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Trump e a retórica do ódio

Mais um dia, mais um massacre nos Estados Unidos. Ou no caso, dois: no último sábado, dia 3, um homem, reconhecidamente pregador da supremacia branca, entrou em um supermercado lotado na cidade de El Paso, próxima à fronteira dos Estados Unidos e México, e abriu fogo contra a multidão, matando 22 e ferindo dezenas. Pouco depois, outro supremacista branco, agora na cidade de Dayton, no estado de Ohio, do outro lado do país, entrou em uma região de bares da cidade e disparou contra os presentes, matando 9 e ferindo mais 27 pessoas.

Embora a imprensa burguesa tente apresentar esses indivíduos que promovem morticínios como portadores de problemas psicológicos, ou qualquer coisa nesse sentido, fica cada vez mais aparente que se tratam de terroristas reacionários e e, nos dois casos citados acima, ligados aos movimentos de supremacia branca.  O ponto central para o crescimento deste tipo de atentado é o “elefante laranja” em frente ao nossos olhos: a presidência de Donald Trump, e seus imitadores lambe-botas pelo mundo afora. São eles que perpetuam discursos de ódio contra imigrantes, negros, mulheres e homossexuais como alternativa para massacrar política e economicamente uma parte significativa da população.

Exemplo do aval que Trump dá aos morticínios foi o episódio da morte da ativista Heather Hayer em 2017, atropelada por um neonazista durante um protesto antifascista, contra a supremacia branca, em Charlottesville (Virginia), nos EUA. Sobre o fato, o presidente estadunidense disse que “havia boas pessoas de ambos os lados”, isto é, que o que difere fascistas de antifascistas são apenas as opiniões divergentes. Com esse tipo de retórica, Trump diz ao o mundo que o fascismo não seria violento, mas apenas uma opinião política. O que, evidentemente, não é o caso: o fascismo é uma ideologia de ódio que, através de assédios e ataques de rua, cria um terror de massa sistemático com objetivo de atacar as organizações dos trabalhadores ao ponto de deixá-los enfraquecidos e desencorajados.

Nas sociedades ocidentais contemporâneas, marcadas pelo escravismo e por outras consequências da sanha imperialista, o racismo e a xenofobia contém os ingredientes perfeitos para levar adiante a opressão fascista sobre grande parte da população. Com esse aval “discreto” de Trump, os massacres agora passaram a refletir um novo modus operandi fascista: primeiro, o assassino solta um “manifesto”, no qual ele expõe os seus incômodos. Geralmente, trata-se de algum tipo de condenação ao imigrantes que estariam roubando os empregos dos “brancos” ou planejando substituí-los por meio de alguma conspiração absurda. Depois, o assassino pega armas de assalto e abre fogo sobre algum evento em que ninguém esperaria um crime desses.

Um dos mais notórios desses massacres foi causado em 2011 por Anders Breivik, na Noruega, quando ele matou 69 pessoas, quase todos jovens ativistas de esquerda, após soltar um manifesto justificando seu ato. Em março deste ano, a temática se repetiu no massacre de Christchurch, na Nova Zelândia, em que um australiano de 28 anos, portando metralhadoras AR-15 matou 51 pessoas e deixou dezenas de outras feridas em duas mesquitas. Ele mesmo filmou e postou a matança em redes sociais O assassino de El Paso, mencionado no início da matéria, inspirado nesses exemplos também divulgou um manifesto antes da matança.

Não nos enganemos: os morticínios parecem ser aleatórios, mas nunca o são. A tendência é que com esse aval do presidente da maior potência militar e econômica do planeta, mais e mais neofascistas vão pegar em armas para mostrar ao mundo a verdadeira face da sua ideologia. Isso não pode ser tratado como “problemas individuais” motivados por dilemas pessoais incompreensíveis. O que está por detrás desses ataques e os impulsionam é um projeto político, cujo fim último é a destruição de seus opositores e de todos que ele rejeita.


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