionada à França e Alemanha, que Bolsonaro acusou de terem interesses colonialistas por trás de sua preocupação com a Amazônia. De fato, sendo parte de um polo do imperialismo mundial, por trás dos discursos “salvadores” da Amazônia, os países europeus têm profundos interesses econômicos e políticos em suas intervenções no Terceiro Mundo.
Porém, o presidente brasileiro não possui nenhum interesse em resguardar os interesses nacionais contra o imperialismo. Ao contrário: quer garantir um contrato de exclusividade para que os Estados Unidos explorem o Brasil. O presidente dos EUA, Donald Trump, aliás, foi o único líder global que foi elogiado no discurso de Bolsonaro.

Ficou evidente para o mundo que Bolsonaro nada mais é do que uma marionete nas mãos do presidente estadunidense. Todos os tratados que foram estipulados entre Brasil e Estados Unidos, desde o início do ano, não serviram para nada que não fosse colocar o Brasil ainda mais sob o jugo do imperialismo estadunidense. Com relação à pauta específica da Amazônia, inclusive, foi anunciado, no último dia 13 de setembro, após reunião entre o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, um acordo em que se liberou um fundo de US$ 100 milhões da iniciativa privada estadunidense para o desenvolvimento econômico da maior floresta tropical do mundo. Trata-se, em conjunto com o falso combate aos países europeus, da entrega da Amazônia ao interesse exclusivo dos estadunidenses.

A subserviência de Bolsonaro a Trump chegou ao cúmulo do ridículo: o presidente brasileiro passou uma hora no corredor, após proferir o seu discurso, esperando para um encontro de 17 segundos com o presidente estadunidense, que se limitou a apertar a mão e tirar uma foto com Bolsonaro e balbuciar “ótimo discurso”. O detalhe é que Trump simplesmente não assistiu a fala de Bolsonaro, tendo ficado em um saguão externo dando entrevistas.

As atitudes de Bolsonaro não são de um líder de Estado, preocupado com a soberania de seu país. São, na melhor das hipóteses, de um “fã” adolescente. O suposto “patriotismo” de Bolsonaro não passa de uma fraseologia hipócrita. Ele, na verdade, é um entreguista de marca maior, cuja função é entregar tudo o que for possível para o imperialismo norte-americano.


Topo