• Entrar
logo

Artistas protestam contra Bolsonaro no Festival de Cinema de Gramado

O Festival de Cinema de Gramado, no Rio Grande do Sul, em sua 47ª edição, acontecida no último dia 17 de agosto, se destacou pelas ótimas produções audiovisuais, mas, principalmente, pelos protestos contra o presidente Jair Bolsonaro e pelas homenagens à Marielle Franco, tendo a atriz Sonia Braga prestado um belo tributo à memória da vereadora assassinada. No encontro com a imprensa, Sonia Braga, uma das atrizes do filme Bacurau, afirmou que dedicou sua personagem a Marielle Franco e fez a pergunta: “Quem matou Marielle?”. A grande plateia presente alternava gritos de “viva o cinema brasileiro!” e “fora, Bolsonaro!” durante todo o evento.

Essa reação do público já era esperada, não só pela escolha do filme Bacurau para abrir a edição deste ano, mas, também, devido às recentes declarações do presidente do Paísacerca de mudanças na ANCINE, prometendo a criação de um filtro (censura) que seria aplicado aos filmes que tentassem obter financiamento público e não agradassem às expectativas e critérios definidos por ele.

Estreando nos telões de todo o Brasil em 29 de agosto, Bacurau tem em seu encerramento uma mensagem afirmando que a produção deu emprego a 800 pessoas. É o mesmo número que apresenta “O Homem Cordial”, de Iberê Carvalho, que abriu a mostra competitiva na sexta. A quantidade de postos de trabalho gerados pelos filmes vem sendo reforçada pelos cineastas em Gramado e em diversos outros festivais do País para mostrar que o audiovisual é um setor de importância fundamental para a economia.

No palco, para apresentar Bacurau em sua primeira exibição pública em solo brasileiro, o diretor Kleber Mendonça Filho convocou o elenco e a equipe técnica do filme a se identificarem, pedindo respeito. “Bacurau é um projeto que venho desenvolvendo com meu grande amigo Juliano Dornelles e com minha grande companheira Emilie Lesclaux nos últimos 10 anos e, durante este período, a gente foi acumulando pessoas que foram entrando direto com outros profissionais. Somos todos aqui profissionais da área da cultura e queria passar o microfone para cada um deles dizer o que faz no filme e seu nome, com muito orgulho, porque somos profissionais da área da cultura e exigimos respeito!”. A cada apresentação, uma nova ovação e manifestações contra o presidente e sua política de ataques à cultura e, principalmente, à produção audiovisual.

O longa “Bacurau” – que venceu o prêmio da crítica em Cannes e também conquistou outros três prêmios, incluindo o de melhor filme no Festival de Cine de Lima, no Peru – retrata uma comunidade do sertão pernambucano invadida por atiradores estrangeiros e sádicos. O Filme fez a abertura do Festival em Gramado e foi elogiado intensamente pela crítica e pelo público que lotou os lugares do Palácio dos Festivais, onde são exibidos as obras participantes.

Logo em seguida foi exibido o filme O Homem Cordial, o primeiro da mostra competitiva nacional deste ano, que também contou com protestos no palco contra o governo atual. O mais incisivo veio do ator e rapper Thaíde: “Participar de um filme como O Homem Cordial, que conta uma história tão contundente e original, verdadeira, atual como esta, é também uma questão de responsabilidade. E um recado direto para aqueles que querem podar, que querem inibir o cinema brasileiro. Enquanto existirem diretores com a coragem de Iberê Carvalho, como tantos outros diretores no Brasil, vocês estarão perdidos. Nunca se esqueçam disto!”. Estrelado por Paulo Miklos, O Homem Cordial traz a história de um cantor de rock acusado pelo assassinato de um policial, após um vídeo amador viralizar na internet.

O drama adolescente sobre uma nadadora introspectiva que desenvolve uma rivalidade com uma colega, Raia 4 fechou a segunda noite de mostra competitiva sob fortes aplausos. Seu diretor, Emiliano Cunha, é um dos muitos realizadores que estão na serra gaúcha protestando contra censura no audiovisual, em reação às ameaças obscurantistas de Jair Bolsonaro de “filtrar” (censurar) o que pode ser fomentado pela agência.

A equipe do curta Raia 4, projetado também na noite de sábado em Gramado, disse que vai se inspirar em Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, para resistir contra a censura.
O alvo do presidente são as obras sobre assuntos que o desagradam pessoalmente, ignorando completamente a noção de que não é da alçada dele, nem de seus asseclas e nem de ninguém, essa função de “censor das artes”. Na quinta-feira, véspera do início do Festival de Gramado, ele citou produções que não deveriam ser aprovadas pelo órgão, a maioria com temática LGBT. “Alguns desses projetos que Bolsonaro quer censurar são de amigos meus. Nosso filme existe hoje, mas talvez não pudesse existir em 2020”, afirmou um membro da equipe do curta-metragem Marie, de Leo Tabosa, sobre uma mulher transexual que retorna ao sertão para enterrar seu pai.

O sucesso do filme Bruna Surfistinha, visto por 2,1 milhões de espectadores, foi citado como exemplo de filme cuja aprovação “seria inadmissível” pelo atual presidente reacionário.

 

Bolsominions agridem artistas que participaram de protesto no Festival de Gramado

 

"Mesmo sendo recebidos a gelo, nossa a energia continua. Esse filme de terror vai ter um final feliz. Esse vilão vai ser vencido. Menos Bolsonaros, mais Pacarretes", disse Allan Deberton, diretor do filme cearense que levou oito estatuetas e saiu consagrado do festival.

Em uma de suas edições mais politizadas, o 47º Festival de Cinema de Gramado, no Rio Grande do Sul, foi marcado por protestos contra o desmonte das políticas de fomento ao setor da produção audiovisual e contra a censura promovida pelo governo reacionário e neofacista de Jair Bolsonaro e também pelas agressões contra artistas que protestaram no tapete vermelho.

O longa cearense “Pacarrete” saiu consagrado do 47º Festival de Gramado, levando oito troféus, incluindo os de melhor filme (tanto pelo júri quanto pelo público), atriz (Marcélia Cartaxo), direção e roteiro (Allan Deberton).

“Enquanto nossos corações se abalam porque tem um vilão aí querendo nos destruir, permanecemos unidos. Mesmo sendo recebidos a gelo, nossa a energia continua. Esse filme de terror vai ter um final feliz. Esse vilão vai ser vencido. Menos Bolsonaros, mais Pacarretes”, disse o diretor do filme, Allan Deberton, ao receber o prêmio de melhor filme.

Deberton se referiu às agressões sofridas por artistas que foram covardemente atacados por uma camarilha de bolsonaristas enraivecidos que atiraram pedras de gelo e comida durante um protesto contra o presidente e seu governo na chegada ao evento.

“Eu estava com minha filha no colo, que não tem nem dois anos. Quando mostrei minha câmera, o agressor se escondeu. Faço um apelo: sejam simpatizantes de Bolsonaro, mas não recorram à barbárie”, disse Emiliano Cunha, diretor de “Raia 4”, eleito o melhor filme pela crítica, que foi vítima das doentias agressões.

 

Homenagem às Mulheres

 


Diversos discursos ao longo do evento destacaram a importância de denunciar e combater todo e qualquer tipo de violência contra a mulher seja ela física, moral, emocional, econômica ou profissional. Atores, atrizes, diretores, diretoras, técnicos e público se uniram num discurso uníssono em favor da emancipação total e completa das mulheres, principalmente nesse momento em que o índice de violência contra elas vem aumentando assustadoramente.

Marcélia Cartaxo, eleita melhor atriz por “Pacarrete” afirmou: “Dedico o prêmio a Pacarrete, mulher, artista e exemplo de resistência. Todo artista precisa resistir. Viva o cinema brasileiro. Aceitamos ajuda internacional: salve a Amazônia”.

“Pacarrete” é uma personagem inspirada na história real de uma mulher de Russas, no interior do Ceará, bailarina e ex-professora, que sonha em se apresentar na festa da cidade. Com voz estridente, grita frases desconexas pelas ruas — e é simplesmente tachada de louca pelos moradores.

“Por uma arte livre e sem censura!” Foi entoando estas palavras que um grupo de artistas e técnicos da produção audiovisual ingressou Palácio dos Festivais adentro, no tapete vermelho do Festival de Cinema de Gramado, neste ano de 2019. Estes protestos contra a política cultural de Bolsonaro e seu governo de retrocesso e desmonte, cuja uma das principais marcas é a censura, demonstraram que os artistas e profissionais da cultura e, principalmente, da produção audiovisual, do cinema brasileiro não irão deixar barato e sem reação esses ataques, não irão se calar. Vai ter resistência, vai ter luta!


Topo