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Crise na Itália


No último dia 20 de agosto, o então Primeiro Ministro da Itália, Giuseppe Conte, anunciou sua renúncia ao cargo. A demissão seguiu à moção de desconfiança apresentada contra o seu governo dias antes, em 8 de agosto, pelo vice-primeiro ministro, ministro do Interior do governo de coalizão na Itália, Matteo Salvini, que também é o líder da Liga Norte, partido de extrema-direita. Conte acusou Salvini de arruinar a coalizão política que o elegeu ao cargo, por interesses pessoais e políticos. Agora, duas possibilidades se apresentam: ou o presidente (cargo que é eleito pelos deputados e senadores), Sérgio Mattarella, forma um novo governo com base na legislatura atual ou convoca, imediatamente, novas eleições.

Conte, que é um jurista e professor universitário italiano próximo ao Movimento 5 Estrelas (M5E), uma espécie de centro no espectro político, chegou ao cargo de Primeiro Ministro italiano após uma coligação parlamentar entre a Liga do Norte e o M5E. Salvini, rompeu com a coligação, pois o partido da extrema-direita italiano está avaliando que é possível conseguir votos o suficiente para governar o País sem necessitar recorrer a formação de alianças com o centro político.


Ser de extrema-direita na Europa, na atual conjuntura, possuí duas premissas iniciais: ser contra a permanência do País na União Europeia (UE) e ser contra a imigração. Salvini não é uma exceção. Orgulhoso de ser chamado de populista, demonstra uma espécie de nacionalismo exacerbado. Suas declarações demonstram uma postura contrária a EU, a exemplo da entrevista veiculada pela Revista Veja, onde afirmou que o euro “é uma moeda fracassada, uma moeda errada, um experimento falido. Não precisamos de um homem forte. Mas precisamos de um país forte que não seja subordinado à Europa. Com sua própria moeda, por exemplo”. Defensor da “família, moral e bons costumes”, religioso fervoroso, é também extremamente xenófobo. Na mesma entrevista, disse: “Precisamos de centros de deportação. Estamos sob ataque. Nossa cultura, sociedade, tradições e modo de vida estão em risco”. 

O plano da Liga Norte, contudo, ainda possuí uma variável importante para que possa ocorrer. Caso a atual oposição, o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e o M5E formem uma coalizão política, pode haver a constituição de um novo governo, sem a chamada de novas eleições. A coligação contaria com a maioria na Câmara, mas ainda são nebulosas as posições partidárias.

O líder do PD, Nicola Zingarretti, impôs cinco condições para qualquer acordo a ser costurado: filiação leal à União Europeia; papel central ao Parlamento; desenvolvimento econômico baseado em sustentabilidade ambiental; mudança no tratamento dos imigrantes e mudança na política econômica para fortalecer investimentos. Resta saber se o M5E irá aceitar compor o governo com essas condições, sendo que, numa comparação com o Brasil, o partido atua como uma espécie de PMDB na Itália: oportunistas, preferem estar com a situação, independente do espectro político, costumando a ser uma correia de transmissão da direita para a política nacional.

Outra possibilidade seria tentar um governo institucional apoiado por todas as forças políticas, a exceção da Liga. Opção que colocaria a Força Itália, de Silvio Berlusconi, ex-primeiro-ministro, numa situação complicada, uma vez que a Liga e a Força seriam possíveis aliados nas próximas eleições.  Caso o novo governo não seja formado, novas eleições deverão ser chamadas para acontecer entre final de outubro e a primeira semana de novembro.


Fluxo e refluxo da extrema-direita 


Nos próximos dias, Mattarela iniciará as conversar com os vários líderes partidários em busca de uma “solução” para a crise política que a renúncia de Conte abriu. Na Europa, centro criador do capitalismo, os últimos anos foram de fortalecimento da extrema-direita. 

Enquanto no Leste Europeu, a maior parte dos poderes executivos nacionais, na Europa Ocidental não percebemos ainda a presença de presidentes ou primeiros-ministros de extrema-direita. Porém, a situação não é menos alarmante. Na França, apesar da derrota da fascista Marine Le Pen nas últimas eleições, seu partido cresceu em números de cadeira no parlamento. O mesmo vale para Alemanha e Holanda. Na Espanha, a extrema-direita conquistou assentos no parlamento pela primeira vez desde a queda da ditadura fascista de Francisco Franco, encerrada em 1973. Boris Johnson, que assumiu o cargo de Primeiro Ministro da Grã-Bretanha em julho deste ano, após a renúncia de Teresa May, defende o Brexit, que significará a saída do País da União Europeia, e é colecionador de falas xenófobas. De fato, em toda a Europa, apenas Portugal, Irlanda, Luxemburgo e Malta não possuem membros de extrema-direita em seus parlamentos. 

Seja na Itália, na Europa ou em qualquer parte do mundo, a extrema-direita é a última arma historicamente utilizada pelo capital antes da abertura de guerras de largas proporções que destrua a produção e crie um novo ciclo econômico. Em profunda crise desde 2008, o Capital, mais uma vez, lançou esta carta. Retirada de direitos dos trabalhadores, privatizações, crescimento de conflitos sociais, propensão a guerras e aumento da exploração do Terceiro Mundo são os sintomas mais claros desta ascensão. Para que haja um fim desta injusta forma de gerir o mundo, não há outra solução que não passe pelo fim do capitalismo como sistema político-econômico.
 


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